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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Do pretérito, imperfeito, ao futuro incerto



por Lo-Chi



Socialmente, sem possibilidade de se tergiversar, temos estado numa sucessão de factos nada agradáveis, de uma acrimónia constante, entre sectores organizados da sociedade e o governo, em que o cidadão inerme é o elo mais fraco, de toda esta batalha.

O arrolar de manifestações contra algum estado de coisas, das massas, começou e foi desenvolvendo-se com uma persistência estóica, dos expressamente designados por madgermanes. É verdade que o número desse grupo não era (é) aquilo que se pode designar de massas, porém um grupo sobejamente notório, se não mesmo expressivo. E foram expressando a sua indignação, todas as semanas ao mesmo dia, partindo do mesmo local. Neste processo, o governo foi reagindo mais ou menos contidamente, umas vezes, outras com ameaças veladas, mas a violência sempre a espreita. E em termos de resposta umas vezes dando-os razão e outras não, num processo no mínimo nubloso.

Na calha daqueles, entra a população peri-urbana da capital com alguns rescaldos em algumas províncias, nas famosas datas de 1 e 2 de Setembro como actividade com alguma experiência ganha no dia 5 de Fevereiro do ano 2008. A resposta da máquina repressiva do governo não se fez esperar, e as armas de guerra foram postas em acção com vítimas. No fim o estado foi torcendo o braço a contra-gosto, numa espécie de malabarismo mal disfarçado e redondamente mal elaborado- cestinha básica, recordo.

Se antes a coisa foi entre simples cidadãos desarmados, que enfrentavam os polícias militares, na fase seguinte da instabilidade social, foi decerto, quando no pretérito não muito distante, uma parcela substantiva dos antigos combatentes se manifesta(ra)m contra uma situação que lhe era imposta, da qual eles não esta(va)m de acordo. Aqui assustou-me sobremaneira, posto que conhecendo como conheço a nossa polícia militarizada com AKMs e tais, a situação explosiva era mais do que evidente, já porque este opositor, no mínimo era conhecedor de tais instrumentos, e quiçá com alguma possibilidade de acesso. Porém, a máquina repressiva do governo apareceu, com violência de sobra, até para a população civil transeunte apanhada incauta na sua luta pela vida.

Embalados, no que reza a constituição, os médicos, uma classe intelectual da sociedade, quis fazer valer os seus direitos, através de instrumentos emanados na lei, mas o governo habituado a lidar com a massa rija, mandou de imediato a sua força repressiva, ainda que não com bastões em punho, porém com uma presença assustadoramente presente, mais do que velada, uma ameaça com dentes arreganhados. Porém estes, para fazer valer a intelectualidade, foi intransigente, utilizando meios e instituições de pressão, e pela primeira vez, ainda que não tenha posto o Governo de joelho, pô-lo, pelo menos com uma reverência, ainda que velada e contrariada, com a promessa de resolver, e simultaneamente, com acções subtis de retaliação, já em curso.

Imediatamente a seguir, uma greve péssima, do ponto de vista de segurança nacional, como também de revelação de algo péssimo no nosso ansiado estado social, destapou a insubordinação e fez-se revelação mediática dos nossos polícias secretos, que contrariamente o que é comum, deixaram de ser secretos e vieram ao público dizer que são secretos públicos.

A inconformidade do partido da perdiz, umas vezes com, e outras vezes sem razão, com a sempre recusa da sua congénere no poder, espicaçou a sua oposição cada vez mais radicalizada, emanando gestos e palavras que encomendam na nossa já radicalizada polícia de repressão, respostas belicistas, que em nada afrouxam, nem o verbo nem a insistência, de uma espécie de insubordinação civil, à breve trecho, para uma confrontação de proporções imprevisíveis.

Se olharmos para os factos e os opositores, se numa primeira fase era do armado para o civil desarmado e sem conhecimento de qualquer arma, senão as pedras da calçada, posteriormente os opositores do governo começam a ser grupos que dominam as técnicas e os instrumentos de repressão, muitos desses instrumentos ainda andam por aí a solta. E neste harém de intervenções da polícia armada, temos que incluir, a  desastrada, gratuita e desproporcional força exibida, na greve dos seguranças privados de Maputo, bem como o bangue bangue de Nampula, a força emprestadas contra os deslocados e indevidamente assentados, das minas de Tete, como ter que pôr em linha de consideração, as agressões físicas e as mortes dos cidadãos singulares, uns que vão e outros não, desfilando informativamente nas televisões, mas que convenhamos, vão criando rancor e “ódio concentrando e surdo”. Por outro lado a postura pouco dialogante e a intransigência do governo nas suas posições, a cultura da violência da polícia, muitas vezes injustificada, dão a meteorologia dos acontecimentos, sinais de um provável choque de proporções imprevisíveis, para os confrontos que implícita e explicitamente se vem anunciando.

Medido tudo isso, aparece um caldeirão perfeito e propício, que pode levar o Chefe do Estado chamar a si a prerrogativa extrema, mas justificável, de declarar o estado de emergência, estado de sítio - na probabilidade de as ameaças virarem factos - e naturalmente medidas administrativas especiais e restritivas e alteração da ordem constitucional; situação convenhamos perigosamente celerada. Nesse contexto decerto que as eleições já calendarizadas não se farão. Apesar do nosso Chefe do Estado ter manifestado cordatamente a sua indisponibilidade ao sacrifício de ficar mais 5 anos a frente do destino da nação moçambicana; uma situação destas decerto levará a que o cidadão, que já se queria na reforma, se mantenha perfunctoriamente no cargo, num sacrifício imolador, devido a moratória a ser concedida indeterminadamente, por força da situação. Por isso, aqui o meu apelo, ao próprio Chefe do Estado e ao Governo que dirige, a necessidade de maior empenho no diálogo, com todos, e em especial com a perdiz, de modo que as eleições aconteçam, e o Chefe de Estado no tempo aprazado, possa gozar a merecida aposentadoria já anunciada, e se elimine o já cansativo arreganhar de dentes da polícia. Poupem-nos. A nossa paz está mais violenta que a guerra!!!

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Fui habituado a ver polícias de segurança pública, de cacete pistolas nos coldres, que eram instrumentos bastante, para pôr na ordem os potenciais insurrectos. Blindados, AKMs, trazem de volta os meus traumas de guerra.



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