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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A digitalização da coisa



No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi



Temos sempre imensas reservas, em falar com naturalidade, (não por nós, mas no receio de julgamentos discricionários de terceiros, mesmo quando fazemo-lo com ortometria, significando no caso a não utilização de palavrões) sobre algo que devia ser encarado e falado com despojamento, e que entretanto, se fala à socapa, não entendendo eu porquê, integrando essa atitude no capítulo, nada honorável, da hipocrisia: o sexo como orgão e como actividade. Eu, porém, fui ganhando alguma naturalidade, não tanto quanto gostaria, no aprendizado, adquirido nas leituras, principalmente dos escritores que de forma frontal e despudorada, escrevem.  Nós, ainda e infelizmente, fazemos parte daquelas sociedades, imbuidas de falso moralismo.

Li ou ouvi, citando-se um psicólogo, algo como; se fotografares o pensamento de uma mulher, a imagem que obtens é de uma criança, e se fotografares a mente do homem, a imagem que encontras é de uma mulher, e alguém acrescentou, preferencialmente nua. E conferindo veracidade à essa afirmação, salvo pouquíssimas excepções, nas conversas  de amigos: homens casados, solteiros, viuvos, divorciados, a tónica da conversa é essencialmente a mulher, e dando razão ao acrescentador, nua.

E foi na senda desse conhecimento, que não me surpreendi, estando eu num país estrangeiro, usufruimdo de uma bolsa de estudo, no qual estavam alunos de diversas nacionalidades,  encontrar-me, numa reunião espontânea, multinacional, numa conversa tipicamente masculina, tal e qual as minhas conversas de bairro, falando da mulher no seu símbolo maior: a coisinha. E a coisa era tratada na perspectiva de fidelidade e traição, atendendo ao considerando tempo e distância, como particularidade da realidade que a nossa situação nos impunha. E eu, no meu ar mais racional, e despreocupado, porque solteiro, dizia que a traição não devia ser focalizada, no sentido reducionista de sexo, e que quanto a mim, a mais grave era a sentimental, e não, como a potencial, nessa circunstância conjuntural,  aquilo que supões que é teu, ser usufrutado por outro. E um outro colega, na mesma linha de pensamento, acrescentava, que era perfeitamente compreensível, que a traição acontecesse, devido a distância que nos era imposta, naquela vertente situação. Lixem-se, disse claramente um outro, isso porque piripiri no olho do outro pode dar aso até a filosofia ou mesmo a anedota, mas que ele não aceitava isso, e argumentou que o nosso posicionamento era ditado pela circunstância de solteiros que éramos. E sentenciava que era tão verdade que a traição consumada era tão destruidora, que como sabíamos, no país onde estávamos, em função das migrações, o índice de divórcio ia disparando. Discussão que levamos tarde adentro, numa filosofia misturada bastas vezes com recorrência a exemplos do dia à dia, até que se notou que um de nós, se manteve calado e aparentemente ausente da discussão. 



                                                                           Password


Alguém intrigado com aquela apatia, questionou se o absentista estava tão alheio porque seguro, e para tal se havia recorrido ao velho e histórico cinto de castidade. Mudam-se os tempos, não mudaram as vontades, mas os recursos, disse o ausente, para continuar, eu quando saí de casa, saí descansado, posto que pus um conta quilómetros e no regresso terei informação exacta dos fenómenos acontecidos por lá e perante factos, posso tomar a decisão correcta e indiscutível. Rimo-nos com a criativa imaginação, para um outro, na mesma bitola e diapasão, afirmar, Sabes que isso não é fiável, já porque mesmo nos carros, pode-se desligar o conta quilómetro, por isso, não apenas jogando no seguro, como sendo mais contemporâneo com a modernidade e a tecnologia, digitalizei a minha e pus um password, ninguém tem acesso. Depois de uma valente gargalhada geral, numa espécie de humor negro, eu numa de remate, recordei aos presentes, que não havia password nenhum, eficiente, que não fosse a vontade da pessoa, posto que fora isso, tanto quanto nos computadores e sistemas, mesmo dos pressupostamente mais seguros, havia hackers, que conseguiam ter acesso. Foi uma risada geral.

Mas sendo sincero comigo mesmo, num pensamento surrealista, pensei, se nesses novos tempos do HIV/Sida, se esse pressuposto impossível, fosse possível, não seria talvez motivo de drástica redução, ou mesmo colocando um anti-virus, do tipo  Kaspersky ou Norton, não seria a chave do sucesso do combate e talvez gastássemos menos do que se gasta actualmente, com maior eficácia e eficiência. Ri-me interiormente, riso que se manifestou por fora, num sorriso malandro, que levou um dos presentes a perguntar-me, qual fora a ideia brilhante que tivera. E eu... nada, nada!!



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