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quarta-feira, 25 de março de 2015

A reforma que urge



Dando o mote ao desafio que o ministro da educação motivou, de repensar a educação, aqui estou eu como cidadão. E a educação precisa de ser repensada. E no repensar a educação, feita pelos antigos ministros do pelouro, simpatizei-me, muito especialmente, com dois excertos que tive oportunidade de ter acesso. Primeiro do ex-ministro Augusto Jone, que pôs a questão na quantidade de disciplinas da pequenada, da primeira a quarta classe, propondo que apenas se centrasse no português e na aritmética. Se os nossos alunos da primeira fase de escolaridade soubessem ao menos falar, ler, escrever bem e fazer as operações aritméticas mais basilares da vida; somar subtrair multiplicar e dividir, seria um estrondoso sucesso. Na vez de querermos que saibam tanta coisa e no fundo, saindo sem saber coisa nenhuma. Por outro lado, vi com bons olhos a chamada de atenção da outra antiga ministra de educação, Graça, que se centrou no nível dos nossos professores em termos de domínio da língua, que quer queiramos quer não, temos que a utilizar para a nossa desdita ou não, que é o português. E para quem tem ouvido reportagens com intervenção de professores até os de nível universitário, nota um tremendo deficit de capacidade de expressar ideias, e pior ainda, com um português que seja falado escorreitamente. Não faz uma semana, estive numa festa de graduação, onde solicitaram a um professor universitário que tivesse uma intervenção: uma pobreza de bradar aos céus; meu Deus! Mas entretanto, não se coibia de ser chamado doutor. Doutor de quê? E mais escandalizado fiquei eu, quando soube que havia sido designado tutor da defesa do graduado em questão, num curso de Direito, para desgraça da justiça, que já anda nas ruas de amargura. Tutor??!! As nossas universidades precisam de levar muito a sério a questão de formação dos supostos. Foi aí que compreendi a razão de, num dos recentes imbróglios de alunos e polícias, em plena televisão, ver um aluno universitário presentear-nos com a seguinte expressão: “ Nós estomos” não foi uma falha porque ele fez questão de repetir. Quanto a mim outro aspecto a tomar-se em consideração rápida e seriamente é o número de alunos que cada sala de aula deve comportar.

A educação precisa urgentemente de reformas ousadas, que em última estância vão prejudicar algumas pessoas: alunos e professores. Nestes processos é inevitável que haja prejudicados. Porém, se nos mantivermos neste diapasão, acabaremos numa autêntica babilónia, com custos altíssimos que provavelmente porão em causa a nossa existência como nação. Neste andar, teremos médicos a matar, polícias a roubar, juízes condenados, advogados defendidos, padres no feitiço, agricultores com fome, engenheiros civis sem tecto, técnicos sem técnica, etc., etc..

No capítulo da educação, quanto à mim, as facilidades são mais perniciosas que as dificuldades, e em última estância sei, que a exigência faz excelência. As universidades mais famosas a nível mundial não são as que facilitam, são as que exigem. Vi um documentário sobre o sucesso da Índia como resultado de um posicionamento estratégico corajoso, onde o Estado chamou a si a responsabilidade de aceitar a realidade de que nem todos temos o mesmo QI, e determinou que aqueles com o QI acima da média, frequentassem escolas especiais, com alto grau de exigência e dificuldade e os que se mantinham, até um determinado nível, eram seleccionados para cursos no exterior, em universidades altamente reconhecidas e exigentes. E hoje, o Estado que aceitou custos e perdas, começa a recolher os benefícios dessa corajosa medida. Quem não ouviu falar dos milagres a acontecer nas clínicas na Índia (provocando grande fluxo de turismo de saúde) a preços relativamente baixos, quando comparados com a Europa e América do Norte? O contrário também é valido. Nem todos nós fomos talhados para a academia, mas nem por isso deixamos de poder contribuir de diversas maneiras para o crescimento do país. Falo com conhecimento de causa. Somos três irmãos e houve um, nem com a lei do chicote as matérias escolares entravam. Fez a terceira classe a trancos e barrancos, mas hoje é, o que o Hélder Muteia chamou, na sua crónica, “técnico wamabassa”. É um homem de vários ofícios; carpinteiro, pedreiro, pintor, canalizador e nem por isso, deixou de ser uma pessoa a viver condignamente, e de uma utilidade indispensável.


