por Lo-Chi
A vida é feita de altos e baixos. E hoje proponho-me falar dos baixos da minha vida. E proponho
com um à vontade, no conforto de que quase ninguém lerá, sabendo que o ser
humano, em primeiro lugar, não gosta de falar de aspectos negativos da sua
vida, e menos ainda, ouvir falar de exemplos, que não sejam de ganhadores. Como
é comum cultivar: dos fracos não reza a história. Sendo, estou na certeza
absoluta que o título afastará, automaticamente, qualquer potencial leitor.
Todavia, torna-se um compromisso de honra, falares de ti, ainda que não seja,
no papel do herói, mas de um perdedor. Como sempre a mulher é uma das coisas
mais importante na nossa vida. E como não poderia deixar de ser, as derrotas,
que me trouxeram sabor a fel, que me marcaram indelevelmente, foram com as
mulheres.
Nos anos frescos da minha puberdade, para além da minha
professora primária, a minha grande paixão foi uma moça, cujo nome era Tulipa,
como a tulipa, eu não via flor outra, mais linda no meu jardim, nem nas
proximidades. Só que eu, na minha burrice, ou na minha inata timidez, não fui
capaz, de me desfazer do secretismo do sentimento que nutria por ela, e outro,
mais veloz, picou do sonho, e disse o que lhe ia na alma, com um à vontade, que
me pôs fora do combate. Em conversa com os amigos, falaram-me da necessidade do
homem ser desinibido. Assumi a conversa, e numa outra paixão, ou inclinação,
sentimental ou emotiva, vou eu todo desabrido, sem ver onde, nem quando, e
chego perto da minha paixão, que estava num círculo de amigos, e lá vou, no
atrevimento, dado como receita, tentando mostrar a lição sabiamente aprendida,
e aplicada, Olá amor, de pronto, recebi como
resposta, Olá estapôr!, de facto
rimava, só quem não rimou, fui eu, que me queria metido num buraco. Riso geral,
que aumentou o tamanho do meu complexo. Remoí esse episódio, meses à fio, feito
a coisa mais desgraçada do mundo.
A dança nunca foi a minha praia, em virtude de ter uns
pés de chumbo. Todos nós sabemos a importância dela, principalmente na
adolescência, onde as farras, são o
denominador comum dos finais de semana. E claro, os grandes pés de valsa,
sempre tiveram mais facilidade em fazer engates, posto que a aproximação dos
corpos, a troca directa de energias, vai, indubitavelmente, facilitando toda uma
espécie de expressão e sentimentos. Quem não dança, dança! Fui ensaiando a
aprendizagem, encorajado pelos meus amigos, que me diziam que era fácil, e que
era uma questão de tempo. Só que esse tempo, nunca mais chegava, apesar das
diversas técnicas, em que as aulas foram ministradas. Eu tentava encurtar,
participando, muito desajeitadamente, nas danças de roda, naturalmente com as
desvantagens que isso tinha, com intuito de poder conferir, paulatinamente, o
jeito que o pé teimava em não ganhar. Um dia, desafortunado, estamos numa roda,
em que a conversa saia fluida, e eu como orador, no meio da música que jorrava,
ia impondo a minha voz de barítono, sendo desse modo o centro da atenção. Como
se pode imaginar o ego em alta. Começa um alto slow, como diziamos na altura,
todos começam a emparelhar-se com as moças ao redor, e sobro eu e uma dama, que
me tirava o fôlego. Quando dou por ela, fiquei estarrecido, adivinhando o que se
seguiria. Nenhum pressentimento, na porca da minha vida maldita, foi tão
infalível quanto esse, e dando corpo ao receio, a dama vira-se para mim e pede
para dançar. Apetecia meter-me num buraco. Por um instante, apeteceu-me
abreviar a agonia e dizer-lhe o que devia, mas numa última nesga, de orgulho ou
estupidez, lá vou eu, mais autómato, que
em consciência. E, contrariamente ao
Benjamim, não consegui voar na sala, feito uma estrela. A cabeça separou-se dos
pés, e nenhum comando foi obedecido: resultado, a dama ia para um lado, eu para
o outro, ela para traz eu idem, ela para frente eu idem aspas. A dança virou
uma batalha, que a mim, pôs suado, a dama amarrotada, com os sapatos
completamente esfalfados e esfanicados. Tive a convicção, que aquela experiência
para ela, teve a mesma sensação de desconforto, igual a uma amiga minha, que a
primeira vez que beijou, contrariamente
as amigas, fartou-se de cuspir de tão enjoada que ficou.
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