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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os preconceitos dos julgamentos mundiais



No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@gmail.com
por Lo-Chi

                                                                                            Chegou a altura no ocidente de defender
                                                              não tanto os direitos humanos,
                                                                 mas sim as obrigações humanas
                                                                                                                   
                                                                                                                       Alexandr Solzhenitsyn

Meu livro de cabeceira do final do ano transacto foi a “ A era da mentira”, na altura recentemente editado em Portugal, da conhecidíssima figura da arena mundial, Mohamed Elbaradei, o qual foi Director Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA, e laureado com o prémio Nobel da Paz de 2005. Um livro que veio à calha, na melhor altura, posto que complementava o que acabava de ler e fiz referência, aqui nesta coluna, também na altura recentemente editado,  cujo título referenciei “ 21 discursos que mudaram o mundo”. Esses dois obrigaram-me a ir ao meu escaparate e puxar por um terceiro, cuja leitura remotava o longínquo ano de 1994,  por aí, cujo o título é “ Nos bastidores da ONU” do Hermane Tavares de Sá, obrigando-me a uma releitura.

Comecemos pelo último livro aqui referenciado, que diz na sua pag 62 “... quase nada na ONU é o que aparenta ser,...” e mais adiante na pagina 72 esclarece “ Washington será sempre capaz de fazer com que as Nações Unidas adoptem uma determinada política, desde que a sua própria determinação não vacile”. É importante reter essa informação. Deixo esse livro e remeto-me ao “21 discurso que mudaram o mundo”, para me recordar do trecho do discurso do Dwight Einsenhower, presidente dos Estados Unidos, que no seu último discurso como presidente, chamava atenção para a sociedade americana, para o perigo do triângulo de ferro, constituido pelos; lideres militares, a industria militar e o governo, a chamada “elite do poder”, ou simplesmente o complexo militar-industrial-congressional, que segundo ele “exerce uma influência significativa na decisão de políticas civis e nos processos de contratação militar, e no entanto actua quase sempre fora do alcance do controlo democrático, perseguindo os seus próprios interesses”(pag 288). Voz de alguém, por dentro do sistema, falando com propriedade, sobre toda essa nefasta influência e dos perigos adjacentes à circunstância. Se tomarmos em linha de conta, que os Estados Unidos são os que suportam uma grande parte do bolo do orçamento da ONU, e esquecendo o benefício ou retorno, se quisermos, que a cidade da Nova York tem em termos de in put de receitas com a localização da sede da ONU neste local, e centrarmos no aspecto suporte orçamental, e tomarmos em consideração a força dos americanos na ribalta onuista, poderemos imaginar a influência que essa élite do poder estadunidense tem sobre a ONU.


Volto ao Elbaradei e vou encontrar no seu livro, a assertação de que toda a informação justificativa para a invasão do Iraque, foi uma informação ora deficiente, ora deliberadamente selectiva, quando não fosse deliberadamente errada (pag.108), aliás, confirmada  na pagina 110 do mesmo livro, quando referindo a entrevista concedida pelo o senhor Dick Cheney ao programa Meet the Press, da MSNBC,  disse e cito taxativamente “nunca tivemos qualquer prova de que Sadam Hussein tivesse adquirido qualquer arma nuclear”. Daqui podemos concluir, que toda uma guerra, que ainda está no seu rescaldo com vítimas aos milhares, tiveram o seu propósito e justificativas falaciosas, foi apenas para servir os interesses privados, com uma caracter eminentemente imperialista e de genocídio. Autenticamente um crime contra a humanidade. Complementado com outras informações que recebemos, como as causas reais  da invasão à Libia, que foi na realidade o petróleo de altíssima qualidade que espicaçava os apetites vorazes, bem como a indiferença em relação à Síria, onde se massacra populações, indicam-nos o móbil de muitas acções. Por tudo isso, não sou capaz de desfaçar o tremendo asco que sinto dos julgamentos mundiais, e ao mesmo tempo, fazem-me compreender, a procura quase desesperada de alguns paises, de se potenciarem com armas de destruição massiva, porque este mundo é decididamente do mais forte. Dois pesos duas medidas; um conceito que serve para uns, não serve para outros, e assim por diante. No fundo, bem no fundo, reina um pouco a lei da selva de um único sentido, quando lhes apetece e seus interesses estão em jogo.  E surge-me a pergunta: Onde esteve, ou está o tribunal penal internacional? Qual a diferença do Bush e o Blair, de Charles Taylor para essa descarada imunidade? E aqui volto ao Elbaradei que diz no seu livro, e cito com reverência, “ se queremos viver sobre o império da lei, então a acusação de crimes de guerra não deve limitar-se àqueles que perdem, ou aos oriundos de regiões pobres e há muito oprimidas. As normas legais para manterem a sua legitimidade, devem ter aplicação uniforme.” Consequentemente, com um misto de emoções que me revejo no julgamento do Charles Taylor, ex-presidente da Libéria. Se o Tribunal Penal Internacional, não é um Tribunal de Menores, tendo em presença acções tão iguais se não piores aqui referidas, de Bushes e Blairs, este julgamento é justamente injusto, ou se quisermos, particularmente justo e globalmente injusto e insultuoso, e acima de tudo ilegítimo.

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