por Lo-Chi
A unanimidade da necessidade de diálogo e não a troca
de palavras, a ânsia de uma paz a
qualquer preço, menos a guerra, a aversão à arrogância de alguns, a expressão
de descontentamento, a necessidade de unidade, e a pergunta onde estávamos nós,
para que esta situação tenha chegado até onde chegou, cresce, e obriga-nos a
repensar o pretérito, quer o imediato como o distante.
Deve-se dialogar, dizemos e é bom especificar,
avaliando o passado onde quem tem a maioria, não tem só por isso sempre razão, principalmente
quando não tendo. Deve ter a humildade suficiente, para dotar-se de capacidade
de ouvir e atender o que não é da sua autoria, mas que contribui para um futuro
de todos nós. E nós vimos; propostas com mérito reconhecidíssimos, rejeitadas;
variadíssimas vezes, alguém com razão ser-lhe negada, e por isso rebelar-se. E
nós na vez de dizermos que tinha razão de se zangar, esquecíamos o essencial, íamos
para o formal e dizíamos que era boçal. Estávamos a cavar o fosso entre
moçambicanos.
A arrogância que rejeitamo-la hoje, com quase
unanimidade, com excepção dos que dela se beneficiam, foi cultivada aos nossos
olhos com a nossa completa passividade e cumplicidade, quando víamos os nossos
dirigentes espezinhando uns, tornando-os cidadãos de segunda. Quer através de
palavras, como através de acções; económicas, sociais, políticas e nós ríamo-nos.
A arrogância foi crescendo, quando um único partido foi criando sedes em tudo
que era lugar e vimos, outros a tentarem fazer, e serem ilegalmente dizimados,
e não fomos capazes de levantar as nossas vozes, num gesto preventivo e de
apelo a legalidade e a constitucionalidade. Dissemos que era problema dos
políticos. Estávamos a cavar o fosso entre moçambicanos.
Tolerância política, dizemos ser necessária, mas para
alguns essa tolerância deve ter um único sentido, o inverso não vale. Vemos
sedes a serem queimadas, reuniões a serem sonegadas, reivindicações esmagadas,
tribunais partidarizados, polícias alienados, empregos elitizados, não dizemos
nada. Pior que tudo, não podemos fazer nada! Estamos a cavar o fosso entre
moçambicanos.
No jogo político, as finais que determinam quem ficará
como campeão do campeonato, sempre houve um dos clubes que se opós a forma de
se constituir a equipa de arbitragem. E sempre conseguiu ter para si, com capa
de legal, o árbitro principal, mais um juiz de linha e mais o quarto árbitro. E
nós fomos assistindo manietados, em mais de três pleitos, em que só um
conseguia valer o seu ponto de vista e sempre achamos normal; e sabíamos das
manipulações. Um gozava com a situação e outro se enfurecia; e nós assistíamos
ao facto. E sempre, apenas um era visto como tendo razão. Como se já não fosse
muita razão num só camião; e aceitávamos. Estávamos a criar o fosso entre
moçambicanos.
Quando dos prejudicados, há um que parece conhecer bem
o adversário, que parece ser inimigo, e ele sabendo, age em conformidade, toma
a força para contrabalançar,- Muxúnguê - estamos a querer dizer que é inconstitucional,
ter isto e aquilo, agir desta e aquela maneira, mesmo que em resposta. Quando
esquecemos, de que há alguém que anda, do sul ao centro e norte, na ilegalidade
e na inconstitucionalidade dos actos. E por medo ninguém abre a boca. Estamos a
cavar o fosso entre moçambicanos.
O fosso que cavamos entre os moçambicanos, não deve
ter continuidade, porque Muxúnguê deu o sinal de alerta, numa espécie do
incómodo alarme sonoro. Muxúnguê veio dar razão a Joaquim Alberto Chissano, que
avisou que a paz não é ausência de guerra. Muxúnguê veio avisar-nos de que o
ódio acumulado, está já a extravasar. Muxúnguê revela-nos que nós ensaiamos uma
construção da paz, que a certa altura foi interrompida e estivemos passivamente
assistindo a edificação de uma guerra fraticida. E hoje, a quem culpamos? Nós
sem excepção é que fizemos este país. Ele é nosso fruto. Esse ambiente de medo,
de guerra latente, nós o fizemos, quando
nos dividíamos, manipulados ou não, com medo ou não. Fizemo-lo. Hoje urge mudar
de atitude e assumirmos o protagonismo, retirando muito do que delegamos aos
que vemos, não serem capazes de nos levarem às nossas utopias colectivas.
A defesa da pátria; elemento chave de união de uma
nação, que se partilha no sacrifício, que se nivela no risco, que engendra
camaradagem; obriga a repensar o actual paradigma do serviço militar
obrigatório, que não reforça a unidade na diversidade; obriga a rever o
recrutamento não mesclado, em termos de raça e extracto social, que leva à já
antiga questão, de o dever ser obrigatoriedade de alguns muitos, e os benefícios
serem direitos de outros poucos, com a sensação para cada momento, uns serem
mais moçambicanos que outros. Calados vamos assistindo a tudo isso, sem
aquilatarmos a dimensão das fissuras. Estamos a criar o fosso entre
moçambicanos.
Por isso, nós os cidadãos deste país, principalmente
os que não tem nada com ninguém, não são, nem de um, nem de outro, nem sequer
daqueloutro, e nem, por isso, nos vamos importar jamais, com o, “não estás
comigo, estás contra mim”. O que não queremos, é estar contra nós próprios!
Porque estamos interessados na liberdade, desenvolvimento e segurança, vamos
dizer não; não a guerra, não as intolerâncias de uns e de outros e posicionar
da seguinte maneira: se houver uma guerra movida do exterior, vamos mobilizar
os nossos filhos, irmãos e nós próprios, para defesa da pátria, que é nossa e
de nenhum partido. Mas se houver uma guerra fraticida, nenhum filho nosso irá
aliar-se a ninguém; que avancem os filhos, netos, sobrinhos deles ( mesmo que
tenham de os mobilizar do exterior, onde têm bolsas de estudo) e eles próprios,
os arrogantes, para as frentes de batalha, para eles próprios defenderem os
seus interesses. Porque a guerra é deles e não nossa!! Nós queremos a paz. Nós
queremos a paz!!