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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A digitalização da coisa



No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi



Temos sempre imensas reservas, em falar com naturalidade, (não por nós, mas no receio de julgamentos discricionários de terceiros, mesmo quando fazemo-lo com ortometria, significando no caso a não utilização de palavrões) sobre algo que devia ser encarado e falado com despojamento, e que entretanto, se fala à socapa, não entendendo eu porquê, integrando essa atitude no capítulo, nada honorável, da hipocrisia: o sexo como orgão e como actividade. Eu, porém, fui ganhando alguma naturalidade, não tanto quanto gostaria, no aprendizado, adquirido nas leituras, principalmente dos escritores que de forma frontal e despudorada, escrevem.  Nós, ainda e infelizmente, fazemos parte daquelas sociedades, imbuidas de falso moralismo.

Li ou ouvi, citando-se um psicólogo, algo como; se fotografares o pensamento de uma mulher, a imagem que obtens é de uma criança, e se fotografares a mente do homem, a imagem que encontras é de uma mulher, e alguém acrescentou, preferencialmente nua. E conferindo veracidade à essa afirmação, salvo pouquíssimas excepções, nas conversas  de amigos: homens casados, solteiros, viuvos, divorciados, a tónica da conversa é essencialmente a mulher, e dando razão ao acrescentador, nua.

E foi na senda desse conhecimento, que não me surpreendi, estando eu num país estrangeiro, usufruimdo de uma bolsa de estudo, no qual estavam alunos de diversas nacionalidades,  encontrar-me, numa reunião espontânea, multinacional, numa conversa tipicamente masculina, tal e qual as minhas conversas de bairro, falando da mulher no seu símbolo maior: a coisinha. E a coisa era tratada na perspectiva de fidelidade e traição, atendendo ao considerando tempo e distância, como particularidade da realidade que a nossa situação nos impunha. E eu, no meu ar mais racional, e despreocupado, porque solteiro, dizia que a traição não devia ser focalizada, no sentido reducionista de sexo, e que quanto a mim, a mais grave era a sentimental, e não, como a potencial, nessa circunstância conjuntural,  aquilo que supões que é teu, ser usufrutado por outro. E um outro colega, na mesma linha de pensamento, acrescentava, que era perfeitamente compreensível, que a traição acontecesse, devido a distância que nos era imposta, naquela vertente situação. Lixem-se, disse claramente um outro, isso porque piripiri no olho do outro pode dar aso até a filosofia ou mesmo a anedota, mas que ele não aceitava isso, e argumentou que o nosso posicionamento era ditado pela circunstância de solteiros que éramos. E sentenciava que era tão verdade que a traição consumada era tão destruidora, que como sabíamos, no país onde estávamos, em função das migrações, o índice de divórcio ia disparando. Discussão que levamos tarde adentro, numa filosofia misturada bastas vezes com recorrência a exemplos do dia à dia, até que se notou que um de nós, se manteve calado e aparentemente ausente da discussão. 



                                                                           Password


Alguém intrigado com aquela apatia, questionou se o absentista estava tão alheio porque seguro, e para tal se havia recorrido ao velho e histórico cinto de castidade. Mudam-se os tempos, não mudaram as vontades, mas os recursos, disse o ausente, para continuar, eu quando saí de casa, saí descansado, posto que pus um conta quilómetros e no regresso terei informação exacta dos fenómenos acontecidos por lá e perante factos, posso tomar a decisão correcta e indiscutível. Rimo-nos com a criativa imaginação, para um outro, na mesma bitola e diapasão, afirmar, Sabes que isso não é fiável, já porque mesmo nos carros, pode-se desligar o conta quilómetro, por isso, não apenas jogando no seguro, como sendo mais contemporâneo com a modernidade e a tecnologia, digitalizei a minha e pus um password, ninguém tem acesso. Depois de uma valente gargalhada geral, numa espécie de humor negro, eu numa de remate, recordei aos presentes, que não havia password nenhum, eficiente, que não fosse a vontade da pessoa, posto que fora isso, tanto quanto nos computadores e sistemas, mesmo dos pressupostamente mais seguros, havia hackers, que conseguiam ter acesso. Foi uma risada geral.

Mas sendo sincero comigo mesmo, num pensamento surrealista, pensei, se nesses novos tempos do HIV/Sida, se esse pressuposto impossível, fosse possível, não seria talvez motivo de drástica redução, ou mesmo colocando um anti-virus, do tipo  Kaspersky ou Norton, não seria a chave do sucesso do combate e talvez gastássemos menos do que se gasta actualmente, com maior eficácia e eficiência. Ri-me interiormente, riso que se manifestou por fora, num sorriso malandro, que levou um dos presentes a perguntar-me, qual fora a ideia brilhante que tivera. E eu... nada, nada!!



