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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Algumas das muitas barracas na minha história


por Lo-Chi



A vida é feita de altos e baixos. E hoje proponho-me  falar dos baixos da minha vida. E proponho com um à vontade, no conforto de que quase ninguém lerá, sabendo que o ser humano, em primeiro lugar, não gosta de falar de aspectos negativos da sua vida, e menos ainda, ouvir falar de exemplos, que não sejam de ganhadores. Como é comum cultivar: dos fracos não reza a história. Sendo, estou na certeza absoluta que o título afastará, automaticamente, qualquer potencial leitor. Todavia, torna-se um compromisso de honra, falares de ti, ainda que não seja, no papel do herói, mas de um perdedor. Como sempre a mulher é uma das coisas mais importante na nossa vida. E como não poderia deixar de ser, as derrotas, que me trouxeram sabor a fel, que me marcaram indelevelmente, foram com as mulheres.

Nos anos frescos da minha puberdade, para além da minha professora primária, a minha grande paixão foi uma moça, cujo nome era Tulipa, como a tulipa, eu não via flor outra, mais linda no meu jardim, nem nas proximidades. Só que eu, na minha burrice, ou na minha inata timidez, não fui capaz, de me desfazer do secretismo do sentimento que nutria por ela, e outro, mais veloz, picou do sonho, e disse o que lhe ia na alma, com um à vontade, que me pôs fora do combate. Em conversa com os amigos, falaram-me da necessidade do homem ser desinibido. Assumi a conversa, e numa outra paixão, ou inclinação, sentimental ou emotiva, vou eu todo desabrido, sem ver onde, nem quando, e chego perto da minha paixão, que estava num círculo de amigos, e lá vou, no atrevimento, dado como receita, tentando mostrar a lição sabiamente aprendida, e aplicada, Olá amor, de pronto, recebi como resposta, Olá estapôr!, de facto rimava, só quem não rimou, fui eu, que me queria metido num buraco. Riso geral, que aumentou o tamanho do meu complexo. Remoí esse episódio, meses à fio, feito a coisa mais desgraçada do mundo.

A dança nunca foi a minha praia, em virtude de ter uns pés de chumbo. Todos nós sabemos a importância dela, principalmente na adolescência, onde as farras, são  o denominador comum dos finais de semana. E claro, os grandes pés de valsa, sempre tiveram mais facilidade em fazer engates, posto que a aproximação dos corpos, a troca directa de energias, vai, indubitavelmente, facilitando toda uma espécie de expressão e sentimentos. Quem não dança, dança! Fui ensaiando a aprendizagem, encorajado pelos meus amigos, que me diziam que era fácil, e que era uma questão de tempo. Só que esse tempo, nunca mais chegava, apesar das diversas técnicas, em que as aulas foram ministradas. Eu tentava encurtar, participando, muito desajeitadamente, nas danças de roda, naturalmente com as desvantagens que isso tinha, com intuito de poder conferir, paulatinamente, o jeito que o pé teimava em não ganhar. Um dia, desafortunado, estamos numa roda, em que a conversa saia fluida, e eu como orador, no meio da música que jorrava, ia impondo a minha voz de barítono, sendo desse modo o centro da atenção. Como se pode imaginar o ego em alta. Começa um alto slow, como diziamos na altura, todos começam a emparelhar-se com as moças ao redor, e sobro eu e uma dama, que me tirava o fôlego. Quando dou por ela, fiquei estarrecido, adivinhando o que se seguiria. Nenhum pressentimento, na porca da minha vida maldita, foi tão infalível quanto esse, e dando corpo ao receio, a dama vira-se para mim e pede para dançar. Apetecia meter-me num buraco. Por um instante, apeteceu-me abreviar a agonia e dizer-lhe o que devia, mas numa última nesga, de orgulho ou estupidez, lá vou eu, mais  autómato, que em consciência.  E, contrariamente ao Benjamim, não consegui voar na sala, feito uma estrela. A cabeça separou-se dos pés, e nenhum comando foi obedecido: resultado, a dama ia para um lado, eu para o outro, ela para traz eu idem, ela para frente eu idem aspas. A dança virou uma batalha, que a mim, pôs suado, a dama amarrotada, com os sapatos completamente esfalfados e esfanicados. Tive a convicção, que aquela experiência para ela, teve a mesma sensação de desconforto, igual a uma amiga minha, que a primeira vez  que beijou, contrariamente as amigas, fartou-se de cuspir de tão enjoada que ficou.







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