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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Chitima: o que queremos afinal?!



Tem piada que quando fui a Chitima, pela primeiríssima vez, vi a sinalética, dizia Estima, mas parece que a recuperação do nome autêntico, fez com que alguns perdessem a autenticidade. A propósito de quê, esta diarreia verbal, podem perguntar os caros leitores.
Nunca me simpatizei com o termo auto-estima. Não me perguntem porquê, porque não sei. Porém, sei que, talvez o equivalente, tem a ver com o orgulho, orgulho que tens que ter de ti próprio. Provavelmente aqui se encontre a explicação da minha aversão; na formação ou formatação religiosa que tive,  que condenava o orgulho. Mas religiões a parte. Tanto quanto pude perceber, a auto-estima tinha como objectivo, que o moçambicano se valorizasse, posto que todo o processo de colonização teve como fito, desvalorizar, ou melhor espezinhar todos os valores moçambicanos. E o conceito de auto-estima apareceu, como forma de dizer que nós tínhamos que nos resgatar em termos de valores. E politicamente falando, estamos saindo da ressaca da auto-estima como slogan. Porém, olhando para a catástrofe de Chitima dá-me a sensação de, qualquer coisa que não surtiu efeito.
Imagino-me numa festa ou tertúlia de amigos, onde exclusivamente fomos chamados para beber whisky, composto por cinco garrafas ou garrafões de cinco litros, como as que aparecem algumas vezes por aí. Não sei porque malfadada sorte, aparece alguém que não gosta de nós ou do nosso convívio e sorrateiro coloca um veneno, numas estraquinina, noutras cianeto, dentro do john walker. Em consequência, começamos com aqueles desarranjos intestinais, que vira para uns intoxicação e para outros envenenamento; e uns rapidamente vão ao hospital, outros não; por motivos que só, cada um pode saber ( e eu posso tentar adivinhar, desde o receio de ser mal atendido, bem como porque com conhecimento de causa, não quero que o meu mal, que eu acho menor, vire num óbito certo, porque os nossos hospitais viraram morgue, por razões como incompetência, desleixo, incúria, etc. etc.). Porém, o sucedido pela amplitude, levanta um aracéu de todo o tamanho, movimentando o país inteiro, como é comum em casos que tais, posto que para uns, políticos, é altura de aparecer para mostrar identidade, para outros, comerciantes, é altura de fingir solidariedade para mostrar responsabilidade social, fingidos em atonia de estarmos todos consternados, mas logo em seguida, vamos para a boate mais próxima, esquecidos do próximo que nos é deveras distante. Repórteres são mobilizados; e decerto que nas reportagens, aparecerá, e com razão, que o whisky foi envenenado e vitimou tantas pessoas, das quais x morreram e outras tantas internadas, mas com alta. Ninguém dirá que o pombhe, alias, whisky matou, mas sim que foi contaminado com um veneno que matou uns e a outros provocou sérios distúrbios.
Porquê que o envenenamento do pombhe, vai pôr em causa o pombhe?! O whisky é uma bebida tradicional escocesa que se industrializou, bem como o gin é uma bebida tradicional inglesa que se industrializou, assim como a amarula é uma bebida tradicional - canhu se quiserem - que os sul-africanos industrializaram.
Foi com tamanha consternação que vi, do acidente fatídico, o objecto de acusação na vez de ser o veneno, envenenarem midiaticamente a nossa bebida tradicional, com argumentos da forma e meios de a confeccionarem como se de repente todas as culpas do nível alcoólico do país recaísse sobre a secular bebida, como se seculares resistidas de todas as perseguições coloniais, voltassem num pesadelo. De tal modo que, vi e tive a sensação de estar, um jornalista, num embaraço imprevisto, quando numa pergunta canhestra, o que estava a beber, esperando que ele dissesse pombhe, a um consumidor azougue, e ele responde astutamente, uma bebida alcoólica, e o repórter se perde lancinante, sem saber o que perguntar em seguida, de tão formatado que ia. Mas todo esse inesperado ataque ao pombhe, deu-me a sensação que em Estima, ou melhor, Chitima se perdeu a auto-estima, desbaratando o que é nosso, imputando toda culpa do nível alcoólico nela, esquecendo-nos de outras mais incentivadoras e mais perniciosas como, os travel, os paradise, e etc., etc..  

Em Portugal, para exemplo, nos lagares como é que se esmaga a uva, produzindo o mosto do vinho?

Imagine, caro compatriota, se é capaz, produzirmos uma bebida de exportação, com o mosto feito de canhu, jambalão ou caju, em que meia dúzia de pretinhos, se pusessem a esmagar com os pés, o que não viria nos midias, um autêntico opróbrio, falando das exalações mefíticas do chulé, suor e catinga, a mistura com aspectos de sanidade, de modos que seriamos liminarmente banidos de exportar a dita cuja. Mas o vinho como é produzido por quem produz, até pagamos a preço de ouro, e bebemo-lo chamando o néctar dos deuses.
Se há algum mal na forma de confeccionar pombhe, o caju, o canhu, na vez de o combatermos, devemos é arranjar meios de potenciar os produtores, de modo a produzi-la comme il faut; posto que esse vão combate, me leva aos tempos desagradáveis.

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