O nosso descalabro do ensino primário, e por efeito dominó à outros domínios, começa precisamente nos centros de formação dos professores, onde as famosas metas complicam, iludem a realidade; quando a quantidade se confunde com qualidade. E a venalidade confere a academia os tons dedáleos do mercado do peixe. Nesta realidade, estes futuros professores só podem multiplicar a ignorância e a trafulhice, sem desprimor dos que se aplicam e levam a sério esta profissão nobre, que devia estar prestigiada.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Labour ominia vincit improbus




Caros amigos e colegas do graduado Fijamo
Labour ominia vincit improbus, é o que leio na gravata do meu amigo Ismael Fijamo, recém graduado no curso de Ciências Jurídicas, pela A Politécnica, frase essa que me parece constituir o axioma adoptado por esta instituição universitária. Curioso; uma vez perguntei o que significava a um estudante da mesma, e não vou dizer de que curso, para não escandalizar, e ele deixou-me com a sensação de surpresa.

Esse facto intrigou-me e pus-me a questionar, se a culpa era do estudante ou da instituição. Isso, porque sei que normalmente as grandes instituições, para qualquer um, que entre no seu seio, tem por obrigação integra-lo ou ambienta-lo. Dar a conhecer aquilo que hoje designam na linguagem empresarial de visão, estratégia, e valores da corporação. Apesar de que, os valores, raros são os organismos que os respeitam integralmente, sendo algumas vezes uma utopia, quando na realidade deveria constituir instrumentos para que a visão se transformasse em realidade. Aqui puxo a memória, a minha fácil compreensão, quando uma instituição multinacional que se preza, naquilo que eles chamam de “induction”, puseram-me a falar e a interagir com o administrador, o que era normal para a minha cultura, tendo em consideração o meu posto designado, passando por toda cadeia intermediária, até ao motorista e servente, o que me pôs aparvalhado, porque não entendia o porquê, na altura, mas depois, valorizei e percebi as razões e motivos, aliás a prática viva do que havia aprendido teoricamente no ISDE(Instituto Superior de Direcção da Economia), mas não havia percebido a dimensão: importância de uma integração integral, perdoem-me o pleonasmo. Se vocês estão atentos e como inteligentes que são, sabem que despendi esse tempo, dando o mote ao desafio que o ministro da educação motivou, de repensar a educação. E a educação precisa de ser repensada. Continuando; como todos nós sabemos, tenho a certeza, mas os que excepcionalmente não sabem, labour omnia vincit improbus, significa em português, trabalho persistente vence tudo, frase de um pensador romano, “Públio Virgílio Marão, nascido na cidade de Andes (actual Pietole), 70 a.C. e morreu em Brindsi, 19 a.C.; poeta, fortemente influenciado por outro bardo, porém este helénico, de nome Teócrito”*.

Pois bem, a veracidade dessa frase personificou-se neste homem, Ismael Fijamo Sadea, lincenciado, como mandam os cânones, cujo tem a honra de ser meu amigo, e eu amigo dele, constituindo a sua graduação o leitmotiv deste convívio, que se pretende lá mais para frente, leve e festivo. Mas antes da parte festiva do convívio permitam-me, ele e excelências, que eu vos apresente o anfitrião, sub Júdice. A sua graça já foi referida, dispenso e retenho-me no retrato. Este homem foi marcadamente influenciado por cinco pessoas:
-a sua mãe, Madalena Salima, de quem ele retém os ensinamentos básicos, porém estruturantes e visionários. Não a conheci, mas quando ele a descreve, fá-lo com tanta paixão e mestria, que quase acredito que a conheci.
-o seu irmão Oliveira, que não conheço, de quem ele fala amiúde, todavia nos momentos cruciais, ou quando pretende buscar um exemplo que vale por mil palavras, e ipso facto, servem de concreto, no sentido de engenharia civil, daquilo que acredita como valor.
-David Alone seu dirigente profissional, que nutria por ele e vice-versa uma estima especial. Dessa estima, estabeleceu-se uma espécie de compromisso intelectual, em que ele, o Fijamo, foi buscar as coordenadas e o gosto pelo saber. Eles divergiam, num aspecto essencial; Alone, simples e modesto, o meu amigo complicado e temperamental, mas depois compensa(va) com a racionalidade.
-**
E esse gosto pelo saber, levou-o a história, e foi aí que ele a revisitou, desde a Pré, a Idade Antiga, a Média, a Moderna e a Contemporânea. Nesse percurso, conviveu com matemáticos, filósofos, escritores, cientistas; e quis ele, que a marca fosse indelével, de tal modo que foi emprestar-lha a nomenclatura da sua prole masculina; ora então vejamos para aferir:
-ao mais velho Heitor, foi buscar a mitologia grega, onde este um príncipe de Tróia, foi um dos maiores guerreiros, cantado pelo Homero, que quando a ele se referia no seu poema épico, Ilíada, o designava ora de “domador de cavalos” ora de “espada flamejante”.
-ao segundo deu-lhe o nome de Eureka, Heureca, uma interjeição grega, usada, quando alguém encontra ou descobre algo. Expressão que se atribui ao Arquimedes (matemático grego), quando descobriu, no banho, a lei do peso específico do corpo.

