Tem piada que quando fui a
Chitima, pela primeiríssima vez, vi a sinalética, dizia Estima, mas parece que
a recuperação do nome autêntico, fez com que alguns perdessem a autenticidade.
A propósito de quê, esta diarreia verbal, podem perguntar os caros leitores.
Nunca me simpatizei com o termo
auto-estima. Não me perguntem porquê, porque não sei. Porém, sei que, talvez o
equivalente, tem a ver com o orgulho, orgulho que tens que ter de ti próprio. Provavelmente
aqui se encontre a explicação da minha aversão; na formação ou formatação
religiosa que tive, que condenava o
orgulho. Mas religiões a parte. Tanto quanto pude perceber, a auto-estima tinha
como objectivo, que o moçambicano se valorizasse, posto que todo o processo de
colonização teve como fito, desvalorizar, ou melhor espezinhar todos os valores
moçambicanos. E o conceito de auto-estima apareceu, como forma de dizer que nós
tínhamos que nos resgatar em termos de valores. E politicamente falando,
estamos saindo da ressaca da auto-estima como slogan. Porém, olhando para a
catástrofe de Chitima dá-me a sensação de, qualquer coisa que não surtiu
efeito.
Imagino-me numa festa ou tertúlia
de amigos, onde exclusivamente fomos chamados para beber whisky, composto por
cinco garrafas ou garrafões de cinco litros, como as que aparecem algumas vezes
por aí. Não sei porque malfadada sorte, aparece alguém que não gosta de nós ou
do nosso convívio e sorrateiro coloca um veneno, numas estraquinina, noutras
cianeto, dentro do john walker. Em consequência, começamos com aqueles
desarranjos intestinais, que vira para uns intoxicação e para outros
envenenamento; e uns rapidamente vão ao hospital, outros não; por motivos que só,
cada um pode saber ( e eu posso tentar adivinhar, desde o receio de ser mal
atendido, bem como porque com conhecimento de causa, não quero que o meu mal,
que eu acho menor, vire num óbito certo, porque os nossos hospitais viraram
morgue, por razões como incompetência, desleixo, incúria, etc. etc.). Porém, o
sucedido pela amplitude, levanta um aracéu de todo o tamanho, movimentando o
país inteiro, como é comum em casos que tais, posto que para uns, políticos, é
altura de aparecer para mostrar identidade, para outros, comerciantes, é altura
de fingir solidariedade para mostrar responsabilidade social, fingidos em
atonia de estarmos todos consternados, mas logo em seguida, vamos para a boate
mais próxima, esquecidos do próximo que nos é deveras distante. Repórteres são
mobilizados; e decerto que nas reportagens, aparecerá, e com razão, que o
whisky foi envenenado e vitimou tantas pessoas, das quais x morreram e outras
tantas internadas, mas com alta. Ninguém dirá que o pombhe, alias, whisky matou,
mas sim que foi contaminado com um veneno que matou uns e a outros provocou
sérios distúrbios.
Porquê que o envenenamento do
pombhe, vai pôr em causa o pombhe?! O whisky é uma bebida tradicional escocesa
que se industrializou, bem como o gin é uma bebida tradicional inglesa que se
industrializou, assim como a amarula é uma bebida tradicional - canhu se
quiserem - que os sul-africanos industrializaram.
Foi com tamanha consternação que
vi, do acidente fatídico, o objecto de acusação na vez de ser o veneno,
envenenarem midiaticamente a nossa bebida tradicional, com argumentos da forma
e meios de a confeccionarem como se de repente todas as culpas do nível
alcoólico do país recaísse sobre a secular bebida, como se seculares resistidas
de todas as perseguições coloniais, voltassem num pesadelo. De tal modo que, vi
e tive a sensação de estar, um jornalista, num embaraço imprevisto, quando numa
pergunta canhestra, o que estava a beber, esperando que ele dissesse pombhe, a
um consumidor azougue, e ele responde astutamente, uma bebida alcoólica, e o repórter
se perde lancinante, sem saber o que perguntar em seguida, de tão formatado que
ia. Mas todo esse inesperado ataque ao pombhe, deu-me a sensação que em Estima,
ou melhor, Chitima se perdeu a auto-estima, desbaratando o que é nosso,
imputando toda culpa do nível alcoólico nela, esquecendo-nos de outras mais
incentivadoras e mais perniciosas como, os travel, os paradise, e etc., etc..
Em Portugal, para exemplo, nos
lagares como é que se esmaga a uva, produzindo o mosto do vinho?
Imagine, caro compatriota, se é
capaz, produzirmos uma bebida de exportação, com o mosto feito de canhu, jambalão
ou caju, em que meia dúzia de pretinhos, se pusessem a esmagar com os pés, o
que não viria nos midias, um autêntico opróbrio, falando das exalações
mefíticas do chulé, suor e catinga, a mistura com aspectos de sanidade, de
modos que seriamos liminarmente banidos de exportar a dita cuja. Mas o vinho
como é produzido por quem produz, até pagamos a preço de ouro, e bebemo-lo
chamando o néctar dos deuses.
Se há algum mal na forma de
confeccionar pombhe, o caju, o canhu, na vez de o combatermos, devemos é
arranjar meios de potenciar os produtores, de modo a produzi-la comme il faut; posto que esse vão
combate, me leva aos tempos desagradáveis.
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