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segunda-feira, 25 de março de 2013

Arquitectura de destronca e a natureza


por Lo-Chi

Não fui capaz de ficar imune a satisfação por um exemplo bom, diria mesmo que excepcional em Moçambique, quando vejo a edificação duma academia da organização Haga Khan e noto que as árvores estão sendo respeitadas. Puxei pela memória para encontrar exemplos dessa prática, na capital, e sinceramente, salvo omissão de registo da minha memória, só me recordo, no Maputo do Centro de Conferências Joaquim Chissano. Não é comum. Não é comum, porque quando das construções, a primeira coisa que se faz, é destroncar ás árvores todas, as necessárias e as desnecessárias, porque empecilho nas obras.

Confesso que a primeira vez que vi e aprendi, a conjugação da edificação de infra-estruturas e da natureza, foi em Cuba, quando chego ao Instituto Superior de Direcção de Economia (ISDE), onde fui fazer o meu curso, e para o meu espanto, no meio de um dos edifícios, integrante do complexo académico bastamente arborizado, estava uma árvore gigantesca, fazendo entender que o arquitecto ajustou a sua planta a configuração da área e respeitou aquela árvore no mínimo centenária. Sem saber exactamente porquê, eu era sempre atraido para aquele lugar, num apreciar extasiado.

O completar da minha tomada de consciência dessa necessidade de respeito pelas árvores nativas, tive-a, na Alemanha, onde nos bairros residenciais o que se vê de existência de árvores e o respeito que delas se tem é de tirar o chapéu. Disseram-me, que ninguém está autorizado a fazer abate de uma árvore por auto recriação, mesmo que dentro do seu quintal. Aliás, exemplos do respeito pelas árvores, podemos encontrar aqui bem no nosso vizinho mais civilizado.

Um outro local, onde fui e encontrei um lodge, que não apenas respeitou, a natureza como dela se aproveitou, para dar uma beleza indisfarçável, deixando e respeitando as árvores nativas, foi num lodge, na Zambézia,  situado bem junto ao rio Zambeze. Alias, é importante frisar que foi o proprietário desse mesmo lodge, que em face de um perigo de abate a uma árvore centenária, situada numa localidade entre o rio Licuari e o Lualua, dirgiu-se ao régulo, antecipando-se a gula pantagruélica dos chineses, que já a queriam abater, e comprou-a em sua defesa. Protegeu-a e fez uma sinalética. Hoje é motivo de atracção e muitas vezes local de paragem e descontração dos viandantes, como também objecto de imagens fotográficas.

Quem sai do Inchope em direcção à Gorongosa, logo após  a entrada do Chitengo, existe uma árvore tão especial, na berma da estrada que, se no outro país, acredito, seria uma árvore protegida pelas autoridades locais. E é sempre com grande apreensão, que cada vez que passo pelo sítio, tenho o coração aos pulos, no receio de ver que essa árvore tenha tido sorte madrasta: ou porque cortaram-na ou as queimadas a tenham devorado. Felizmente ainda se mantém.

O nosso analfabetismo ambiental é de tal proporção que brada aos céus. Fui a uma viagem turística à Mocímboa da Praia. Por recomendação hospedei-me num lodge de uma senhora, dizem que de origem francesa. Um lodge implantado essencialmente com materiais locais, e com respeito a árvores nativas: simplicidade e beleza de impressionar. Quando um dos meus companheiros de viagem teve necessidade de ir falar a um dos dirigentes locais, que por sinal também tem um outro lodge, este perguntou-o, onde estaria hospedado e aquele explica, e recebe de pronto a seguinte exclamação: naquele matagal!?? Em consequência, convida ao mesmo para visitar o seu empreedimento. Lá fomos, e rimo-nos a brava da comovente ignorância, e principalmente vinda de alguém, que deveria supostamente saber o mínimo de desenvolvimento sustentável. Explico-me. Os dois lodges citados são vizinhos e situam-se num plano ligeiramente inclinado. Enquanto o primeiro deixou as árvores, abatendo apenas as essenciais para edificação das infra-estruturas; e mais, plantou relva, ficando para além de bonito, com maior probabilidade de resistir a erosão, em caso de chuva torrencial, o outro que não é mato, limpou tudo, de tal jeito que numa borrasca, parte do seu solo vai de certeza ser arrastado para o canal da baia. E tudo isso com efeitos perversos, para além dos comerciais, já notórios. Enquanto que o mato estava nesse dia com uma taxa de ocupação razoável, o outro apesar dos ares condicionados e que tais, estava quase às moscas.

Para finalizar o carnaval de ignorância- desculpem os meus leitores a repetição do termo carnaval- recordo-me de um facto contado por um amigo meu, que estando num concurso para construção dum parque da DPOH, fica estarrecido quando o arquitecto da instituição, dentro do projecto, previa derrubar árvores que faziam sombra ao parque, que queria ser melhorado(?!). Disse ele que não aguentou e perguntou ao famigerado arquitecto, se ele porventura sabia que aquelas árvores, umas acácias, eram, mais velhas do que ele. E eu, por meu turno, perguntei ao meu amigo, se ele havia chamado de arquitecto ao famoso personagem, e ele questionou-me o porquê, ao que eu lhe disse: meu caro amigo, esse sujeito não é arquitecto, passou pela escola de arquitectura. E isso, por não ser perverso e dizer que: a escola passou por ele, estando distraido, nem sequer deu por ela!

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