Com este rombo que nos aconteceu,
onde a nossa casa nacional (Moçambique), foi assaltada e deixaram-nos de tangas, fiquei
meditando. Como foi possível, desfazerem as grades, ludibriarem todo o
sistema de segurança, anularem os alarmes, roubarem, irem à vida, passearem a
classe, sem darmos por nada, e até aplaudirmos e dispensarmos honrarias de
salvadores da pátria. Talvez tenha começado, num percurso longo de aprendizado
e aperfeiçoamento, sem termos dado por ela. E fiquei imaginando, o que poderia
ter permitido essa agilidade toda.
Pensando, fui imaginando. Será que a
pré teve o seu inicio no Banco de Solidariedade, onde sem legislação que
normasse, o incauto e assustado trabalhador era obrigado a descontar o seu
salário, já sofrido pelo 4/80, um valor que ia para uma conta, que ninguém
sabia qual, nem quem a controlava. Agravo refreado, graças a resistência de uns
poucos esclarecidos e incorrigivelmente teimosos, e porque havia o mínimo de
honestidade e pudor, parou-se em face de uma obrigatoriedade ilegal, de um
desconto voluntário à força.
Munidos de boa intenção, quiçá, a
primária propriamente dita, devem a ter frequentado no BPD, quando inventaram
o C.C.A.D.R., onde em nome do desenvolvimento, se deu valores monetários em
massa, para algumas boas famílias, as quais se eximiram de pagar e contribuíram
para a falência técnica do banco. Completou-se o curso primário, suponho, com o
Banco Comercial de Moçambique, complementando o curriculum de um curso
elementar. Será? Perguntei-me.
É provavelmente nesta altura, que seleccionaram
os melhores alunos da turma anterior, que se passaram para um curso básico ou
secundário, onde começaram a trapacear, num latrocínio mais directo, ao bolso
do pacato cidadão. É então que a escola frequentada foi dos madjermanes e dos madjonidjones.
Preparando-se para passarem a uma fase de maior exigência, é que de permeio, a
turma vai fazendo uns pequenos cursos de capacitação, aperfeiçoamento e reciclagem,
aqui e acolá, nas urnas eleitorais; uns refreshments
na agilidade do furto de votos, enchimento de urnas, falsificação de editais. Cursos
dados por processos eleitorais. Coisas que pareciam de pequena monta, mas para
aperfeiçoamento e adestramento, que lhes permitiu ter a equivalência do nível
médio e o epíteto de máquina eleitoral.
Provavelmente, chegado a esse estágio
de habilidades, era preciso mudar de nível. Um curso superior não lhes era
desmerecido. Nesta fase, muitos alunos com qualificações recomendáveis e outros
não, alunos de outras escolas e universidades candidataram-se, todos admitidos sob
o critério da quantidade. Uns com certificado autêntico, outros com
certificados falsos, aqueloutros sem certificado, mas com habilidades
comprovadas, foram admitidos; todavia poucos seleccionados para a turma dos da
linha da frente e de confiança. Estes, fazendo, em consequência lógica, o bacharelato,
nas tramóias da estrutura de custo de combustíveis, onde uma taxa pirata, integrante,
do seu destino, os cidadãos que devem, não sabem; e impávidos, os remetidos à
ignorância, se remetem no silêncio cómodo da abcidadania.
Nesta fase, com a subida vertiginosa
de conhecimentos adquiridos e as habilidades treinadas, na arte de levar sem
pagar, ou de fazer de conta, sendo o peso da facturação, endossada aos bolsos
do, não tanto incauto, porém amedrontado povo, feito cobaia, nas pesquisas e
ensaios da universidade da trama. Progredindo assim, na escalada do saque, umas
vezes encoberto em falsos concursos públicos, porque privados, na EDM, nos
Aeroportos, na TDM, na Mcel, nas estradas pontes e escolas e outras
infra-estruturas, umas vezes a título de salário de cargos inexistentes, como
de PCAs adjuntos, bem como de Administradores não Executivos, outras vezes a título
de patrocínio de viagens e quejandos, para uma determinada organização, sempre
a mesma, despriorizando subsídios à agricultura e à cultura que merecem e
contribuiriam para o nosso desenvolvimento comum. Concluída a licenciatura, imagino,
impunha-se continuar, com o fito de fazer o mestrado. Contudo, para conferir
maior fiabilidade, era preciso internacionalizar o processo de formação. É
assim que no exterior, burlam o país nas compras dos Embraers e do Credilecs
estrondosamente sobre facturados, para que não se confundisse com simples “boladas”.
Chegados a esta fase de mestre, importava mostrar a ousadia de um universitário,
mestre em destreza, convinha emparelhar com os doutores das ciências políticas,
cujos conhecimentos se manifestam nos ecrãs da televisão, forma privilegiada de
trazer à sociedade, as suas habilidades. Começa o saque, à luz do dia, de
terras de quase toda costa da Zambézia em áreas de caça de material
imponderavelmente leve, o invadir de mares para a pesca de espécies terráqueas
de Cabo Delegado, o despudor do saque hélio-transportado no INSS, a tentativa
de ficar com terrenos no grande Maputo, em áreas como actual cadeia central, a
Facim, etc., etc., e para finalizar, o que começou como bandeira, Cahora Bassa
é nossa, deles. Aqui importa referir, que eliminaram a dialéctica e cultivaram
pequenos cursos de silenciamento hospitalar e de comunicação, um pouco por toda
casa, no quintal, na varanda, no quarto, na sala.
Chegados a este ponto, apenas sobrava
o verdadeiro doutoramento, PHD, feito não por módulos e exames no exterior, mas
sim presencial e fora do país. Universidade escolhida: Credit Suisse. Tutor:
Privinvest, especialidade: dívidas ocultas. Um tratado sobre roubo e calote,
que só os experts a pudessem
entender, para que não houvesse dúvidas da qualidade de formação dos quadros
dessa turma. Mas porque conhecimento e boas práticas não ocupam espaço, hoje
por hoje, fazem pequenos cursos de pós graduação; elaboram contratos com eles
próprios, ensaiam doutrinas moralistas de amor a pátria, disseminam o perigo
bacoco da ingerência, evocam cinicamente o medo do imperialismo. Parece-me, estou
no terreno das suposições, todas elas alimentadas pelos nossos meios de
comunicação, que lutam na adversidade da verdade.
Este foi o meu pensamento delirante,
(tomara, quem não deliraria em face de uma fraude desta dimensão) que pode não
estar de acordo com os factos reais, contundo, tentando a busca de razões e
motivos, da nossa desdita permissividade aos gatunos, que foram ao erário
público, e que empenharam o nosso e dos nossos, o futuro. Mas somos todos
chamados a reflectir, mesmo delirando, para encontrarmos as razões e causas, de
modo a evitar possíveis futuros desaires. E no fundo, bem no fundo, para que nos
tempos vindouros não sejamos, todos nós, conscientes ou incautos, coniventes
e/ou permissivos, enredados noutra trama, busquemos a cidadania, combatendo
todos estes e outros sinais de ausência de honestidade, como parece que foi
sendo admitido, porque não era comigo e não me atingia, para no fim
compreendermos, que estes passos desonestos dirigidos a outros, conferiram as
habilidades e teias de compromisso, que acabaram neste desaire nacional, que no
final, nos atinge indiferentemente de, raça, filiação partidária, sexo,
religião. Estou apenas com dúvidas, se independentemente da tribo. Mas
resumindo, o logro mais por inoperância que por habilidade.
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