Abro aqui um parêntese para especificar, que para as meninas, ele preferiu ir para os aspectos sentimentais e puramente culturais ( Loveness e Tchanaze), aliás, mostrando aqui a sua multi-discipline, ou quiçá realçando a sua faceta poliglota.

Isso para dizer, quase concluindo, que o meu amigo, Ismael Fijamo, antes de entrar para a academia, era um académico informal, e que apesar da idade madura, metendo-se numa aventura não muito vulgar, e não obstante tudo a desfavor, por causa da antecâmara da senilidade, não me admirei, quando informalmente, vários alunos, colegas seus, o consideraram melhor aluno do curso, -“labour ominia vincit improbus”. Antes de terminar, e parafraseando os ensinamentos do nosso grande criminalista, António Frangulus, dizer que o que acabou de ser dito, não é um juízo de suspeita, nem sequer de probabilidade, mas sim um julgamento, com a sentença transitada em julgado. E agora, nos finalmentes, dizer que, tenho a certeza, conhecendo a sua perspicácia e argúcia, munido do manancial de conhecimentos jurídicos legais recém adquiridos, que o meu amigo fará muito, do pouco tempo que lhe sobra, isso se atentarmos as estatísticas de esperança de vida, para se destacar com zelo, competência e brio, como profissional da sua área. Bem haja, o licenciado Ismael Fijamo Sadea.
Amilcar Gil de Melo

PS. Perdoem-me os viciados do termo doutor, repararam que em momento nenhum utilizei essa designação. Isso porque, tendo muito respeito pelo esforço do meu amigo, e sabendo ele, que muitas vezes utilizo esse termo no sentido irónico, as vezes até pejorativo; sem desprimor dos que realmente são, posto que em cada pedra que se chuta hoje encontramos os que eu designo de doutores micro-ondas ou doutores sem ciência, e que de doutos nada tem; não quis que, por equívoco ou analogia, melindrasse o meu amigo, pensando que o incluía nesse lote de embalagens vazias e nada atractivas.                              
*Wickpedia

**faltam aqui os outros dois, só que, são contas do outros rosários e em consequência não são para aqui desfiados.

sábado, 7 de março de 2015

Muvure, a árvore chuveiro




Na localidade ou povoado de Chimucono, localizado a mais ou menos vinte quilómetros de Dombe, na província de Manica, vi esta árvore que me cativou pela exuberância da sua copa, bem frondosa. Mal parei fui tirar umas fotografias. Um senhor, lá residente, comerciante e agricultor, conhecido nos meandros do amigos por “bóer”, mas cuja graça Vilaça, ficou intrigado pelo meu fascínio pela árvore, e em consequência prontificou-se de imediato em dar-me detalhes da mesma: nome local, Muvure, que significa sombra, cujas folhas dificilmente caem, porém quando acontece, numa altura própria, e começam a  folhear de novo, toda a copa se transforma num chuveiro natural, em que permanentemente pingos de agua vão caindo, e deixam o local debaixo da copa, húmido, e segundo o mesmo senhor, acontece no verão. Por outro lado, informou-me que há menos de um mês esteve uma equipe de biólogos estrangeiros no local estudando a árvore. Outro pormenor interessante, é que normalmente estas árvores nascem aos pares, um macho e uma fêmea, num intervalo entre elas não mais de 600 metros. E o fenómeno atrás referido apenas acontece com a fêmea.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O poder de Estado



Sem entrar em detalhes da função do Estado, já diversas vezes explanado pelos competentes tratadistas, mas a minha percepção e desejo, é que o Estado deveria ter mais acções e principalmente as que não necessitam de grandes dispêndios orçamentais, porém acções que tenham efeitos a partir do empenho dos seus agentes. Focando fundamentalmente o aspecto de controlo e repressão como aspectos a centrar-me, sem contudo querer significar que o papel do Estado se resuma a esses elementos.

Deixem-me contar-vos um facto que presenciei, num pais que não vou dizer o nome para evitar sugestões. Estava eu procurando por um determinado endereço, com o qual não atinava e alguém me diz, para me dirigir a um polícia que decerto me iria indicar. Lá vou eu meio a medo e de coragem, em direcção a um polícia de compleição física que seguramente se pode classificar de taludo, na verdadeira acepção da palavra, e pergunto-o, ao que curiosamente, bem solicito com uma manifesta simpatia, me indica e sugere a possibilidade de me levar ate ao local, ao que eu prontamente rejeitei em virtude de já ter entendido. E comento com o meu companheiro de altura, a solicitude e a simpatia, que no meu entender, mais parecia de uma assistente de bordo ou de uma enfermeira que se preze, que de um policia. Localizado o endereço, resolvida a questão, lá nos fizemos a rua, no sentido inverso. Qual é o nosso espanto, o mesmo policia que irradiou simpatia quanto bastasse, estava com os dentes arreganhados e cassetete em punho, pondo nos eixos um cidadão que se confundiu e pôs em causa a sua autoridade; ou melhor a autoridade do Estado de quem ele era o seu agente.

