por Lo-Chi
Escreve-me uma carta! Pedido talvez escuso, se se
recordar que a cada instante te faço cartas.
Umas, escritas ao telelefone, as quais pela imposição
da circunstância, breves, todavia, cheias de emoção e condensadas de
significado. Nelas; a sublimidade é sentida na resposta que a tua voz do outro
lado do fio traz; a doçura, na tua voz rumorejante que entra no meu corpo
adentro, de mansinho, trazendo ondas de gozo que fazem do momento a
cumplicidade da vida; a transcendência das meias palavras; imperativamente
trazidas, para ludibriar as presenças comprometedoras; fazem o elo invisível,
porém, forte e indestrutível.
Outras têm a noite como portadora, e nestas, as
palavras soltas ao vento, no resguardo do sobrescrito, à noite minha
confidente, digo desguarnecidamente que te amo. Descrevo os meus anelos, falo
dos meus atrevimentos, da saudade que punge, do gesto louco incontido de, na
alucinação de ao meu lado estares, passar as mãos no tufo da tua selva de vénus,
do gesto louco incontido de amaciar com a língua cada centímetro quadrado da
tua pele, sussurrar-te nos ouvidos coisas mil, e sem pensar nas consequências
adversas, chupar teu pescoço e nele fazer o arrebol da alvorada.
Outras ainda, quando ouvindo música, num jeito
sonâmbulo, me levanto e balanço o corpo na cadência do teu sorriso,
ilusoriamente estou contigo, e fico feliz escrevendo beijos na tua boca, com o
teu corpo divino aprisionado num amplexo de carícias.
Escrevo cartas meu amor, quando juntos, depois de
havermos percorridos a noite em sintonia – numa viagem de ternuras, loucuras e
fusões mil – pela alvorada, o sol se vai anunciando, e eu desperto, e sub-repticiamente acordo o
lençol, para que te dispa, e eu veja o teu corpo nu, de bruços, e embevecido me
perca nas linhas do teu rabito encantador. E quando, no jeito maravilhosamente
preguiçoso acordas, eu meio encabulado, durmo na cama dos teus carinhos que
fazem do momento a cumplicidade mutuamente consentida. E nesses momentos de
doce cumplicidade, palavras como limite, inconveniência, perdem a dimensão e o
significado, e ficam reduzidas a nada.
Quando estou contigo, meu amor, e uma onda de ternura
me acaricia, o meu olhar te vai esculpindo, debruando-te com a serenidade do
momento, fazendo do teu corpo a fonte dos cânticos celestiais; aí faço cartas
meu amor. Cartas que ficarão na eternidade da nossa efémera existência.
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