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os preconceitos dos julgamentos mundiais



No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@gmail.com
por Lo-Chi

                                                                                            Chegou a altura no ocidente de defender
                                                              não tanto os direitos humanos,
                                                                 mas sim as obrigações humanas
                                                                                                                   
                                                                                                                       Alexandr Solzhenitsyn

Meu livro de cabeceira do final do ano transacto foi a “ A era da mentira”, na altura recentemente editado em Portugal, da conhecidíssima figura da arena mundial, Mohamed Elbaradei, o qual foi Director Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA, e laureado com o prémio Nobel da Paz de 2005. Um livro que veio à calha, na melhor altura, posto que complementava o que acabava de ler e fiz referência, aqui nesta coluna, também na altura recentemente editado,  cujo título referenciei “ 21 discursos que mudaram o mundo”. Esses dois obrigaram-me a ir ao meu escaparate e puxar por um terceiro, cuja leitura remotava o longínquo ano de 1994,  por aí, cujo o título é “ Nos bastidores da ONU” do Hermane Tavares de Sá, obrigando-me a uma releitura.

Comecemos pelo último livro aqui referenciado, que diz na sua pag 62 “... quase nada na ONU é o que aparenta ser,...” e mais adiante na pagina 72 esclarece “ Washington será sempre capaz de fazer com que as Nações Unidas adoptem uma determinada política, desde que a sua própria determinação não vacile”. É importante reter essa informação. Deixo esse livro e remeto-me ao “21 discurso que mudaram o mundo”, para me recordar do trecho do discurso do Dwight Einsenhower, presidente dos Estados Unidos, que no seu último discurso como presidente, chamava atenção para a sociedade americana, para o perigo do triângulo de ferro, constituido pelos; lideres militares, a industria militar e o governo, a chamada “elite do poder”, ou simplesmente o complexo militar-industrial-congressional, que segundo ele “exerce uma influência significativa na decisão de políticas civis e nos processos de contratação militar, e no entanto actua quase sempre fora do alcance do controlo democrático, perseguindo os seus próprios interesses”(pag 288). Voz de alguém, por dentro do sistema, falando com propriedade, sobre toda essa nefasta influência e dos perigos adjacentes à circunstância. Se tomarmos em linha de conta, que os Estados Unidos são os que suportam uma grande parte do bolo do orçamento da ONU, e esquecendo o benefício ou retorno, se quisermos, que a cidade da Nova York tem em termos de in put de receitas com a localização da sede da ONU neste local, e centrarmos no aspecto suporte orçamental, e tomarmos em consideração a força dos americanos na ribalta onuista, poderemos imaginar a influência que essa élite do poder estadunidense tem sobre a ONU.


Volto ao Elbaradei e vou encontrar no seu livro, a assertação de que toda a informação justificativa para a invasão do Iraque, foi uma informação ora deficiente, ora deliberadamente selectiva, quando não fosse deliberadamente errada (pag.108), aliás, confirmada  na pagina 110 do mesmo livro, quando referindo a entrevista concedida pelo o senhor Dick Cheney ao programa Meet the Press, da MSNBC,  disse e cito taxativamente “nunca tivemos qualquer prova de que Sadam Hussein tivesse adquirido qualquer arma nuclear”. Daqui podemos concluir, que toda uma guerra, que ainda está no seu rescaldo com vítimas aos milhares, tiveram o seu propósito e justificativas falaciosas, foi apenas para servir os interesses privados, com uma caracter eminentemente imperialista e de genocídio. Autenticamente um crime contra a humanidade. Complementado com outras informações que recebemos, como as causas reais  da invasão à Libia, que foi na realidade o petróleo de altíssima qualidade que espicaçava os apetites vorazes, bem como a indiferença em relação à Síria, onde se massacra populações, indicam-nos o móbil de muitas acções. Por tudo isso, não sou capaz de desfaçar o tremendo asco que sinto dos julgamentos mundiais, e ao mesmo tempo, fazem-me compreender, a procura quase desesperada de alguns paises, de se potenciarem com armas de destruição massiva, porque este mundo é decididamente do mais forte. Dois pesos duas medidas; um conceito que serve para uns, não serve para outros, e assim por diante. No fundo, bem no fundo, reina um pouco a lei da selva de um único sentido, quando lhes apetece e seus interesses estão em jogo.  E surge-me a pergunta: Onde esteve, ou está o tribunal penal internacional? Qual a diferença do Bush e o Blair, de Charles Taylor para essa descarada imunidade? E aqui volto ao Elbaradei que diz no seu livro, e cito com reverência, “ se queremos viver sobre o império da lei, então a acusação de crimes de guerra não deve limitar-se àqueles que perdem, ou aos oriundos de regiões pobres e há muito oprimidas. As normas legais para manterem a sua legitimidade, devem ter aplicação uniforme.” Consequentemente, com um misto de emoções que me revejo no julgamento do Charles Taylor, ex-presidente da Libéria. Se o Tribunal Penal Internacional, não é um Tribunal de Menores, tendo em presença acções tão iguais se não piores aqui referidas, de Bushes e Blairs, este julgamento é justamente injusto, ou se quisermos, particularmente justo e globalmente injusto e insultuoso, e acima de tudo ilegítimo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O macaco que adorava calcinhas