Essa história leva-me a uma conversa tida naquelas tardes amenas, de lazer, em que se discutia, no caso, se aos pais se devia respeito ou, se o medo é quem imperava no processo de educação dos filhos. Depois de muita opinião baseada em factos ou suposições, alguém disse e com razão que nos deixássemos de veleidades, que no processo de educação o medo impera em primeiro lugar, e no progenitor que o sabe dosear e aplicar em momentos oportunos, consegue trazer o equilíbrio do respeito, cuja origem é o medo sem dúvida nenhuma. Reflecti e recordei-me que aquela aversão primeira, ao sacrifício de ir a escola e fazer deveres, enquanto outros no meu bairro, despendiam os seus tempos em brincadeiras e malandragens a tempo inteiro, só foi possível desfazer ou anular, graças a ditadura do meu pai, que não dava margens para discussão em algumas matérias, e se porventura ensaiasse desobediência, uma sova era correctivo quanto bastasse; e se ontem via como inflexibilidade, hoje só tenho a agradecer a agradável e útil ditadura. E perguntem-me, se a tareia era o critério de educação do meu pai, e eu dir-vos-ei que não, posto que meus irmãos nunca apanharam, já porque a prontidão de resposta nas ordens por ele emanadas, eram imediatas por parte dos meus irmãos. E só entrei na linha, com o correctivo adequado ao meu comportamento.
                                                                              Foto retirada do Google

Hoje faz-me espécie, ver os cabos de energia a serem roubados por moçambicanos, sem que medidas suficientemente enérgicas e na proporção do prejuízo sejam tomadas de maneira efectiva e eficaz. Preferimos ver milhões de moçambicanos – no caso dos roubos de cabo acontecido agora quando das cheias da Zambézia – os quais ficaram privados de alimentos e provavelmente de assistência adequada de saúde, por defender os direitos humanos de meia dúzia de ladrões. E os direitos da população não apenas de Nampula e Cabo Delegado bem como de parte da população da Zambézia ficam aonde? Hoje vejo, nas nossas cidades contra todas as regras e princípios de saneamento, lixo a ser deixado a qualquer hora e a ser recolhido pelo Conselho Municipal a qualquer hora também, e com surtos de cólera que nos custam milhões em nome de uma demo-anarquia. Hoje vejo, os motoristas com a maior das veleidades fazerem regra a violação das normas de condução. Hoje por hoje, vejo estrangeiros com facilidades, tirar o Bilhete de Identidade – pondo em causa a soberania - e os moçambicanos com imensas dificuldades de possuí-lo e aqueles tirarem o sarro com estes. Esses mesmos estrangeiros chegarem e usurparem o poder de Estado – pondo em causa a soberania - matando animais protegidos, retirando recursos naturais ilegalmente e com a maior das naturalidades e nós completamente atados, porque o poder de Estado confunde direito humanos com permissividade anárquica e perigosa, que põe em causa toda uma nação sustentável.

Se me perguntarem o que prefiro como sistema politico, direi, que prefiro a democracia, mas uma democracia robusta e equilibrada que a par da legalidade e simpatia e o bem servir dos seus agentes, esteja lado a lado com a intransigência ante ao fazer cumprir o que constitui norma, nem que para isso tenha que reprimir e por em causa o direito humano individual na salvaguarda do colectivo, do que a permissividade que permite a ditadura dos ladrões, sequestradores e afins, conferindo-lhes maior direitos humanos que a dos honestos e trabalhadores.
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PS. Aliás, não é novidade ver-se estrangeiros bem articulados com algumas franjas do poder, ou com algumas notinhas no bolso, humilharem moçambicanos, quantas vezes gratuitamente. Sou contra a xenofobia, bem como super contra estrangeiros humilharem moçambicanos em Moçambique; sugere-me sempre uma outra luta de libertação nacional.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Chitima: o que queremos afinal?!



