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terça-feira, 6 de agosto de 2013

A ciência de mãos dadas com o obscurantismo


por Lo-Chi

Quando sentado na mesa de bar, e só, tens a tendência incauta de, por força de circunstância, ouvir o papo das mesas vizinhas, até por que, pelo ambiente e envolvência, as conversas vão-se derramando alto, umas vezes, sendo incómodo, se porventura com uma dama estiveres e necessitares de silêncio, outras, propiciando aos metediços, entrar na conversa, mesmo que não chamado à ribalta. Nesse dia, encontrava-me só,  e para não fugir à tendência, algumas vezes, tentado fiquei, em fazer uma afirmação, para concordar ou discordar,  não sei bem com quê, todavia não  fiz, não sei, se por razões a ter com o meu temperamento, algumas vezes reservado, ou por consequência de os  resquícios de boa educação ter coibido, que a minha língua tomasse asas, e voasse ao belo prazer da conversa, conversa que decorria numa mesa vizinha. Verdade porém, é que a conversa tomava um ritmo animado, à medida que os copos se iam vazando. E essa mesa  tinha uma composição, onde a equanimidade entre homens e mulheres estava evidente. Não só no número, assim como, nas bebidas  que descarregavam para o bucho. E pelas conversas e temas, fui concluindo que eram professores, e leccionavam na mesma escola.

No meio do papo já acelerado, e retocado pela celeridade e intensidade que o álcool dá, estava um indivíduo, com ar de quem sabe o que fala, dizendo para duas das senhoras, Vocês que não tem família..., não chegou a acabar a frase, para logo ser interpelado, Quem não tem família!!?...nós não temos família? O quê que isso quer significar?, contrapôs a questão, com os olhos reluzentes de raiva, parecendo adivinhar, o que o colega, com ar de uma certa juventude, estava a querer significar. Mas este, ou incauto, ou de coragem, ou por falta de conhecimento da voracidade e ferocidade das mulheres, precisou, Vocês que não são casadas, rematou, precisando o que era para ele família. Ao que uma das senhoras percebendo a mensagem, não se fez rogada, e feroz se assanha, contra o colega atrevido, Estás a querer dizer que, eu que tenho filho, não tenho família, arreganhou os dentes, e a outra, uma terceira, como a provocar perguntou-o, Queres dizer, que tu que estas casado, tens filho, tens família?, perguntou-lhe para continuar, numa pergunta já por si esclarecedora, Eu que tenho o meu sócio, que tenho um filho não tenho família?!, uma dúvida carregada de ironia, quase anunciando, que vinha dai chumbo de alto calibre. Antes que o visado pudesse responder, um outro homem, corajoso, apercebendo-se, que o seu homólogo de sexo se havia metido em ninho de vespa, tenta atenuar a coisa, Bem, parece que não é bem isso que o Teomóteo quis dizer,  contudo este, sem ter ainda avaliado a situação, corrige o o advogado do diabo, diabo esse, em vias de ser esfolado, Foi precisamente isso que quis dizer, podes considerar que uma relação de amantimos constitui família?, não acabou a prelecção, já as damas se haviam unido automaticamente, estavam prontas para lhe porem na frigideira. Como se pode adivinhar, nesta fase, todas as armas serviam para aniquilar o pobre homem, mesmo que para tal, elas tivessem que falar mal delas próprias, Em primeiro lugar, quem te disse a ti, que teu filho, é teu filho?, como se pode ver, o tiro era de uma arma pesada e de destruição em massa, Eu tenho a certeza que meu filho, é meu, disse o mau da fita, que estava na mira das balas mortíferas das damas, já a bufarem de raiva e ódio a mistura, visto que o meu filho é parecido a mim, concluiu inocente o rapaz, que ainda não tinha notado, em que buraco se havia metido, Eeehhh, exclamam as damas em coro, quem foi que te disse, que o ser parecido atesta a paternidade?, perguntam as três em coro, Como não atesta?!, perguntou o inquirido, e eu visionando-o, já na antecâmara da morgue, vou tentando adivinhar por onde iria o raciocínio delas, e entrementes, disse com os meus botões, Queres ver que estas damas vão argumentar, com um cinismo macabro, que o filho dele, era do pai, do primo, ou do irmão?, e nessa perspectiva, fiquei preparado, para ver, impotente, a pedrada que o coitado iria receber, como golpe de misericórdia, Joana, explica a esse pobre coitado como é que essas coisas funcionam, disse uma com ar de quem sabe o que está a falar, Meu caro colega, uma mulher pode ficar grávida do outro homem e apresentar o filho como sendo do marido, e o filho não sendo, ser parecido ao esposo!, essa baralhou-me completamente, se não fosse alguém da mesa, que se me antecipou, teria eu, metendo o nariz onde não era chamado, perguntado, Como assim, de um outro homem, e o filho sair parecido ao marido??!!, perguntou um, que havia ficado muito tempo calado, bem a margem da bagunça, Pois é meu caro colega, repetiu a dama, basta apenas que ela com um pouco de paciência, calma, coragem e carinho,  uma bacia com água para que o seu marido lave uma parte do seu corpo, mãos, cara, ou pé, e dessa água, ela beba, para que  resolva o problema, vai daí que o visado no aniquilamento se contrapõe argumentando, Não acredito!! Não acredito que vocês como professoras, que têm, ou deviam ter, uma visão científica das coisas e do mundo, entram nessas crendices?, disse com um ar mais calmo e sossegado, Essa não, por favor colegas!, o que ensaiara ser advogado, volta a cena, desta vez advogando a contra-parte e outras filosofias,  Cuidado, que muitas vezes aqui em África, a ciência e o obscurantismo andam de mãos dadas, para a Joana, rematar, Eu se fosse a ti, que estás tão convicto da tua paternidade, em relação ao teu filho, aí, seria mais científico, e faria o teste do DNA, e no teu caso específico, ficarias surpreendido com o resultado, e aí, notou-se um alterar da feição do visado, dando ares, de que alguma dúvida, se havia instalado na mente, e minado a sua convicção. Lá se foi a ciência para a maneta, ou juntou-se ao obscurantismo?!




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