No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi




Numa tertúlia de amigos, o Nazaré saiu-me com a história rocambolesca de um macaco, que para os lados de Mualé em Inhambane, quando das suas investidas, nas casas, lá para zona, incluindo a Mafurreira e Santarém, de cada vez que invadia os quintais e encontrasse no estendal roupas, ainda que em presença de cuecas, apenas se dedicava em recolher calcinhas. Desconfiado da veracidade do insólito, perguntei como é que o meu caríssimo amigo sabia do facto, e se não era uma daquelas petas que diariamente nos contam. E ele, peremptório, afiançou-nos que ouvira a história, na Rádio Moçambique, no Café da manhã. Para conferir da veracidade, já porque o meu rádio anda, de uns tempos a esta parte, fora de serviço, indaguei, se era uma crónica, decerto que o leitor sabe porquê, e ele adiantou-me que era uma reportagem, com depoimento das lesadas, despachada a partir da terra da boa gente. Não só porque tenho na minha conta, que o Nazaré é um indivíduo de porte imaculado, em termos de compromisso com a verdade, como também pelo local onde trabalha, vou dando, no mínimo, por verosímil o facto contado. Acrescentou ele, que da última vez, o macaco agredira uma senhora. Ao que perguntei, se a agressão fora sexual, tendo-me respondido que fora puramente física, já que despachara um soco, que fora directo as fuças da incauta madona.









Foto de Lo-Chi





Tanto quanto se pode ver, esse macaco não apenas gostava de calcinhas...adorava coisas boas.











                                                                                             Foto de Lo-Chi

O facto, o último, intrigou-me e levou-me a diversas perguntas, das quais uma ficou-me martelando, posto que encontrava uma estúpida contradição no comportamento do bicho. E a pergunta que não parava de me atormentar, era a razão de que, se ele apenas gostava de calcinhas, como e porquê, em face de uma mulher,  foi agredi-la. Depois de muito cismar, acabei encontrando aqui, não a explicação, mas o paralelismo de muito símio de semelhança humana com comportamento similarmente simiesco. A explicação encontra-se nos antepassados, um pouco na linha do pensamento: diz-me de onde vens e entender-te-ei melhor.

Porém a história não ficou por aqui, o Nazaré foi-nos informando que houve um movimento feminista, ou talvez sexista, que se quis cívico, até nos garantiu que foi o mesmo que se rebelou contra aquela publicidade da preta de malte, que trazia, supostamente, uma mulher quase nua com uma nota nas partes desguarnecidamente íntimas, vejam só. E que também, desta feita, contra o macaco, fizeram uma campanha, instando as autoridades a condenar exemplarmente o nosso mais próximo ascendente, sob pena de se ter uma marcha nacional, com o propósito de pressionar  o  judicial. E dizia o Nazaré, que devido a força e o protagonismo da organização cívica feminista, que está com um poder nunca antes visto, as autoridades com uma velocidade de luz, quase a mesma da cervejeira, fizeram um julgamento sumário ao símio, do qual resultou em sentença de morte, sem direito à apelação, pelo que o macaco foi sumariamente fuzilado. Podemos dizer em resumo: uma acção constitucional, inconstitucionalmente respondida. Por isso, ponham-se à pau os símios que sobraram.



                                                                    

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Parem o mundo, eu quero descer!!!





No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi






Tempo faz, e que tempo, ouvi esta frase de um conhecido. Na altura, não percebi bem a dimensão do grito, do apelo, e quão desesperante mensagem, ela encerra.

Já fez alguma viagem de barco, em pleno mar alto, e apanhando aquele enjoo que lhe traz irremediavelmente vontade de tirar tudo, e tirando; comida, líquidos, estômago, até aos intestinos, e se pudesse, até a alma se mandava para o diabo; e  aquele mal estar, mesmo assim não passar?! Não queira, não queira porque, para além da sensação desagradável, é desesperante, pelo psicológico, de não poder desistir da viagem, na prerrogativa que tem, numa viagem terrestre, quando não lhe agrada uma condução, poder pedir para descer. A viagem de barco, não; dá uma  sensação, que só, quem nela esteve, compreende.

Quem veio ao mundo, e nele não se adapta, é o mesmo! Achando este cruel, desagrada, mas não pode desistir, com agravante de ter sido posto, sem ter pedido. Impõe-se-lhe condições de vida, de sobrevivência, tão desgraçadamente cruéis, igual a alguém, que metem-lhe num jogo em que não conhece, nem as regras, nem quem as dita.

Mundo cruel este, onde entre dicotomias estás sempre encurralado. Vê só, no dia a dia, mesmo não sendo político, estás encurralado entre o governo e a oposição. Queres ser um cidadão pacato, não te deixam, complicam-te a vida, põe-te onde não estás, dizes que és apolítico, e lá vem eles com o; se não estás connosco, és contra nós. Merda! Dizes tu, e as tantas, não sabes para onde te virares, e mandas mentalmente para o pqp, como diziamos na infância oprimida, ou mais polidamente: que vá para megera sua mãe.

Se deixas a política, e entras no social, tens por um lado, os abastados, carrão ostensivamente provocador, casa não, mas palácios, muro alto, se isolando, despreocupação completa e chocante com o que lhe rodeia, auto-suficiência, e ficas...ficas, entre ele e o pobre. Se aquele, destituido de consciência, este, o pobre,  destituido de meios, de tal jeito, de fazer dó; mas ao mesmo tempo, metediço, fofoqueiro, com inveja de fazer náuseas, procurando e explorando a dor de outros, para ver se igual ou maior que a dele. E aí, põe-se-te a questão, da honestidade e do vale tudo. Que opção, perguntaste. Inteligência ou esperteza? Burrice ou rectidão? Bondade ou frieza? Oportunidade ou oportunismo??!!