Tem piada que quando fui a Chitima, pela primeiríssima vez, vi a sinalética, dizia Estima, mas parece que a recuperação do nome autêntico, fez com que alguns perdessem a autenticidade. A propósito de quê, esta diarreia verbal, podem perguntar os caros leitores.
Nunca me simpatizei com o termo auto-estima. Não me perguntem porquê, porque não sei. Porém, sei que, talvez o equivalente, tem a ver com o orgulho, orgulho que tens que ter de ti próprio. Provavelmente aqui se encontre a explicação da minha aversão; na formação ou formatação religiosa que tive,  que condenava o orgulho. Mas religiões a parte. Tanto quanto pude perceber, a auto-estima tinha como objectivo, que o moçambicano se valorizasse, posto que todo o processo de colonização teve como fito, desvalorizar, ou melhor espezinhar todos os valores moçambicanos. E o conceito de auto-estima apareceu, como forma de dizer que nós tínhamos que nos resgatar em termos de valores. E politicamente falando, estamos saindo da ressaca da auto-estima como slogan. Porém, olhando para a catástrofe de Chitima dá-me a sensação de, qualquer coisa que não surtiu efeito.
Imagino-me numa festa ou tertúlia de amigos, onde exclusivamente fomos chamados para beber whisky, composto por cinco garrafas ou garrafões de cinco litros, como as que aparecem algumas vezes por aí. Não sei porque malfadada sorte, aparece alguém que não gosta de nós ou do nosso convívio e sorrateiro coloca um veneno, numas estraquinina, noutras cianeto, dentro do john walker. Em consequência, começamos com aqueles desarranjos intestinais, que vira para uns intoxicação e para outros envenenamento; e uns rapidamente vão ao hospital, outros não; por motivos que só, cada um pode saber ( e eu posso tentar adivinhar, desde o receio de ser mal atendido, bem como porque com conhecimento de causa, não quero que o meu mal, que eu acho menor, vire num óbito certo, porque os nossos hospitais viraram morgue, por razões como incompetência, desleixo, incúria, etc. etc.). Porém, o sucedido pela amplitude, levanta um aracéu de todo o tamanho, movimentando o país inteiro, como é comum em casos que tais, posto que para uns, políticos, é altura de aparecer para mostrar identidade, para outros, comerciantes, é altura de fingir solidariedade para mostrar responsabilidade social, fingidos em atonia de estarmos todos consternados, mas logo em seguida, vamos para a boate mais próxima, esquecidos do próximo que nos é deveras distante. Repórteres são mobilizados; e decerto que nas reportagens, aparecerá, e com razão, que o whisky foi envenenado e vitimou tantas pessoas, das quais x morreram e outras tantas internadas, mas com alta. Ninguém dirá que o pombhe, alias, whisky matou, mas sim que foi contaminado com um veneno que matou uns e a outros provocou sérios distúrbios.
Porquê que o envenenamento do pombhe, vai pôr em causa o pombhe?! O whisky é uma bebida tradicional escocesa que se industrializou, bem como o gin é uma bebida tradicional inglesa que se industrializou, assim como a amarula é uma bebida tradicional - canhu se quiserem - que os sul-africanos industrializaram.
Foi com tamanha consternação que vi, do acidente fatídico, o objecto de acusação na vez de ser o veneno, envenenarem midiaticamente a nossa bebida tradicional, com argumentos da forma e meios de a confeccionarem como se de repente todas as culpas do nível alcoólico do país recaísse sobre a secular bebida, como se seculares resistidas de todas as perseguições coloniais, voltassem num pesadelo. De tal modo que, vi e tive a sensação de estar, um jornalista, num embaraço imprevisto, quando numa pergunta canhestra, o que estava a beber, esperando que ele dissesse pombhe, a um consumidor azougue, e ele responde astutamente, uma bebida alcoólica, e o repórter se perde lancinante, sem saber o que perguntar em seguida, de tão formatado que ia. Mas todo esse inesperado ataque ao pombhe, deu-me a sensação que em Estima, ou melhor, Chitima se perdeu a auto-estima, desbaratando o que é nosso, imputando toda culpa do nível alcoólico nela, esquecendo-nos de outras mais incentivadoras e mais perniciosas como, os travel, os paradise, e etc., etc..  

Em Portugal, para exemplo, nos lagares como é que se esmaga a uva, produzindo o mosto do vinho?

