No
permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@gmail.com
por Lo-Chi
Temos sempre imensas reservas, em falar com
naturalidade, (não por nós, mas no receio de julgamentos discricionários de
terceiros, mesmo quando fazemo-lo com ortometria, significando no caso a não
utilização de palavrões) sobre algo que devia ser encarado e falado com
despojamento, e que entretanto, se fala à socapa, não entendendo eu porquê,
integrando essa atitude no capítulo, nada honorável, da hipocrisia: o sexo como
orgão e como actividade. Eu, porém, fui ganhando alguma naturalidade, não tanto
quanto gostaria, no aprendizado, adquirido nas leituras, principalmente dos
escritores que de forma frontal e despudorada, escrevem. Nós, ainda e infelizmente, fazemos parte
daquelas sociedades, imbuidas de falso moralismo.
Li ou ouvi, citando-se um psicólogo, algo como; se fotografares
o pensamento de uma mulher, a imagem que obtens é de uma criança, e se
fotografares a mente do homem, a imagem que encontras é de uma mulher, e alguém
acrescentou, preferencialmente nua. E conferindo veracidade à essa afirmação,
salvo pouquíssimas excepções, nas conversas de amigos: homens casados, solteiros, viuvos,
divorciados, a tónica da conversa é essencialmente a mulher, e dando razão ao
acrescentador, nua.
E foi na senda desse conhecimento, que não me
surpreendi, estando eu num país estrangeiro, usufruimdo de uma bolsa de estudo,
no qual estavam alunos de diversas nacionalidades, encontrar-me, numa reunião espontânea,
multinacional, numa conversa tipicamente masculina, tal e qual as minhas
conversas de bairro, falando da mulher no seu símbolo maior: a coisinha. E a
coisa era tratada na perspectiva de fidelidade e traição, atendendo ao
considerando tempo e distância, como particularidade da realidade que a nossa
situação nos impunha. E eu, no meu ar mais racional, e despreocupado, porque solteiro,
dizia que a traição não devia ser focalizada, no sentido reducionista de sexo,
e que quanto a mim, a mais grave era a sentimental, e não, como a potencial,
nessa circunstância conjuntural, aquilo
que supões que é teu, ser usufrutado por outro. E um outro colega, na mesma
linha de pensamento, acrescentava, que era perfeitamente compreensível, que a
traição acontecesse, devido a distância que nos era imposta, naquela vertente
situação. Lixem-se, disse claramente
um outro, isso porque piripiri no olho
do outro pode dar aso até a filosofia ou mesmo a anedota, mas que ele não
aceitava isso, e argumentou que o nosso posicionamento era ditado pela
circunstância de solteiros que éramos. E sentenciava que era tão verdade que a
traição consumada era tão destruidora, que como sabíamos, no país onde
estávamos, em função das migrações, o índice de divórcio ia disparando.
Discussão que levamos tarde adentro, numa filosofia misturada bastas vezes com
recorrência a exemplos do dia à dia, até que se notou que um de nós, se manteve
calado e aparentemente ausente da discussão.
Password
Alguém intrigado com aquela
apatia, questionou se o absentista estava tão alheio porque seguro, e para tal
se havia recorrido ao velho e histórico cinto de castidade. Mudam-se os tempos, não mudaram as
vontades, mas os recursos, disse o ausente, para continuar, eu quando saí de casa, saí descansado,
posto que pus um conta quilómetros e no regresso terei informação exacta dos
fenómenos acontecidos por lá e perante factos, posso tomar a decisão correcta e
indiscutível. Rimo-nos com a criativa imaginação, para um outro, na mesma
bitola e diapasão, afirmar, Sabes que
isso não é fiável, já porque mesmo nos carros, pode-se desligar o conta
quilómetro, por isso, não apenas jogando no seguro, como sendo mais
contemporâneo com a modernidade e a tecnologia, digitalizei a minha e pus um
password, ninguém tem acesso. Depois de uma valente gargalhada geral, numa
espécie de humor negro, eu numa de remate, recordei aos presentes, que não
havia password nenhum, eficiente, que não fosse a vontade da pessoa, posto que
fora isso, tanto quanto nos computadores e sistemas, mesmo dos pressupostamente
mais seguros, havia hackers, que conseguiam ter acesso. Foi uma risada geral.
Mas sendo sincero comigo mesmo, num pensamento
surrealista, pensei, se nesses novos tempos do HIV/Sida, se esse pressuposto
impossível, fosse possível, não seria talvez motivo de drástica redução, ou
mesmo colocando um anti-virus, do tipo
Kaspersky ou Norton, não seria a chave do sucesso do combate e talvez
gastássemos menos do que se gasta actualmente, com maior eficácia e eficiência.
Ri-me interiormente, riso que se manifestou por fora, num sorriso malandro, que
levou um dos presentes a perguntar-me, qual fora a ideia brilhante que tivera.
E eu... nada, nada!!
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