Se pudesses, ao menos solidariedade e outras coisas que tal, encontrar naquele recanto onde a maior parte do tempo passas o tempo, o emprego, talvez algum alento encontrasses para continuar nessa luta titânica e sem quartel. Mas aqui, tal e qual resumido e mais intenso, encontras com uma ferocidade redobrada. E aí fica legítimo dizer: parem o mundo, eu quero descer!

O político e a suas inatas qualidades


No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi






O político é a antítese da sua declaração. Tudo que ele diz, que não, é sim. Por isso, o termo politicamente correcto. Politicamente correcto, é falar aquilo que não pensas que é, mas que convém, principalmente, ao político. O correcto para o político é a mentira.

 Exemplificando, os políticos são uma espécie da raça humana, minto e rectifico, uma espécie de raça animal, a mais racista que se pode encontrar, se olharmos para a generalidade. E se  nos concentrarmos em África, além de racistas, eles são os mais tribalistas de todos os tempos. E são eles mesmos, que entretanto na sua estratégia enganosa, fazem um discurso contra isto e aquilo, apregoando igualdades e tais, porém, montando estruturas, sistemas e circunstâncias quase impossíveis de na prática as raças (tribos) menos preponderantes, em número, ou capacidade económica, atingirem lugares cimeiros no poleiro governativo, ainda que com competência reconhecida, porque estes só servem, quando para lhes dar o respaldo, nas suas subidas e realizações. Não nos esqueçamos, que uma das grandes virtudes do político é o cinismo, com uma boa dose de hipocrisia. Vamos ser sinceros e com verdade responder a esta pergunta. Podemos sequer imaginar em Moçambique, amanhã, um Chefe de Estado branco? A resposta mais evidente será que; sim, se for um político talhado nesse dia para a hipocrisia, e irá justificar com o facto de estar consagrado na Constituição; não, se estiver com uma boa dose de cinismo, e justificar-se-à, com o povo não está preparado, saimos agora de um processo de colonização etc. e tal, todos eles a quererem dizer a mesma coisa, mas sem evocar a razão verdadeira e única. Mesmo no país mais democrático do mundo, segundo opinião generalizada, um dos primeiros a conceber um negro no lugar mais alto do poder, nos Estados Unidos, foi um escritor, e isso porque o intelectual olha desprostituidamente para o homem, na sua dimensão humana, de qualidades, virtudes e defeitos. E foi assim que o Irving Wallace, branco importa frisar, nos brindou nos anos 64, um personagem que deu o nome de Douglas Dilman, no seu livro, O Homem, e criou um trama tal, em que um negro retinto foi parar, pela primeira vez, bem antes do Obama, na presidência da grande potência que é a América. E isso só em livro foi possível, mas também conhecendo a realidade, mesmo na ficção, só aconteceu, porque nas probabilidades mais febrilmente animadas, estava fora de hipótese acontecer, na hierarquia em que o Dilman se encontrava, mas o improvável aconteceu, e também porque era os Estados Unidos, em que sempre que esteja evidente e sem outra saida, cumprem a lei, mesmo que contrariados. Porque sendo aqui, em África, como temos vindo a assistir, inventariam um triunvirato, colégio, ou um governo de unidade nacional, senão mesmo uma de transição, com a desculpa mais esfarrapada, rasgando a Constituição se necessário fosse. Além dos exemplos mais recentes, Guiné Bissau, Mali, como também temos o do vizinho Malawi, que por pouco não passaram a perna a senhora Joyce, não fosse ela ser política também, poderemos recorrer para exemplificar a digníssima e justificadíssima manobra do Zimbabwé. Mas, mesmo nos Estados Unidos, na realidade, hoje, só foi possivel, porque o negro, que não é negro, entrou pela mão de um branco, o senador Kennedy, e graças as suas qualidades bem evidentes, mas mesmo assim o esforço que lhe foi requerido, foi quase o quíntuplo dos outros, tudo isso por mera questão rácica. Contudo, nada disso tem haver com a população, porque como vemos, quando alguém consegue chegar a probabilidade de ser votado, a população fá-lo normalmente, sem preconceitos. É problema do animal político.

Quando o político fala abaixo, por exemplo, dá-me sempre a sensação, que pensa, isto aqui é sacrossanto e erga-se, faz parte da minha forma de ser e sobreviver, e di-lo, para confundir e parecer. Quando o político sorri, dificilmente se sabe, se é sinal de alegria, ou a exteriorização de um descontentamento, por se lhe ter oposto. Político a gargalhar, nunca jamais em tempo nenhum, e se porventura acontecer, cuidado. Até a gargalhada, um dos sinais de exteriorização emocional verdadeiro, nele, sai corrompida. Na maior parte das vezes, o político fala ao contrário do que pensa genuinamente. Quer seja, falar, contra o racismo, contra o tribalismo, e hoje por hoje, a corrupção. E a propósito deste último item, olhando para as circunstâncias domésticas, para mim, o nosso Parlamento só veio comprovar a opinião que se tem dos políticos. Estão contra a corrupção, mas retiram todos os instrumentos que torna possível prevenir, verificar até combater. Estou a falar do Código de Ética do Servidor Público, cujo teatro tétrico nos brindou a casa da representatividade, com argumentos falaciosos, mudanças de nomes e coisas que tais, mostrando a verdadeira face do político. Depois, admiram-se com o desencanto generalizado da população mundial com a política. Aliás, eles até gostam desse desencanto, que lhes serve à medida. Com o político nada é definitivo, um mesmo acto, aqui e agora, varia de avaliação instantaneamente. Se for a seu favor é um acto, de visão, de coragem, de fidelidade a pátria,  e essa pátria é ele mesmo, um acto heróico; e se não for, ainda que um problema de visão diferente, e não necessariamente de menor qualidade de análise, vira traidor, vendilhão e coisas que tal. Com o político o que é condenável hoje, não é necessariamente amanhã. No nosso caso africano, o mesmo acto, se for praticado por ele, está em busca de investidores para o desenvolvimento do país, se for praticado por outro, está a vender a pátria, está a levar-nos para o retorno ao colonialismo.

