No permeio de suras, papos
e cafutchêtchês
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por Lo-Chi
“Chegou a altura no ocidente de defender
não tanto os direitos humanos,
mas sim as obrigações humanas”
Alexandr Solzhenitsyn
Meu livro de cabeceira do final do ano transacto foi a “
A era da mentira”, na altura recentemente editado em Portugal, da
conhecidíssima figura da arena mundial, Mohamed Elbaradei, o qual foi Director
Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA, e laureado com o
prémio Nobel da Paz de 2005. Um livro que veio à calha, na melhor altura, posto
que complementava o que acabava de ler e fiz referência, aqui nesta coluna,
também na altura recentemente editado,
cujo título referenciei “ 21 discursos que mudaram o mundo”. Esses dois
obrigaram-me a ir ao meu escaparate e puxar por um terceiro, cuja leitura
remotava o longínquo ano de 1994, por
aí, cujo o título é “ Nos bastidores da ONU” do Hermane Tavares de Sá,
obrigando-me a uma releitura.
Comecemos pelo último livro aqui referenciado, que diz
na sua pag 62 “... quase nada na ONU é o
que aparenta ser,...” e mais adiante na pagina 72 esclarece “ Washington será sempre capaz de fazer com
que as Nações Unidas adoptem uma determinada política, desde que a sua própria
determinação não vacile”. É importante reter essa informação. Deixo esse
livro e remeto-me ao “21 discurso que mudaram o mundo”, para me recordar do
trecho do discurso do Dwight Einsenhower, presidente dos Estados Unidos, que no
seu último discurso como presidente, chamava atenção para a sociedade
americana, para o perigo do triângulo de ferro, constituido pelos; lideres
militares, a industria militar e o governo, a chamada “elite do poder”, ou
simplesmente o complexo militar-industrial-congressional, que segundo ele “exerce uma influência significativa na
decisão de políticas civis e nos processos de contratação militar, e no entanto
actua quase sempre fora do alcance do controlo democrático, perseguindo os seus
próprios interesses”(pag 288). Voz de alguém, por dentro do sistema,
falando com propriedade, sobre toda essa nefasta influência e dos perigos
adjacentes à circunstância. Se tomarmos em linha de conta, que os Estados
Unidos são os que suportam uma grande parte do bolo do orçamento da ONU, e
esquecendo o benefício ou retorno, se quisermos, que a cidade da Nova York tem
em termos de in put de receitas com a localização da sede da ONU neste local, e
centrarmos no aspecto suporte orçamental, e tomarmos em consideração a força
dos americanos na ribalta onuista, poderemos imaginar a influência que essa
élite do poder estadunidense tem sobre a ONU.
Volto ao Elbaradei e vou encontrar no seu livro, a
assertação de que toda a informação justificativa para a invasão do Iraque, foi
uma informação ora deficiente, ora deliberadamente selectiva, quando não fosse
deliberadamente errada (pag.108), aliás, confirmada na pagina 110 do mesmo livro, quando
referindo a entrevista concedida pelo o senhor Dick Cheney ao programa Meet the
Press, da MSNBC, disse e cito
taxativamente “nunca tivemos qualquer
prova de que Sadam Hussein tivesse adquirido qualquer arma nuclear”. Daqui
podemos concluir, que toda uma guerra, que ainda está no seu rescaldo com
vítimas aos milhares, tiveram o seu propósito e justificativas falaciosas, foi
apenas para servir os interesses privados, com uma caracter eminentemente
imperialista e de genocídio. Autenticamente um crime contra a humanidade.
Complementado com outras informações que recebemos, como as causas reais da invasão à Libia, que foi na realidade o
petróleo de altíssima qualidade que espicaçava os apetites vorazes, bem como a
indiferença em relação à Síria, onde se massacra populações, indicam-nos o
móbil de muitas acções. Por tudo isso, não sou capaz de desfaçar o tremendo
asco que sinto dos julgamentos mundiais, e ao mesmo tempo, fazem-me
compreender, a procura quase desesperada de alguns paises, de se potenciarem
com armas de destruição massiva, porque este mundo é decididamente do mais
forte. Dois pesos duas medidas; um conceito que serve para uns, não serve para
outros, e assim por diante. No fundo, bem no fundo, reina um pouco a lei da
selva de um único sentido, quando lhes apetece e seus interesses estão em
jogo. E surge-me a pergunta: Onde
esteve, ou está o tribunal penal internacional? Qual a diferença do Bush e o
Blair, de Charles Taylor para essa descarada imunidade? E aqui volto ao
Elbaradei que diz no seu livro, e cito com reverência, “ se queremos viver sobre o império da lei, então a acusação de crimes de
guerra não deve limitar-se àqueles que perdem, ou aos oriundos de regiões
pobres e há muito oprimidas. As normas legais para manterem a sua legitimidade,
devem ter aplicação uniforme.” Consequentemente, com um misto de emoções
que me revejo no julgamento do Charles Taylor, ex-presidente da Libéria. Se o
Tribunal Penal Internacional, não é um Tribunal de Menores, tendo em presença
acções tão iguais se não piores aqui referidas, de Bushes e Blairs, este
julgamento é justamente injusto, ou se quisermos, particularmente justo e
globalmente injusto e insultuoso, e acima de tudo ilegítimo.
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