Imagine, caro compatriota, se é capaz, produzirmos uma bebida de exportação, com o mosto feito de canhu, jambalão ou caju, em que meia dúzia de pretinhos, se pusessem a esmagar com os pés, o que não viria nos midias, um autêntico opróbrio, falando das exalações mefíticas do chulé, suor e catinga, a mistura com aspectos de sanidade, de modos que seriamos liminarmente banidos de exportar a dita cuja. Mas o vinho como é produzido por quem produz, até pagamos a preço de ouro, e bebemo-lo chamando o néctar dos deuses.
Se há algum mal na forma de confeccionar pombhe, o caju, o canhu, na vez de o combatermos, devemos é arranjar meios de potenciar os produtores, de modo a produzi-la comme il faut; posto que esse vão combate, me leva aos tempos desagradáveis.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sessenta anos de um jovem vivido …nas disciplinas da vida



Saber que um dia fui espermatozóide; com o orgulho de ter sido o mais veloz, velocidade que hoje já não tenho, e ter em consequência cruzado com um óvulo, que se me fez, numa metamorfose milenar, e consentaneamente chamaram-me feto, e que de tão traquino que era, expulsaram-me da primeira residência depois de nove meses de insubordinação, para virar perculsa criança, num mundo tão inóspito quanto o nosso; é assustador. Precisamente por isso, andei outros mais seis a nove meses meio assustado e atarantado, de modos que titubeante me fui endireitando. E dizem que fui um bebé bonito, todavia assustado fico, com a transfiguração que sofri; vejam o que me sobro! Desse bebé bonito, dependente e sei lá que mais, nada sei, porque pouco o quase nada me contaram, senão que a primeira conta que aprendi a realizar foi a subtracção, bem antes de entrar na academia. Parti muitos púcaros e copos com a maior das alegrias, vejam só que sacanice!, se alguma vez em são pensar, se pode conceber um indivíduo que subtrai património, ainda por cima alheio, com satisfação. Decididamente já nasci maluco. Mas maluco ou não, o meu pai que já conhecia remédio para tal dislate, foi-me sovando pepticamente, de modo a entrar nos eixos. Mas lá diz o ditado, pau que nasce torto morre torto. De tal sorte que torto continuei, e em resultado a terapêutica continuou com uns avisos de permeio, que pelos vistos pouco adiantou.

Fiz-me menino e moço, lingrinhas porém garboso e maluco, e teria outro remédio?, metido que fui na aventura escolar, para além da leitura e da escrita, o que hoje não é necessário, porque essa etapa foi abolida, aprendi também outras operações aritméticas. Multipliquei sonhos e receios, somei alegrias e tristezas subtrai, e lá mais para a frente, complicaram tudo e renomearam-lhe matemática. Nessa aí, achei a raiz quadrada do amor, dividi meu corpo, entre parênteses, claro, já crescido mas não taludo, por muitas mulheres – sempre fui muito socialista nessa matéria – e enquanto isso, continuava a ler e a escrever. Escrevia no livro da vida! Mas porque a vida assim determina, fui metido em outras operações, matemáticas: derivei, integrei, progredi, fui função, impuseram-me limites. Revoltado com os limites, pus-me a fazer análises, muito longe de saber que me havia metido numa mata, mata ou moita já pouco importava, pelo que tive de fazer arranjos, que não surtiram efeitos e levaram-me a permutações que acabaram em combinações, algumas delas bem explosivas demais, de modo que estar vivo até hoje; puro milagre!!! E como na escola da vida e não só, outras matérias são chamadas, fui obrigado a aprender a biologia, da qual saltei para a anatomia, mas porque não, associei a arqueologia, onde da mera contemplação anatómica evolui na arqueologia do corpo no feminino. E na arqueologia desse corpo adusto, embrenhei-me diletante, na vegetação capilar; umas vezes restolhos, outras dédalo de concupiscentes florestas; bem como no tecido da pele, explorei lúbricos desertos e planícies, escalei flexuosos e sobranceiros montes e dunas, embrenhei-me em iridescentes lagos e alcantiladas grutas, escavei rútilos segredos e aqui encontrei: a boceta de Pandora* para uns, a alquimia da vida para mim.

Porém a história se fez presente, sendo; vivi, ouvi e contei muitas histórias… e aqui estou eu a contar-vos histórias da minha vida algebricamente e não só, falando! Mas também o quê que se pode contar de alguém na terceira idade? Quanto mais não seja contar histórias, umas bem e outras mal contadas. Uma coisa contudo me oponho veementemente; contar histórias que comecem com: “nos meus tempos”, “quando eu era”, porque este é o meu tempo e continuo sendo. E eis-me!

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*boceta de Pandora: origem de todos os males. (Dicionário da língua portuguesa de Eduardo Pinheiro)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A municipalização assumida



Há alguns poderes locais que começam a dar-me óptimos sinais de compreender a democracia no seu verdadeiro sentido, sem pôr em causa a força do Estado e por outro a participação da população: evitar as exações e não permitir a atonia dos sistema. Um equilíbrio difícil mas absolutamente necessário. Levar que as questões técnicas e científicas e normativas não sejam desbaratadas em nome de um falso populismo.