Quando o político começa a invadir outras áreas tradicionalmente ocupadas pelos técnicos, essas áreas começam a ficar politizadas e consequentemente infestadas com as qualidades inatas dos políticos. Começa o acidente social. Se a Função Pública politiza-se, começa a disfunção, grassa a corrupção. Se o juiz é político, irremediavelmente o judicial fica politizado e aí a lei é golpeada, impera o lobby e a trafulhice; não há procuradoria que o encontre. Se o gestor empresarial é político, está lixada a empresa e a economia, porque começa a ficar contaminada. Nem sequer precisa exemplificar, de tão recente que estão os exemplos domésticos. Confesso honestamente, não sei qual deles o mais pícaro; o político ou o chimpanzé??!! Em tudo o político é um processo de auto-destruição como homem que parece. Veja o destino que está a dar ao planeta, numa casmurrice sem precedentes, pensando ele, que está imune as alterações da natureza!      



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Cabrito transportado como gente... e gente transportada como cabrito!

                                                                                                Foto de Lo-Chi
                                                                                                Foto de Lo-Chi

O interessante desse nosso surrealismo existencial, não está apenas no que as imagens nos dão, mas sobretudo no final da história desses factos rocambolescos. Na passagem pelo controlo, de um dos diversos existentes pelas nossas estradas, o cabrito acabou multado, não sei se por não ter carta de condução, ou por falta de guia das autoridades da agricultura, ou se considerado descaminho pelas autoridades tributárias -- vá lá saber-se de onde vem esse cabrito, e que fronteiras atravessou --, ou talvez vítima do cabritismo??!!. E esse camião...passou imune, quiçá por parecer normal aos olhos da nossa Policia de Trânsito essa forma de viver na corda bamba. Talvez até os tenham incentivado com um grito sonoro e hilariante: homem da terra não treme! Só que para além de um homem, está um jovem e uma criança. Talvez se encontre a justificação no: é de pequeno que se torce o pepino! E que pepino...um pepino de todo o tamanho!!!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O assassinato do embondeiro

                                                                                                                                           Foto de Lo-Chi

Não sei se acusado de feitiçaria, como se está tornando praxis, o pretexto para sumariamente eliminarmos os anciões, verdade porém, é que o município de Nampula, num gesto parricida, sem apelo nem agravo, contra tudo e o ambiente, eliminou sumariamente este centenário ancião sem julgamento, ainda que sumário, nem peso de consciência.
Imagine (imaginar?, isso cansa para o diabo!) uma rotunda, protegendo-o. Ganhar-se-ia uma imagem de uma beleza invulgar. Mas beleza para quê? Se a nossa prioridade é o combate a pobreza! Também convenhamos, a árvore e a rotunda não permiteriam decerto os ferraris passarem a velocidade prudentemente assassina. Matando...eliminam-se os pobres. Raciocínio imunicipalizado.

Filosofia avulsa




                                                                                  
                                                                                
Nas estradas de Moçambique não apenas correm os carros, como escorrem pensares, registados nos veículos, os chapas e os camiões sobretudo, que estampam nos seus vidros para-brisas ou nos para-choques, frases que nos conduzem à pensamentos, filosofias e experiências  de vida.

