por Lo-Chi
Quando sentado na mesa de bar, e só, tens a tendência
incauta de, por força de circunstância, ouvir o papo das mesas vizinhas, até
por que, pelo ambiente e envolvência, as conversas vão-se derramando alto, umas
vezes, sendo incómodo, se porventura com uma dama estiveres e necessitares de
silêncio, outras, propiciando aos metediços, entrar na conversa, mesmo que não
chamado à ribalta. Nesse dia, encontrava-me só,
e para não fugir à tendência, algumas vezes, tentado fiquei, em fazer
uma afirmação, para concordar ou discordar,
não sei bem com quê, todavia não
fiz, não sei, se por razões a ter com o meu temperamento, algumas vezes
reservado, ou por consequência de os resquícios de boa educação ter coibido, que a minha língua tomasse
asas, e voasse ao belo prazer da conversa, conversa que decorria numa mesa
vizinha. Verdade porém, é que a conversa tomava um ritmo animado, à medida que
os copos se iam vazando. E essa mesa
tinha uma composição, onde a equanimidade entre homens e mulheres estava
evidente. Não só no número, assim como, nas bebidas que descarregavam para o bucho. E pelas
conversas e temas, fui concluindo que eram professores, e leccionavam na mesma
escola.
No meio do papo já acelerado, e retocado pela celeridade
e intensidade que o álcool dá, estava um indivíduo, com ar de quem sabe o que
fala, dizendo para duas das senhoras, Vocês
que não tem família..., não chegou a acabar a frase, para logo ser
interpelado, Quem não tem
família!!?...nós não temos família? O quê que isso quer significar?,
contrapôs a questão, com os olhos reluzentes de raiva, parecendo adivinhar, o
que o colega, com ar de uma certa juventude, estava a querer significar. Mas
este, ou incauto, ou de coragem, ou por falta de conhecimento da voracidade e
ferocidade das mulheres, precisou, Vocês
que não são casadas, rematou, precisando o que era para ele família. Ao que
uma das senhoras percebendo a mensagem, não se fez rogada, e feroz se assanha,
contra o colega atrevido, Estás a querer
dizer que, eu que tenho filho, não tenho família, arreganhou os dentes, e a
outra, uma terceira, como a provocar perguntou-o, Queres dizer, que tu que estas casado, tens filho, tens família?,
perguntou-lhe para continuar, numa pergunta já por si esclarecedora, Eu que
tenho o meu sócio, que tenho um filho não tenho família?!, uma dúvida
carregada de ironia, quase anunciando, que vinha dai chumbo de alto calibre.
Antes que o visado pudesse responder, um outro homem, corajoso, apercebendo-se,
que o seu homólogo de sexo se havia metido em ninho de vespa, tenta atenuar a
coisa, Bem, parece que não é bem isso
que o Teomóteo quis dizer, contudo
este, sem ter ainda avaliado a situação, corrige o o advogado do diabo, diabo
esse, em vias de ser esfolado, Foi
precisamente isso que quis dizer, podes considerar que uma relação de amantimos
constitui família?, não acabou a prelecção, já as damas se haviam unido
automaticamente, estavam prontas para lhe porem na frigideira. Como se pode
adivinhar, nesta fase, todas as armas serviam para aniquilar o pobre homem,
mesmo que para tal, elas tivessem que falar mal delas próprias, Em primeiro lugar, quem te disse a ti, que
teu filho, é teu filho?, como se pode ver, o tiro era de uma arma pesada e
de destruição em massa, Eu tenho a certeza
que meu filho, é meu, disse o mau da fita, que estava na mira das balas
mortíferas das damas, já a bufarem de raiva e ódio a mistura, visto que o meu filho é parecido a mim,
concluiu inocente o rapaz, que ainda não tinha notado, em que buraco se havia
metido, Eeehhh, exclamam as damas em coro, quem foi que te disse, que o ser
parecido atesta a paternidade?, perguntam as três em coro, Como não atesta?!, perguntou o
inquirido, e eu visionando-o, já na antecâmara da morgue, vou tentando
adivinhar por onde iria o raciocínio delas, e entrementes, disse com os meus
botões, Queres ver que estas damas vão argumentar,
com um cinismo macabro, que o filho dele, era do pai, do primo, ou do irmão?, e nessa perspectiva, fiquei
preparado, para ver, impotente, a pedrada que o coitado iria receber, como
golpe de misericórdia, Joana, explica a
esse pobre coitado como é que essas coisas funcionam, disse uma com ar de
quem sabe o que está a falar, Meu caro
colega, uma mulher pode ficar grávida do outro homem e apresentar o filho como
sendo do marido, e o filho não sendo, ser parecido ao esposo!, essa
baralhou-me completamente, se não fosse alguém da mesa, que se me antecipou,
teria eu, metendo o nariz onde não era chamado, perguntado, Como assim, de um outro homem, e o filho sair
parecido ao marido??!!, perguntou um, que havia ficado muito tempo calado,
bem a margem da bagunça, Pois é meu caro
colega, repetiu a dama, basta apenas
que ela com um pouco de paciência, calma, coragem e carinho, dê uma bacia com
água para que o seu marido lave uma parte do seu corpo, mãos, cara, ou pé, e
dessa água, ela beba, para que resolva o
problema, vai daí que o visado no aniquilamento se contrapõe argumentando, Não acredito!! Não acredito que vocês como
professoras, que têm, ou deviam ter, uma visão científica das coisas e do
mundo, entram nessas crendices?, disse com um ar mais calmo e sossegado, Essa não, por favor colegas!, o que
ensaiara ser advogado, volta a cena, desta vez advogando a contra-parte e
outras filosofias, Cuidado, que muitas vezes aqui em África, a ciência e o obscurantismo
andam de mãos dadas, para a Joana, rematar, Eu se fosse a ti, que estás tão convicto da tua paternidade, em relação
ao teu filho, aí, seria mais científico, e faria o teste do DNA, e no teu caso
específico, ficarias surpreendido com o resultado, e aí, notou-se um
alterar da feição do visado, dando ares, de que alguma dúvida, se havia
instalado na mente, e minado a sua convicção. Lá se foi a ciência para a
maneta, ou juntou-se ao obscurantismo?!
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