Dos actos de exercício do poder em que o interesse geral predominou a desfavor de grupelhos económicos estabelecidos, senti nos primícios actos da edilidade de Nampula; uma chamada de atenção aos viciadores do sistema de urbanização, com construções fora do estabelecido e que punham em causa os interesses de uma cidade que se preze, que não haveria e não houve ipso facto contemplações. No Concelho Municipal do Chimóio senti um trabalho de ordenamento territorial quase que irrepreensível, onde não sendo de todo perfeito mas quanto a mim a todos títulos louvável. As construções tem o mínimo de controlo, e são erguidas em locais previamente estabelecidas e os erguidores sabem com antecedência onde vão passar as ruas. Do meu ponto de vista um trabalho que visa um futuro: denota-se aqui o mínimo de planeamento urbano, que falha em muito do ordenamento territorial do nosso país.  Hoje, congratulo-me com o noviciado Concelho Municipal da Matola que injuriu contra as construções, destruindo-as, imune ao resmonear dos cujos, vindicando as bacias de escoamento e retenção das águas, em nome de uma atitude claramente tribuna, considerando irritas todas as decisões tomadas pelo anterior elenco, de autorizar construções em locais claramente impróprios e atentórios ao interesse da maioria e que punham em causa os mais básicos direitos humanos.


Contrariamente a  alguns outros municípios, e não apenas como o caso de alguns poderes, que parecem funcionar ao sabor de eleições, transformados em organismos valetudinários, e que dá a franca sensação de que os seus funcionários se julgam empregados numa sinecura. E por isso, dão-se ao luxo de permitir desmandos mais básicos do seu ordenamento ou função. Mas o meu centro de análise são os municípios exemplares. Fiquei gratamente abismado quando há uns bons meses atrás fui a Mutare, Zimbabwe, e logo após a saída da nossa fronteira, do lado direito vi máquinas derrubando árvores e terraplanando. Informaram-me que eram máquinas do Estado trabalhando em uma zona de expansão. Pelo que primeiro avançam com as infra-estruturas básicas, como estradas, electricidade, água, saneamento, segurança, e só depois se atribuem áreas para as respectivas construções habitacionais convinientemente ordenadas. É tão oneroso seguir esse exemplo do vizinho?


E muitos são exemplos de ordenamento das coisas, que os municípios deveriam fazer sem custo adicional, que não o fazem. Dizia eu que o Estado até ao nível do poder local deve encontrar um equilíbrio de modo a evitar as exações e não permitir a atonia dos sistema. Nos sistemas democráticos o Estado, na sua função de influir deve educar, persuadir, mobilizar, informar e prestar contas. Porém isso não deve confundir ao ponto de meia dúzia de pessoas, por exemplo, porem em causa a saúde pública dos seus outros concidadãos. O estado não deve permitir que as regras pré-estabelecidas sejam violadas por alguém que se acha no direito de fazê-las porque está ébrio, por comodidade, ou outro caricato pretexto. Vários exemplos de incumprimento, se dão, não porque não haja verbas, mas apenas porque fiscais e funcionários, e toda a cadeia de comando, apenas recebem do erário público e não velam pelo que devem. Fico no arrolamento de alguns exemplos: a ocupação de terrenos, onde construções com grande desalinho das normas de engenharia, outras desprezando ostensivamente efeitos nefastos nos seus vizinhos que já por lá se encontravam instalados, como por exemplo em plena urbe ver-se construções novas (muitas delas denunciadas) em frente de outras já estabelecidas há dezenas de anos, bem como a existência de latrinas em plena cidade, porque se esqueceram na altura da construção, de pensar nos anexos para os empregados domésticos( quem aprovou essa planta?); depósito de lixo a des-horas e sem o mínimo de cuidados, muitas vezes em locais que eles próprios entendem que se devem tornar depósitos de lixo; oficinas em locais de residência onde os outros tem que suportar batidas de chapa e buzinadelas constantes; carros avariarem-se em plena cidade e nela serem reparados, derramando diesel, diesel um visceral inimigo do alcatrão; no período de festas meia dúzia de sujeitos arruaceiros partir garrafas em pela estrada; ruas de sentido único, por necessidade objectiva, reestabelecidas por sinais apropriados, o singular, por comodidade, desmontar os sinais e efectivamente as ruas virarem de sentido duplo (democracia ou anarquia?!); defecação a céu aberto em plena marginal, quantas vezes a luz do dia. Não pode, meia dúzia provocarem surtos, como o de cólera, por exemplo, em que aos seis não é reprimido na medida exacta, pondo em causa 600 que acabam saindo caríssimo ao Estado, com tratamentos e risco de perdas de vidas humanas. O Estado deve educar, persuadir, mobilizar, informar e prestar contas; mas também quando necessário, para o bem da população geral, deve coagir e reprimir aos prevaricadores que põem em causa a convivência sã e o desenvolvimento, e se necessário e imperativo, coartar a liberdade do indivíduo, em nome dos limites e dos abusos.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Quando os alarmes soam