Por incrível que pareça, quantas dessas frases não me fizeram meditar, tanto quanto outras levaram-me ao recesso da minha consciência, outras ainda à amigos vivos e falecidos, recordando momentos. As mais inspiradas e filosóficas impuseram-me uma meditação sobre a vida. Por exemplo, “Andar é maningue arriscado” e “Quem anda no atalho, não tem medo”, frases que me puseram procurando a profundidade da mensagem, as quais, à partida podem parecer absurdas e descabidas, mas plenas de verdade. Outro exemplo, estas duas “A tua inveja é alavanca do meu sucesso” e a similaríssima, “Sua inveja faz a minha fama”, fizeram-me encontrar nos enunciadores, uma forma pragmática de encarar aquilo que muita gente veria como um empecilho, o invejoso, e talvez perdendo tempo e paciência com quem não deviamos, porém o filósofo tornando-o factor de estímulo. Mas, determinismo e simultaneamente de uma verdade demasiadamente crua, diria até cínica, encontrei nesta frase mordaz ”Pobre não zanga” e percebendo na frase, uma elisão ou mudança intencional do modo de conjugação verbal, e olhando ao redor, para os homens, bem como para as nações, concluo que, no fundo, bem no fundo, aí está uma verdade dura, mas incontestável. Outra, não menos cínica, com um conteudo, por um lado prático, mas por outro desviante, foi esta sentença maquiavélica, que vi no para-brisa de um camião de longo curso “Quem não engana é enganado” tendo o mesmo me levado, para o princípio de um falecido amigo, que me dizia repetidamente, “Quem não aldraba está morto”. Também encontrei frases sem o cinismo pragmático, que a vida muitas vezes nos dá por lição, e nesse,  frases bem no jeito dos que estão alinhadas com ensinamentos bíblicos, como por exemplo” O senhor é o meu guia” “Viver sem amigos é morrer sem testemunhas” e outra, encorajadora para os momentos “downs”, dando alento, para encararmos os momentos menos bons da vida, muito na linha de, depois da tempestade vem a bonança, expressa de uma forma mais trabalhada e diz, “Os bons e maus momentos tem o seu tempo de glória”. Outras, com sentido angélico da vida, determina, “Uma verdade é uma virtude, que nem nascimento de uma criança”. Contudo, um desses dias, dei de caras com esta simples, lacónica, mas cheia do nosso processo histórico, retratando cruamente a nossa passada realidade, e li, “Se não fosse eu”. E no mesmo clique, apareceu-me na mente a cor verde, e fiquei com narina inundada com odor a repolho. Encontrei num vidro, bem orgulhoso, não sei se da máquina, ou das habilidades do motorista, este desafiante pronunciado, com tom a fanfarronice, que me levou a querer ser, naquela hora, policia de trânsito, para lhe dar um xeque mate merecido. Dizia o palavreado “ I don’t drive fast, I fly low”( não conduzo com velocidade, voo baixinho). Para além dessa vontade de ser policia, recordou-me aquela espécie de publicidade infeliz, de uma empresa de transportes, que acabou minguando e desaparecendo, muito por culpa dessa filosofia, expressa nos seus autocarros, que dizia qualquer coisa como, voe connosco na terra, e os acidentes foram acontecendo e levaram-na para os céus da falência. Compensando todos esses desensinamentos de apologia a velocidade excessiva, vi estampado num carro uma frase em lomowé, de uma verdade e pragmatismo pedagógico, cujo conhecimento carece divulgação para os tempos que correm, e a mesma rezava, “Mahala whipha” à letra significa, (o que é de graça mata), porém, sendo um ditado ou provérbio, tem um significado profundo, com possíveis interpretações, que tem muito que ver com o esforço e a valorização, ou a fraude e o resultado, tardio ou imediato, mas infalivelmente nefasto. Bem vistas as coisas, temos nas nossas estradas autênticos compêndios de filosofia de vida. Para finalizar os meus registos, termino com esta bem criativa, que estava estampada no vidro de trás de um chapa, o qual só noto após uns largos minutos de ter estado atrás dele e quando leio, sou coagido mentalmente a ultrapassá-lo: “Não me persiga, que eu também estou perdido”. Coisas de estrada.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O complexo napoleónico, contrariado

No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi


O complexo napoleónico, contrariado



Não apenas na física, estudamos o princípio da atracção dos contrários, onde vimos que o polo negativo atrai o positivo, mas também em filosofia, no materealismo dialéctico, falamos na unidade dos contrários, e parece que, no fundo bem no fundo, a vida se vai regendo por esse princípio, e até nas pessoas, se vê a rodo, feios se casando com bonitas, mulheres atraidas por homens, matrecos com as do espírito aberto, straights com speeds, velhos se engraçando por adolescentes,  coisas lógicas e outras absurdas, um pouco ou muito, encobertas ou justificadas no princípio da atracção dos contrários.

Ao que parece, o único que resiste a unidade dos contrários, e se rege tão dialecticamente quanto não parece, é a raça. Dialecticamente unidos na repulsa: o branco e o preto.

A propósito dos  contrários, confesso que durante largo tempo, eu que sou de uma altura muito para além do médio, logo, alto de verdade, tive a tendência de me apaixonar por mulheres baixinhas. Mas depois me perdi, e andei por todas: largas, magras, baixas, altas. Fui tentando contrariar o princípio.

 Mas, se o princípio até é comprovado, em diversas matérias e ciências, mas o que parece trazer, como se absurdo, a reacção, mais de inveja do que de simples satirização, de incredulidade, é quando o contraste do homem focado, nesse caso, é mulher que tenha um corpo de parar o trânsito. Vem logo um, com tamanha dor, naquela parte de osso chamado cotovelo, com o típico comentário: será que este tipo tem pedalada para aquela bomba, terá unhas para tamanho avião? Quantas vezes, não na dúvida, mas  na certeza, explanada não na pergunta, mas na afirmação negativa!!!

