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sábado, 20 de abril de 2013

Necrópsia de Muxúnguê


por Lo-Chi




A unanimidade da necessidade de diálogo e não a troca de palavras,  a ânsia de uma paz a qualquer preço, menos a guerra, a aversão à arrogância de alguns, a expressão de descontentamento, a necessidade de unidade, e a pergunta onde estávamos nós, para que esta situação tenha chegado até onde chegou, cresce, e obriga-nos a repensar o pretérito, quer o imediato como o distante.

Deve-se dialogar, dizemos e é bom especificar, avaliando o passado onde quem tem a maioria, não tem só por isso sempre razão, principalmente quando não tendo. Deve ter a humildade suficiente, para dotar-se de capacidade de ouvir e atender o que não é da sua autoria, mas que contribui para um futuro de todos nós. E nós vimos; propostas com mérito reconhecidíssimos, rejeitadas; variadíssimas vezes, alguém com razão ser-lhe negada, e por isso rebelar-se. E nós na vez de dizermos que tinha razão de se zangar, esquecíamos o essencial, íamos para o formal e dizíamos que era boçal. Estávamos a cavar o fosso entre moçambicanos.


A arrogância que rejeitamo-la hoje, com quase unanimidade, com excepção dos que dela se beneficiam, foi cultivada aos nossos olhos com a nossa completa passividade e cumplicidade, quando víamos os nossos dirigentes espezinhando uns, tornando-os cidadãos de segunda. Quer através de palavras, como através de acções; económicas, sociais, políticas e nós ríamo-nos. A arrogância foi crescendo, quando um único partido foi criando sedes em tudo que era lugar e vimos, outros a tentarem fazer, e serem ilegalmente dizimados, e não fomos capazes de levantar as nossas vozes, num gesto preventivo e de apelo a legalidade e a constitucionalidade. Dissemos que era problema dos políticos. Estávamos a cavar o fosso entre moçambicanos.


Tolerância política, dizemos ser necessária, mas para alguns essa tolerância deve ter um único sentido, o inverso não vale. Vemos sedes a serem queimadas, reuniões a serem sonegadas, reivindicações esmagadas, tribunais partidarizados, polícias alienados, empregos elitizados, não dizemos nada. Pior que tudo, não podemos fazer nada! Estamos a cavar o fosso entre moçambicanos.


No jogo político, as finais que determinam quem ficará como campeão do campeonato, sempre houve um dos clubes que se opós a forma de se constituir a equipa de arbitragem. E sempre conseguiu ter para si, com capa de legal, o árbitro principal, mais um juiz de linha e mais o quarto árbitro. E nós fomos assistindo manietados, em mais de três pleitos, em que só um conseguia valer o seu ponto de vista e sempre achamos normal; e sabíamos das manipulações. Um gozava com a situação e outro se enfurecia; e nós assistíamos ao facto. E sempre, apenas um era visto como tendo razão. Como se já não fosse muita razão num só camião; e aceitávamos. Estávamos a criar o fosso entre moçambicanos.


Quando dos prejudicados, há um que parece conhecer bem o adversário, que parece ser inimigo, e ele sabendo, age em conformidade, toma a força para contrabalançar,- Muxúnguê - estamos a querer dizer que é inconstitucional, ter isto e aquilo, agir desta e aquela maneira, mesmo que em resposta. Quando esquecemos, de que há alguém que anda, do sul ao centro e norte, na ilegalidade e na inconstitucionalidade dos actos. E por medo ninguém abre a boca. Estamos a cavar o fosso entre moçambicanos.

O fosso que cavamos entre os moçambicanos, não deve ter continuidade, porque Muxúnguê deu o sinal de alerta, numa espécie do incómodo alarme sonoro. Muxúnguê veio dar razão a Joaquim Alberto Chissano, que avisou que a paz não é ausência de guerra. Muxúnguê veio avisar-nos de que o ódio acumulado, está já a extravasar. Muxúnguê revela-nos que nós ensaiamos uma construção da paz, que a certa altura foi interrompida e estivemos passivamente assistindo a edificação de uma guerra fraticida. E hoje, a quem culpamos? Nós sem excepção é que fizemos este país. Ele é nosso fruto. Esse ambiente de medo, de  guerra latente, nós o fizemos, quando nos dividíamos, manipulados ou não, com medo ou não. Fizemo-lo. Hoje urge mudar de atitude e assumirmos o protagonismo, retirando muito do que delegamos aos que vemos, não serem capazes de nos levarem às nossas utopias colectivas.

A defesa da pátria; elemento chave de união de uma nação, que se partilha no sacrifício, que se nivela no risco, que engendra camaradagem; obriga a repensar o actual paradigma do serviço militar obrigatório, que não reforça a unidade na diversidade; obriga a rever o recrutamento não mesclado, em termos de raça e extracto social, que leva à já antiga questão, de o dever ser obrigatoriedade de alguns muitos, e os benefícios serem direitos de outros poucos, com a sensação para cada momento, uns serem mais moçambicanos que outros. Calados vamos assistindo a tudo isso, sem aquilatarmos a dimensão das fissuras. Estamos a criar o fosso entre moçambicanos.


Por isso, nós os cidadãos deste país, principalmente os que não tem nada com ninguém, não são, nem de um, nem de outro, nem sequer daqueloutro, e nem, por isso, nos vamos importar jamais, com o, “não estás comigo, estás contra mim”. O que não queremos, é estar contra nós próprios! Porque estamos interessados na liberdade, desenvolvimento e segurança, vamos dizer não; não a guerra, não as intolerâncias de uns e de outros e posicionar da seguinte maneira: se houver uma guerra movida do exterior, vamos mobilizar os nossos filhos, irmãos e nós próprios, para defesa da pátria, que é nossa e de nenhum partido. Mas se houver uma guerra fraticida, nenhum filho nosso irá aliar-se a ninguém; que avancem os filhos, netos, sobrinhos deles ( mesmo que tenham de os mobilizar do exterior, onde têm bolsas de estudo) e eles próprios, os arrogantes, para as frentes de batalha, para eles próprios defenderem os seus interesses. Porque a guerra é deles e não nossa!! Nós queremos a paz. Nós queremos a paz!!


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