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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A academia da fraude ---- ou o olhar ao espelho que assusta

Por: Lo-Chi

Com este rombo que nos aconteceu, onde a nossa casa nacional (Moçambique), foi assaltada e deixaram-nos de tangas, fiquei meditando. Como foi possível, desfazerem as grades, ludibriarem todo o sistema de segurança, anularem os alarmes, roubarem, irem à vida, passearem a classe, sem darmos por nada, e até aplaudirmos e dispensarmos honrarias de salvadores da pátria. Talvez tenha começado, num percurso longo de aprendizado e aperfeiçoamento, sem termos dado por ela. E fiquei imaginando, o que poderia ter permitido essa agilidade toda.

Pensando, fui imaginando. Será que a pré teve o seu inicio no Banco de Solidariedade, onde sem legislação que normasse, o incauto e assustado trabalhador era obrigado a descontar o seu salário, já sofrido pelo 4/80, um valor que ia para uma conta, que ninguém sabia qual, nem quem a controlava. Agravo refreado, graças a resistência de uns poucos esclarecidos e incorrigivelmente teimosos, e porque havia o mínimo de honestidade e pudor, parou-se em face de uma obrigatoriedade ilegal, de um desconto voluntário à força.

Munidos de boa intenção, quiçá, a primária propriamente dita, devem a ter frequentado no BPD, quando inventa­­­­ram o C.C.A.D.R., onde em nome do desenvolvimento, se deu valores monetários em massa, para algumas boas famílias, as quais se eximiram de pagar e contribuíram para a falência técnica do banco. Completou-se o curso primário, suponho, com o Banco Comercial de Moçambique, complementando o curriculum de um curso elementar. Será? Perguntei-me.

É provavelmente nesta altura, que seleccionaram os melhores alunos da turma anterior, que se passaram para um curso básico ou secundário, onde começaram a trapacear, num latrocínio mais directo, ao bolso do pacato cidadão. É então que a escola frequentada foi dos madjermanes e dos madjonidjones. Preparando-se para passarem a uma fase de maior exigência, é que de permeio, a turma vai fazendo uns pequenos cursos de capacitação, aperfeiçoamento e reciclagem, aqui e acolá, nas urnas eleitorais; uns refreshments na agilidade do furto de votos, enchimento de urnas, falsificação de editais. Cursos dados por processos eleitorais. Coisas que pareciam de pequena monta, mas para aperfeiçoamento e adestramento, que lhes permitiu ter a equivalência do nível médio e o epíteto de máquina eleitoral.

Provavelmente, chegado a esse estágio de habilidades, era preciso mudar de nível. Um curso superior não lhes era desmerecido. Nesta fase, muitos alunos com qualificações recomendáveis e outros não, alunos de outras escolas e universidades candidataram-se, todos admitidos sob o critério da quantidade. Uns com certificado autêntico, outros com certificados falsos, aqueloutros sem certificado, mas com habilidades comprovadas, foram admitidos; todavia poucos seleccionados para a turma dos da linha da frente e de confiança. Estes, fazendo, em consequência lógica, o bacharelato, nas tramóias da estrutura de custo de combustíveis, onde uma taxa pirata, integrante, do seu destino, os cidadãos que devem, não sabem; e impávidos, os remetidos à ignorância, se remetem no silêncio cómodo da abcidadania.

Nesta fase, com a subida vertiginosa de conhecimentos adquiridos e as habilidades treinadas, na arte de levar sem pagar, ou de fazer de conta, sendo o peso da facturação, endossada aos bolsos do, não tanto incauto, porém amedrontado povo, feito cobaia, nas pesquisas e ensaios da universidade da trama. Progredindo assim, na escalada do saque, umas vezes encoberto em falsos concursos públicos, porque privados, na EDM, nos Aeroportos, na TDM, na Mcel, nas estradas pontes e escolas e outras infra-estruturas, umas vezes a título de salário de cargos inexistentes, como de PCAs adjuntos, bem como de Administradores não Executivos, outras vezes a título de patrocínio de viagens e quejandos, para uma determinada organização, sempre a mesma, despriorizando subsídios à agricultura e à cultura que merecem e contribuiriam para o nosso desenvolvimento comum. Concluída a licenciatura, imagino, impunha-se continuar, com o fito de fazer o mestrado. Contudo, para conferir maior fiabilidade, era preciso internacionalizar o processo de formação. É assim que no exterior, burlam o país nas compras dos Embraers e do Credilecs estrondosamente sobre facturados, para que não se confundisse com simples “boladas”. Chegados a esta fase de mestre, importava mostrar a ousadia de um universitário, mestre em destreza, convinha emparelhar com os doutores das ciências políticas, cujos conhecimentos se manifestam nos ecrãs da televisão, forma privilegiada de trazer à sociedade, as suas habilidades. Começa o saque, à luz do dia, de terras de quase toda costa da Zambézia em áreas de caça de material imponderavelmente leve, o invadir de mares para a pesca de espécies terráqueas de Cabo Delegado, o despudor do saque hélio-transportado no INSS, a tentativa de ficar com terrenos no grande Maputo, em áreas como actual cadeia central, a Facim, etc., etc., e para finalizar, o que começou como bandeira, Cahora Bassa é nossa, deles. Aqui importa referir, que eliminaram a dialéctica e cultivaram pequenos cursos de silenciamento hospitalar e de comunicação, um pouco por toda casa, no quintal, na varanda, no quarto, na sala.

Chegados a este ponto, apenas sobrava o verdadeiro doutoramento, PHD, feito não por módulos e exames no exterior, mas sim presencial e fora do país. Universidade escolhida: Credit Suisse. Tutor: Privinvest, especialidade: dívidas ocultas. Um tratado sobre roubo e calote, que só os experts a pudessem entender, para que não houvesse dúvidas da qualidade de formação dos quadros dessa turma. Mas porque conhecimento e boas práticas não ocupam espaço, hoje por hoje, fazem pequenos cursos de pós graduação; elaboram contratos com eles próprios, ensaiam doutrinas moralistas de amor a pátria, disseminam o perigo bacoco da ingerência, evocam cinicamente o medo do imperialismo. Parece-me, estou no terreno das suposições, todas elas alimentadas pelos nossos meios de comunicação, que lutam na adversidade da verdade.


Este foi o meu pensamento delirante, (tomara, quem não deliraria em face de uma fraude desta dimensão) que pode não estar de acordo com os factos reais, contundo, tentando a busca de razões e motivos, da nossa desdita permissividade aos gatunos, que foram ao erário público, e que empenharam o nosso e dos nossos, o futuro. Mas somos todos chamados a reflectir, mesmo delirando, para encontrarmos as razões e causas, de modo a evitar possíveis futuros desaires. E no fundo, bem no fundo, para que nos tempos vindouros não sejamos, todos nós, conscientes ou incautos, coniventes e/ou permissivos, enredados noutra trama, busquemos a cidadania, combatendo todos estes e outros sinais de ausência de honestidade, como parece que foi sendo admitido, porque não era comigo e não me atingia, para no fim compreendermos, que estes passos desonestos dirigidos a outros, conferiram as habilidades e teias de compromisso, que acabaram neste desaire nacional, que no final, nos atinge indiferentemente de, raça, filiação partidária, sexo, religião. Estou apenas com dúvidas, se independentemente da tribo. Mas resumindo, o logro mais por inoperância que por habilidade. 


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