E na esteira desse tema, estava uma vez, numa larga conversa, numa roda enorme de amigos, de entre os quais, uma latina-americana gozona para caramba, e drenava-se, no entretanto, o comentário de uma paixão de um baixinho, com tendência para o anão, por uma madame, largamente mais alta, não apenas do que ele, como do comum ; e alguém falava do complexo napoleónico dessa relação, e o amigo do baixinho, falava da naturalidade da paixão do visado, e a matreira da latina, vira-se para o defensor que por sinal também era baixinho, e diz, calma e suave, de tal jeito que bateu em mim, conhecendo-a como a conheço, que trazia água no bico o que vinha a seguir, Não, aquele teu amigo não tem complexo napoleónico, tens razão!, viu-se um clarão de esperança nos olhos do defensor, sustentando-se no sinal de apoio, ainda por cima, vindo de uma mulher, O teu amigo tem sim, fez um compasso a matreira malvada, é complexo de afogamento, e outro um pouco intrigado, Complexo de afogamento?!!, perguntou atónito, e quase gritávamos em coro, porque atónitos estávamos todos nós, esperando por uma nova teoria freudiana, e ela com aquela suavidade e ingenuidade dos de verbo acintoso, diz, Ya, isso, complexo de afogamento, porque ele sofre de um receio de, quando chover, se afundar nas poças de água, então aí, pensa que terá a esposa para  lhe levantar, e safar do  afogamento eminente .  Fico por aqui, e mais não digo, caros leitores,  porque se falar da imensidão da gargalhada tão sonora e escancaradamente emitida, estarei eu, na contigência de os baixos me  afogarem!






segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O nome

No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi
Por Lo-Chi 

O nome


Dizia-me alguém, antes prefiro que me chames de corno, a trocares o meu nome. O nome do indivíduo é a melodia mais doce que ele pode ouvir. Aliás, acompanha-o todos os dias, até o fim da vida. Quando ouvimos, ainda que ausentes, desperta-nos para a realidade, logo que é pronunciado. Não deixa de ser verdade, que uns, muitos, adoram os seus nomes, e outros, naturalmente, poucos, francamente manifestam o descontentamento, por possuirem os nomes que ostentam. Para mim,  a questão de dar  nomes, é uma questão eminentemente familiar, e , numa dimensão estritamente reduzida, entre marido e mulher, quando muito, alargado aos filhos, se esses existem, para discutir o nome de um vindouro ou nascituro. E à propósito, recordo-me, que no abril da nossa independência, alguns nomes foram interditos, pelo Estado com o fito de descolonizar as mentes, e assim no aspecto positivo, da medida negativa, outros foram recuperados. Quem leu Dale Carnegie, nas suas lições de relações humanas, sabe que ele preconiza sempre, na conversa com alguém, repetir-se, com muita frequência, o nome do interlocutor. Apesar de hoje, muitos de nós, preferirem o título ao seu próprio nome; coisas da actualidade.

Sabendo da importância que o nome tem na pessoa, quando tenho os meus lapsos de memória, que não são poucos, e estou com alguém, que com familiaridade me trata, por mais que puxe e não me recorde do nome, evito sempre perguntar, ao próprio, Qual o teu nome, prefiro muito diplomaticamente caçar-lhe o nome, ou pedindo que ele me aponte no papel, o seu número de celular, e no jeito de, Para que amanhã não fique sem saber de quem é o numero, põe de vez o teu nome, ou espero que apareça alguém para perguntar à socapa, Sócio como se chama este sujeito, que eu conheço perfeitamente, mas a minha memória de galinha, não consegue recordar. E isso, por que sei o melindre que cria e/ou pode criar, a simples, mas complicada afirmação, Já não me recordo do teu nome.

Paralelamente aos nomes, estão as alcunhas. Eu fui aluno numa cidade e duma escola campeã de alcunhas. Alcunhas essas, que ficavam coladas ao indivíduo, até depois da idade adulta, de tal jeito, que acabavam ofuscando os nomes próprios. Nesse capítulo, a minha cidade, Quelimane, é recordista. Conheço histórias do arco da velha, algumas que se passaram comigo. Recordo-me agora com precisão, virem dizer-me  que estava o senhor Fernando Jorge, que queria falar comigo, e eu muito formalmente, preparar-me para o encontro, e quando se deu, Afinal és tu, por que não disseste que era o Camões, e isso, conversa passada entre tio e sobrinho. Vejam só. E para ser verdadeiro, eu não me recordava do seu nome, não fora esse anunciado. Sempre o tratamos por Camões. Para além das alcunhas, temos os pseudónimos, que contrariamente as alcunhas, que são indexadas, sem consentimento do visado ou nomeado, os pseudónimos são da escolha do sujeito autor, que tem como razão de ser, várias motivações. E sei também, que muitos não estão de acordo com pseudónimos. E eu não sou contra, e utilizo. E  enganam-se, os que pensam, que por detrás de um pseudónimo, existe sempre uma intenção maldosa.

E a propósito de família, e voltando ao tema central que é o nome, uma, cuja autonomia da mulher estava no auge feminista, após o nascimento do rapaz, este levou o nome do pai, para o gáudio deste e dos seus familiares. O segundo filho, alias segunda, uma menina, no ar que se respirava de emancipação e igualdade de direitos, do homem e da mulher, vem daí, que a esposa entende, e bem, que a sua filha, deveria ter o nome da mãe, igualzinho tal e qual.  Como não, se o pai tivera a alegria de dar ao seu, o seu nome , e por que não, a mãe curtir o mesmo direito. Discutido e acordado. Só que o problema começa, quando se questiona, como seria, Júnior ou Juniora. Alguém contorna, que fosse como no Brasil, Filha, ou Segunda, na América. Mas como quando aparece um, outro problema tem de vir, outro veio. Qual era o nome da mãe: o de casada ou de solteira, já que ela havia adoptado o apelido do marido? Embrulho difícil de desfazer. Nada sei do desenvolvimento da história, apenas que a pobre menina acabou registada nos últimos tempos, nessa campanha do registo gratuito, e com um apelido, ao  que parece, do padrasto, já que a mãe, com tamanha hesitação, do anterior marido se havia separado, numa briga bem feia, concluindo-se que a filha que era sua, era apenas dela, posto que o esposo não havia participado na concepção, apenas nos entretantos. Graças a emancipação, deve ter agradecido o desventurado, ou melhor, o cornudo – melhor isso, que ser trocado o nome, lá dizia o meu amigo!

