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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pedido escuso, mas sempre satisfeito


por Lo-Chi

Escreve-me uma carta! Pedido talvez escuso, se se recordar que a cada instante te faço cartas.

Umas, escritas ao telelefone, as quais pela imposição da circunstância, breves, todavia, cheias de emoção e condensadas de significado. Nelas; a sublimidade é sentida na resposta que a tua voz do outro lado do fio traz; a doçura, na tua voz rumorejante que entra no meu corpo adentro, de mansinho, trazendo ondas de gozo que fazem do momento a cumplicidade da vida; a transcendência das meias palavras; imperativamente trazidas, para ludibriar as presenças comprometedoras; fazem o elo invisível, porém, forte e indestrutível.

Outras têm a noite como portadora, e nestas, as palavras soltas ao vento, no resguardo do sobrescrito, à noite minha confidente, digo desguarnecidamente que te amo. Descrevo os meus anelos, falo dos meus atrevimentos, da saudade que punge, do gesto louco incontido de, na alucinação de ao meu lado estares, passar as mãos no tufo da tua selva de vénus, do gesto louco incontido de amaciar com a língua cada centímetro quadrado da tua pele, sussurrar-te nos ouvidos coisas mil, e sem pensar nas consequências adversas, chupar teu pescoço e nele fazer o arrebol da alvorada.

Outras ainda, quando ouvindo música, num jeito sonâmbulo, me levanto e balanço o corpo na cadência do teu sorriso, ilusoriamente estou contigo, e fico feliz escrevendo beijos na tua boca, com o teu corpo divino aprisionado num amplexo de carícias.

Escrevo cartas meu amor, quando juntos, depois de havermos percorridos a noite em sintonia – numa viagem de ternuras, loucuras e fusões mil – pela alvorada, o sol se vai anunciando, e eu  desperto, e sub-repticiamente acordo o lençol, para que te dispa, e eu veja o teu corpo nu, de bruços, e embevecido me perca nas linhas do teu rabito encantador. E quando, no jeito maravilhosamente preguiçoso acordas, eu meio encabulado, durmo na cama dos teus carinhos que fazem do momento a cumplicidade mutuamente consentida. E nesses momentos de doce cumplicidade, palavras como limite, inconveniência, perdem a dimensão e o significado, e ficam reduzidas a nada.

Quando estou contigo, meu amor, e uma onda de ternura me acaricia, o meu olhar te vai esculpindo, debruando-te com a serenidade do momento, fazendo do teu corpo a fonte dos cânticos celestiais; aí faço cartas meu amor. Cartas que ficarão na eternidade da nossa efémera existência.




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