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sexta-feira, 29 de março de 2013

A idade e os sonhos



por Lo-Chi



O sonho é uma constante na vida. Sonhar é pensar, é desejar, é imaginar. Sonhamos sempre. Quando crianças, sonhamos com a realização de coisas que todos os outros fazem: andar, assobiar, nadar, ler, escrever, aí por adiante, coisas completamente possíveis salvo problemas genéticos ou psico-somáticos. Porém, à medida que o tempo vai decorrendo, os sonhos que se vão utopiando, tem haver com outros predicados na possibilidade ou não de torná-los realidade. Mas o mais importante é ter-se a certeza que todos os sonhos são possíveis. É na fase dos quinze em adiante, que se tem a evidência da verdade dita pelo poeta: o sonho comanda a vida. E aí, eles são necessariamente desmedidos, onde todas as espécies de sonho estão autorizados. Nessa idade não sonhar, só os incorrigivelmente fatalistas inatos. Por isso, quero ter uma mulher, a mais linda do pedaço, quero ter o filho prodígio, antevejo-me o melhor pai, quero ter a melhor casa, quero ser o melhor, não sei se advogado, economista, aviador, médico, engenheiro ou político, a verdade é que quero ser o melhor. Quero ser o melhor, mesmo sem saber qual o meu QI. E é no rastro dos sonhos, que vamos fazendo a vida, primeiro académica, e quase concomitantemente sentimental, para posteriormente profissional.

Os sonhos multiplicam-se e desmultiplicam-se juntamente com as realizações, que tentam perseguir os afortunados sonhos e com isso, toda alegria de realização e todos os traumas da dura realidade dos sonhos não realizados. E aqui a sociedade aparece com as suas comparações e medições, e em consequência, segundo os seus critérios vai definindo os bem e os mal sucedidos, sem ter em conta os sonhos individuais, mas o suposto conceito colectivo de realização. E normalmente em sociedades como a nossa, em que a pobreza de espírito começa a medrar assustadoramente, o avaliómetro são os bens materiais. Não importa se fruto de  furto, fraude ou puro roubo, se feito à custa das costas de alguém, se somou-se a troco de subtracção da vida de pessoas. Os fracos, mesmo não sendo os seus sonhos, assumem o sonho social, e mesmo sem condições, tentam realizá-los a qualquer preço. Estes almoedam-se a sociedade. Os fortes que sabem o que querem, têm como termómetro a própria quimera, e desenvolvem um abnegado esforço para realizá-la, numa avaliação subjectiva-objectiva das condições possíveis de realização. E a cada passo, por saberem quanto custou, desfrutam-na com alegria genuina, sem necessidade de demonstrar nem provar nada a ninguém. Eles sabem o que é bom para eles. E não somos todos iguais. Estes fazem o usufruto da vida, aportam valores morais à sociedade, explicam aos seus epígonos, o valor dos sonhos e da dificuldade e prazer dos sucessos de esforço despendido, sabem da dureza dos sonhos não conseguidos.

Bem por isso, os maduros, aos cinquenta e cinco, sabem reconhecer os sonhos  possíveis, neles, agarram-se com afinco e dedicação, e reconhecem os que na verdade está fora da sua concretização. Isso é maturidade. Nesta idade não sonhar é a morte certa, porém não sonhar algumas coisas é realismo.



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