domingo, 9 de setembro de 2012

As mãos da estomatologista

No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspaposgmail.com
por Lo-Chi

As mãos da estomatologista


Quando a primeira vez ouvi o termo, estomatologia, não o liguei ao significado real. Andei por tomates, tomates de verdade, não naqueles que o amigo leitor esta a pensar, liguei ao estomago, em consequência, longe daquilo que significava de facto. Só após o esclarecimento competente do dicionário, que levo comigo, para resolver problemas de sinónimos, assim como de léxicos, é que passei a saber, que a estomatologia era um ramo da medicina, no qual o médico nele especializado, trata da boca do paciente. E eu que me havia familiarizado apenas com o termo dentista, de facto até e para quem sabe das diversas mazelas que a boca tem, é extremamente redutor o termo dentista.

Nas mazelas que a boca pode ter, uma delas, levou-me a diversos dentistas, em diversos cantos do pais, e sem ver melhorias, até que fui parar a uma estomatologista, na dimensão exacta do termo, a qual me acabou diagnosticando uma gengivite, que punha a sangrar a boca, e fazia com que acordasse com ela ensanguetada. Nem imagina os efeitos que isso tem, mal estar, mau hálito, e amargor sempre constantes, fora os outros que pode adivinhar.

A estomatologista para a qual, por benção de uma amiga de longa data, fui parar, era cubana, loira e boazuda, umas grossas pernas, um olhar meigo, uma simplicidade própria dos cubanos, fácil no trato, simpática, de uma melopeia no falar, de impressionar. Em consequência, fizemo-nos amigos. Mas não pense, caro leitor, que havia coelho nesse mato chamado amizade, posto que em primeiríssimo lugar, não sou, contra tendência, que me parece maioritária, de morrer de paixões por loiras; o meu departamento é outro.

Na amizade criada e recriada, diversas vezes estivemos juntos, ou por que ela precisava de uma boleia, ou por que acabávamos encontrando em círculos, que no fim acabou sendo comum, ou por que para desfazer o tédio, de um ou de outro, nos convidávamos para um restaurante para jantar. Num desses encontros, desta vez acidental, estava ela fazendo umas compras, quando me viu, e me mandou parar, para que lhe desse uma boleia, e com antecedência, pergunta se eu tinha pressa, o que acabei confirmando que não. Compra aqui, compra acolá, de repente, vejo-me ao lado de uma loja, na qual eu, fazia tempos, queria entrar, para comprar um artigo, mas que sempre esquecia-me, e do qual só me lembrava, quando dele necessitava; coisas da idade, dizia-me eu. Vai daí, que informo a loiraça, que enquanto ela entrava numa outra, eu queria ir resolver um pendente antigo. E lá vou eu, atravessando a estrada, para fazer a aquisição adiada. No regresso da minha compra, vejo que ela se dirigia em direcção ao carro, e noto, que há um homem, que num passo acelerado, vai em direcção à ela, e com um safanão, tenta retira-lhe a carteira da mão. Imobilizei-me de cagaço, já antevendo a desgraça. Todavia, a expectativa de um acto de roubalheira, consumado num ápice, gorou-se. Posto que a loira, agarrou a carteira, e puxa daqui e puxa dacolá, o homem que sabia da necessidade de tempo limite e curto, teve que se render a evidência, e frustrado, largou a carteira da senhora, pôs-se a o fresco, numa correria, comparando-se a alguém, ou que havia visto o diabo, ou tentando competir com o Valentino Rossi. E eu que, contrariamente a atitude recomendada aos cavalheiros, cobardemente me havia reduzido, pasmo, numa estátua mirone, vendo a luta a distância, lá vou correndo em socorro(?) da vítima, no estilo do autor das obras acabadas, perguntar, se lhe havia feito algum dano. E ela com um lindo sorriso, diz-me, Provavelmente, tenhas que perguntar ao safado, se não ficou com um músculo torcido, e eu não me contive,  Onde e que foste buscar tanta força, transfiguraste-te, ou a necessidade de preservar o dinheiro fez milagre?, e ela, sempre com um sorriso próprio, e uma voz que não fazia divinhar, Sou estomatologista, esqueceste?, quantas maxilas tenho que repôr no lugar, quantos dentes tenho que arrancar, e tenho quinze anos de carreira, isso deu-me uma força tremenda no braço, e aquele, referindo-se ao pilantra, fez mal as contas.

Pensei cá par amim, com estomatologistas e ortopédicos, não convém um indivíduo meter-se em sarilhos, nem que sejam loiras e boazudas!.