por Lo-Chi
O sonho é uma
constante na vida. Sonhar é pensar, é desejar, é imaginar. Sonhamos sempre.
Quando crianças, sonhamos com a realização de coisas que todos os outros fazem:
andar, assobiar, nadar, ler, escrever, aí por adiante, coisas completamente
possíveis salvo problemas genéticos ou psico-somáticos. Porém, à medida que o tempo vai
decorrendo, os sonhos que se vão utopiando, tem haver com outros predicados na
possibilidade ou não de torná-los realidade. Mas o mais importante é ter-se a
certeza que todos os sonhos são possíveis. É na fase dos quinze em adiante, que
se tem a evidência da verdade dita pelo poeta: o sonho comanda a vida. E aí,
eles são necessariamente desmedidos, onde todas as espécies de sonho estão
autorizados. Nessa idade não sonhar, só os incorrigivelmente fatalistas inatos.
Por isso, quero ter uma mulher, a mais linda do pedaço, quero ter o filho prodígio,
antevejo-me o melhor pai, quero ter a melhor casa, quero ser o melhor, não sei
se advogado, economista, aviador, médico, engenheiro ou político, a verdade é
que quero ser o melhor. Quero ser o melhor, mesmo sem saber qual o meu QI. E é
no rastro dos sonhos, que vamos fazendo a vida, primeiro académica, e quase
concomitantemente sentimental, para posteriormente profissional.
Os sonhos
multiplicam-se e desmultiplicam-se juntamente com as realizações, que tentam
perseguir os afortunados sonhos e com isso, toda alegria de realização e todos
os traumas da dura realidade dos sonhos não realizados. E aqui a sociedade
aparece com as suas comparações e medições, e em consequência, segundo os seus
critérios vai definindo os bem e os mal sucedidos, sem ter em conta os sonhos
individuais, mas o suposto conceito colectivo de realização. E normalmente em
sociedades como a nossa, em que a pobreza de espírito começa a medrar
assustadoramente, o avaliómetro são os bens materiais. Não importa se fruto de furto, fraude ou puro roubo, se feito à custa
das costas de alguém, se somou-se a troco de subtracção da vida de pessoas. Os
fracos, mesmo não sendo os seus sonhos, assumem o sonho social, e mesmo sem
condições, tentam realizá-los a qualquer preço. Estes almoedam-se a sociedade.
Os fortes que sabem o que querem, têm como termómetro a própria quimera, e
desenvolvem um abnegado esforço para realizá-la, numa avaliação
subjectiva-objectiva das condições possíveis de realização. E a cada passo, por
saberem quanto custou, desfrutam-na com alegria genuina, sem necessidade de
demonstrar nem provar nada a ninguém. Eles sabem o que é bom para eles. E não
somos todos iguais. Estes fazem o usufruto da vida, aportam valores morais à
sociedade, explicam aos seus epígonos, o valor dos sonhos e da dificuldade e
prazer dos sucessos de esforço despendido, sabem da dureza dos sonhos não
conseguidos.
Bem por isso,
os maduros, aos cinquenta e cinco, sabem reconhecer os sonhos possíveis, neles, agarram-se com afinco e
dedicação, e reconhecem os que na verdade está fora da sua concretização. Isso
é maturidade. Nesta idade não sonhar é a morte certa, porém não sonhar algumas
coisas é realismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário