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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O nome

No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi
Por Lo-Chi 

O nome


Dizia-me alguém, antes prefiro que me chames de corno, a trocares o meu nome. O nome do indivíduo é a melodia mais doce que ele pode ouvir. Aliás, acompanha-o todos os dias, até o fim da vida. Quando ouvimos, ainda que ausentes, desperta-nos para a realidade, logo que é pronunciado. Não deixa de ser verdade, que uns, muitos, adoram os seus nomes, e outros, naturalmente, poucos, francamente manifestam o descontentamento, por possuirem os nomes que ostentam. Para mim,  a questão de dar  nomes, é uma questão eminentemente familiar, e , numa dimensão estritamente reduzida, entre marido e mulher, quando muito, alargado aos filhos, se esses existem, para discutir o nome de um vindouro ou nascituro. E à propósito, recordo-me, que no abril da nossa independência, alguns nomes foram interditos, pelo Estado com o fito de descolonizar as mentes, e assim no aspecto positivo, da medida negativa, outros foram recuperados. Quem leu Dale Carnegie, nas suas lições de relações humanas, sabe que ele preconiza sempre, na conversa com alguém, repetir-se, com muita frequência, o nome do interlocutor. Apesar de hoje, muitos de nós, preferirem o título ao seu próprio nome; coisas da actualidade.

Sabendo da importância que o nome tem na pessoa, quando tenho os meus lapsos de memória, que não são poucos, e estou com alguém, que com familiaridade me trata, por mais que puxe e não me recorde do nome, evito sempre perguntar, ao próprio, Qual o teu nome, prefiro muito diplomaticamente caçar-lhe o nome, ou pedindo que ele me aponte no papel, o seu número de celular, e no jeito de, Para que amanhã não fique sem saber de quem é o numero, põe de vez o teu nome, ou espero que apareça alguém para perguntar à socapa, Sócio como se chama este sujeito, que eu conheço perfeitamente, mas a minha memória de galinha, não consegue recordar. E isso, por que sei o melindre que cria e/ou pode criar, a simples, mas complicada afirmação, Já não me recordo do teu nome.

Paralelamente aos nomes, estão as alcunhas. Eu fui aluno numa cidade e duma escola campeã de alcunhas. Alcunhas essas, que ficavam coladas ao indivíduo, até depois da idade adulta, de tal jeito, que acabavam ofuscando os nomes próprios. Nesse capítulo, a minha cidade, Quelimane, é recordista. Conheço histórias do arco da velha, algumas que se passaram comigo. Recordo-me agora com precisão, virem dizer-me  que estava o senhor Fernando Jorge, que queria falar comigo, e eu muito formalmente, preparar-me para o encontro, e quando se deu, Afinal és tu, por que não disseste que era o Camões, e isso, conversa passada entre tio e sobrinho. Vejam só. E para ser verdadeiro, eu não me recordava do seu nome, não fora esse anunciado. Sempre o tratamos por Camões. Para além das alcunhas, temos os pseudónimos, que contrariamente as alcunhas, que são indexadas, sem consentimento do visado ou nomeado, os pseudónimos são da escolha do sujeito autor, que tem como razão de ser, várias motivações. E sei também, que muitos não estão de acordo com pseudónimos. E eu não sou contra, e utilizo. E  enganam-se, os que pensam, que por detrás de um pseudónimo, existe sempre uma intenção maldosa.

E a propósito de família, e voltando ao tema central que é o nome, uma, cuja autonomia da mulher estava no auge feminista, após o nascimento do rapaz, este levou o nome do pai, para o gáudio deste e dos seus familiares. O segundo filho, alias segunda, uma menina, no ar que se respirava de emancipação e igualdade de direitos, do homem e da mulher, vem daí, que a esposa entende, e bem, que a sua filha, deveria ter o nome da mãe, igualzinho tal e qual.  Como não, se o pai tivera a alegria de dar ao seu, o seu nome , e por que não, a mãe curtir o mesmo direito. Discutido e acordado. Só que o problema começa, quando se questiona, como seria, Júnior ou Juniora. Alguém contorna, que fosse como no Brasil, Filha, ou Segunda, na América. Mas como quando aparece um, outro problema tem de vir, outro veio. Qual era o nome da mãe: o de casada ou de solteira, já que ela havia adoptado o apelido do marido? Embrulho difícil de desfazer. Nada sei do desenvolvimento da história, apenas que a pobre menina acabou registada nos últimos tempos, nessa campanha do registo gratuito, e com um apelido, ao  que parece, do padrasto, já que a mãe, com tamanha hesitação, do anterior marido se havia separado, numa briga bem feia, concluindo-se que a filha que era sua, era apenas dela, posto que o esposo não havia participado na concepção, apenas nos entretantos. Graças a emancipação, deve ter agradecido o desventurado, ou melhor, o cornudo – melhor isso, que ser trocado o nome, lá dizia o meu amigo!

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