Quanto à mim, não há queda pluviométrica suficiente, por enquanto, na nossa província, a Zambézia, que justifique o caudal que os rios comportam neste momento. Já vi chuvas mais intensas e mais extensas na minha vida, sem contudo terem provocado os danos que estas, de cuja ausência nos queixávamos há poucos dias, para num lapso de tempo, se ter transformado em quase efeito diluviano. Se nos reportarmos aos tempos do antanho, as chuvas começavam mais ou menos lá para os meses de Novembro e terminavam cá para o mês de Março, variando claramente de intensidade. Estas começaram praticamente no final do mês de Dezembro e estamos no princípio do mês de Janeiro. E já são notícias reportando efeitos quase tsunâmicos.
                                 
      
Não faz muito tempo, vi no nosso parlamento um grupo de deputados defenderem que a nossa província em particular não estava a sofrer de desmatamento, claramente em desacordo com os especialistas da área, e de grupos de pressão independente, que já chamavam atenção para o fenómenos extremos da natureza como consequência. E algumas vezes em grupos de opinião diversificada, nas conversas com os amigos, alguns defensores do sector optimista, ouvi, dizerem, que esses grupos de pressão estavam a mando de alguns interesses ocidentais ou coisa que o valha, porque estes estavam com dores de cotovelos por causa da nossa relação com a China.

Se olharmos atentamente para a natureza, com especial realce para o momento de quedas pluviométricas, notaremos que num local sem árvore ou arbusto, os pingos caem e, no caso de um plano inclinado, e quando tem um determinado volume vão correndo, em conjunto,  para onde a inclinação do terreno permite; e interrompida a chuva,  seca o mais rapidamente possível, sinal de que quase toda água se movimentou e nenhuma se reteve. Num local onde há vegetação, árvores, mesmo depois de a chuva terminada, há pingos que vão caindo das mesmas, o que quer dizer que alguma parte da chuva ficou retida nelas, diminuindo desse jeito o volume de água que corre ao mesmo tempo. Se houver vegetação rasteira, veremos que uma boa quantidade de água fica retida no solo, escorrendo uma parte a posterior e outra infiltrada na terra, e uma outra desaparecendo por evaporação. Peguemos esta imagem, ampliemo-la a dimensão a montante dos nossos leitos de rios. Não será esse desmatamento que pode justificar que chuva normal, se transfigure em caudais a jusante de se tirar o chapéu, como por exemplo o Licungo e o Lugela com níveis sem paralelo? Não será essa desmatação desmentida, mas que vemos a olho nu, que provocam o desaparecimento desses núcleos de vegetação, moitas e florestas ciliares, que trazem os seus efeitos tsunâmicos? Não estará a natureza avisando-nos da utilização abusiva dos seus recursos? As minhas interrogações tem a sua base no facto de, onde buscar explicação no facto de, logo no início da estação das chuvas, em que as terras andam tão sequiosas de água,  quedas pluviométricas de uma a duas semana e não muito mais que isso, no caso vertente da Zambézia, leitos dos rios que andavam tão hécticos, de repente virem obesos e transbordantes??!! Não estarão aqui a fazer tremenda falta os elementos de retenção, da natureza, com maior agravante, a montante dos rios na Zambézia, ora em julgamento, onde por sinal é lá onde estão as grandes explorações de madeira, como é o caso de Lugela, Tacuane, mas não só, e que por agravante como locais de grandes inclinações de terreno, por causa das montanhas, aumentam a velocidade das águas, caindo dessas encostas, já mais despidas de tanta avidez exploratória, fazendo os tais volumes e velocidades destrutivas?!


Se as razões que eu evoco por percepção, forem, como julgo que são, uma das causas desses descalabros tenebrosos da natureza, não estaremos pagando um preço demasiado caro as facturas, não apenas das nossas proclamadíssimas infra-estruturas, que acabam elas próprias sendo destruidas, bem como as facturas do passado? A relação custo benefício, vem-nos trazendo vantagens ou desvantagens? São perguntas que se nos impõe como cidadãos! E neste caso é pertinente, nem que estejamos serrazinando com estridor.

Ps: como é meu hábito, sempre que posso, ponho as minhas idéias sob escrutínio de pessoas chegadas e posso afirmar que já recebi contestações. Fiquei pensando e decidi entre o silêncio cúmplice e a celeuma, optei pelo risco do desacerto.

Nota: fotos retiradas do facebook