Por: Lo-Chi
O que fiz do meu país?! Os direitos
humanos prevalecem às obrigações humanas. O país que eu fiz, as crianças têm
menos prerrogativa de beber um copo de leite comparativamente ao bêbado, cujo álcool,
com incentivos fiscais, se dissemina a preço de banana, enquanto que a criança
se priva no preço do seu subalimento.
O meu papel de educador, cómoda e
indevidamente, outorguei, furtando-me do meu dever fundamental e básico, passando
uma procuração de plenos poderes, às instituições cujo papel é complementar, mas
mesmo esse, de uma incompetência assustadora. E na vez de mimar, virei
permisso, e os valores e os limites, se confundiram com escravidão; e aboli-os.
Aboli-os tão levianamente, que na vez de filhos criei monstros. O que fui fazer?
A tal instituição a quem outorguei a educação, deseduca. Subcontratou a
penitenciária que virou faculdade. Faculdade da malandragem, essa mais
produtiva, na quantidade e qualidade. Em vã expectativa, surgiram as privadas,
que não só transmutaram tunchagamoyos, como nível básico das penitenciárias. Estou
pesaroso do meu país, mas fui eu que o fiz. A cada dia vejo alunos aos magotes,
regressando das aulas, na vez de exibirem garbosamente civismo, portam-se à altura
dos mais grosseiros arruaceiros, onde em palavrões, vão tendo conversas, que
fazem o gáudio dessa manada, pastando e regurgitando mal-criação, tendo de sobremesa
as meninas que indiferentes fazem da moléstia galanteio. Os professores esses
então, dão-me o desabono de recordar, que algum dia exerci essa profissão.
O que eu fiz do meu país, fi-lo na
passividade cómoda e cobarde, onde profissionais competentes, para terem vida
decente, tem que se prostituir com a política. Política profícua de parlamentares aldrabões submissos coniventes,
ministros cadongueiros em boladas das mais descaradas. Vendem madeira a preço
de lenha, assinam contratos com eles próprios. Projectam actividades com custos
dos olhos do povo, saem bestialmente ricos, pedindo investimento, investem lá fora. O país que eu fiz, desacredita a própria
Constituição, onde a agricultura é o motor, mas sem combustível, nem acessórios,
constrói pontes desnecessárias, quando o pouco que se produz, engasga-se no
campo.
O que fiz do meu país. Um soba
supostamente respeitado está envolto numa gravíssima suspeição de falta de
pontaria na aplicação dos bens públicos. Altos dignatários do país, na vez de
promoverem os empresários feitos, no sucesso do seu honesto esforço, cantam
hossanas aos empresários de esquema e do submundo, com histórias por demais
contadas e reconhecidas. O país que eu fiz, o ladrão tem mais direitos que o honesto
trabalhador. O ministro virou arguido, o juiz é julgado, tribunais supremos não
dominam a legislação, o ladrão persegue o polícia, o polícia insegura, a
procuradoria umas vezes se esconde outras vezes procura-se, a assembleia
deslegisla, o estado deixou de estar, ausente se fez. O país que eu fiz é um estado de direito, um direito
torto, empenado e opressor. Eu sonhei com um Estado de justiça e de amor, um Estado
trabalhador e não parasita.
No país que fiz, permiti, que os
senhores da guerra, contaminassem a sociedade, a tal ponto, que esta perdeu os
valores queridos da nossa tradição moçambicana: solidariedade, respeito,
humanismo, trabalho, valorização da mãe natureza. Os jovens adversários
políticos, odeiam-se, de adversários alquimizaram-se inimigos, como os seus
progenitores. Os senhores subverteram com a sua matriz financeira a tal jeito,
que mesmo nos pontos supostamente de reserva moral, se esgotou e tudo se
mercantilizou e virou um dumba nengue de tráfego de influência, de crime:
infantil, humano. O país que eu fiz, as religiões combatem a tradição e
cultura, a nossa essência; trazem o negócio do dízimo, sob o olhar impotente da
ignorância de todos nós e dos senhores, adoram o deus que eles criaram, e não
creem no Deus que criou o homem.
O país que eu fiz, quer ligar a
África, quando ele próprio não se ligou. A estrada nacional numero 1, nunca
foi, está sempre adiada. A agricultura que produz no mínimo, o máximo fica no
campo, apropriada pelas estradas e pontecas, firmemente intransitáveis. O meu
país não se abriu a si mesmo, e quer-se abrir ao mundo. O meu país ao avesso, a
estrada para a praia, teve direito a uma mega ponte, inflacionada, e asfalto,
para que não se ferissem os 4x4 da gangue. Pior que tudo, o meu país nunca se
aceitou, rejeitando uma parte de si, aceita os outros e seus desvalores. Esse é
o meu país, o país que eu fiz!
NA: Esse
lamento não é meu, é nosso. Eu e tu, que te sentes defraudado. Por outro lado
grato, as honrosas excepções, na esperança de que amanhã façam a diferença.
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