O carnaval de Quelimane, do meu
ponto de vista, teve três fases distintas; duas do tempo colonial que se arrastou aos dois primeiros anos da independência, e a terceira do momento actual.
Tempo colonial
1-
Os
carnavais de bairro eram caracterizados; para além daquilo que falei na minha
crónica inserida neste blogue; essencialmnte pela malta mascarada, que em
grupo, ia evoluindo em diversos bairros da cidade com algumas incursões na
cidade de cimento, onde para além da música executada por eles próprios, em
violas de lata e palmas de acompanhamento e quando possível um pequeno batuque
improvisado, dançavam. Mas era bem no fundo um movimento pantomímico,
tragicómimo, como que uma representação teatral em movimento, ou ambulante se
quiseres, que na inocência ia retratando ou caricaturando a realidade da vida.
Pena não ter nenhuma fotografia desse tempo e movimento.
2-
Carnavais
de salão promovidos pelos clubes, concomitante aos dos bairros, como se pode
ver pelas fotos abaixo, era uma espécie de baile, em que se misturavam diversos
rítimos porém sendo predominantes as marchinhas, onde uma camada da sociedade,
normalmente a colonial e/ou assimilada participava. As máscaras não eram a tónica,
porém vestes mais ou menos garridas.
Vê
se consegue ver a diferença com a foto a seguir
Aqui
a mescigenação acontecendo, mas timida a participação da camada considerada
marginal
1-
O
verdadeiro carnaval aconteceu, depois de um processo evolutivo de trasformação, ja nos últimos decénios da era; misceginou-se quase por completo. Acontecia no pavilhao do
Benfica, onde o samba e a marcha, música predominantemente de compositores
brasileiros, eram a exclusividade e os participantes essenciais eram os
chamados grupos foliões. Veja fotografias abaixo. Esses grupos eram formados por
alunos das escolas secundárias ( Técnica e Liceu) e alguns bairros limítrofes
da cidade de cimento, patrocinados por empresas que custeavam as entradas ,
alimentação e o traje, onde publicitavam-se.
Grupo Pintex – uma empresa que representava uma marca
de tintas do mesmo nome
Grupo 2M- uma marca de cerveja moçambicana
Pós Independência
Dois anos seguidos a independência, os carnavais seguiram
comemorados a maneira antiga. Depois impôs-se uma paralização por opção política.
Recuperou-se mais tarde, passada a ressaca emocional, própria do período, quando o município estava sob a batuta do Pio Matos; e o actual edil, Manuel de
Araujo, deu continuidade. É um carnaval com participação popular,
fundamentalmente com a juventude dos diversos bairros da cidade de Quelimane. Manteve-se
o desfile de rua, no primeiro e último dias; sendo a verdadeira festa feita ao
ar livre, numa avenida ou numa praça da cidade. Apesar de que o traço
fundamental é a dança, mas há uma característica antiga que teima em resistir,
ainda que timidamente: a pantomímia, que surge com um ou outro elemento dentro
dos grupos, ou elemento isolado, motivo de gáudio da assistência. Em termos
musicais, vai sofrendo uma evolução no que concerne ao reportório, posto que a
música moçambicana se vai introduzindo, prevalecendo contudo com alguma
evidência os compositores brasileiros.
Foto
de Lo-Chi
Foto
de Lo-Chi
Foto
de Lo-Chi
Por quê Quelimane? Pergunta deveras difícil de
responder. Tanto quanto sei, as outras cidades de Moçambique sempre fizeram
carnavais, inclusive, numa das cidadess onde vivi muito tempo, o Carlos Beirão,
do qual fiz referência numa crónica aqui publicada; o tal que provocou o
movimento de uniformização de comemoração carnavalesca no Benfica; também foi um
dos grandes impulsionadores do fenómeno na cidade da Beira. Há uma empresa que
tem vindo a tentar fazer do carnaval de Maputo, uma coisa de fama internacional,
movimentando empresas e capitais. A verdade porém, é que nenhuma delas consegue
ter a dimensão como fenómeno, do carnaval de Quelimane.
Foto
de Lo-Chi
Convém recordar, que para além do carnaval, há um
outro evento anual, acontecendo em “Quelimane”, de uns tempos a esta parte, que
já tem repercussão internacional; o festival do Zalala. Sem grandes promoções,
ele vai acontecendo, movimentando mole humana impressionante, durante os três dias e noites que dura, com uma dinamica e animação sem rival. Mais impressionante
fica, se contrapormos a essa realidade o facto de a Zambézia e consequentemente
a sua cidade capital, estar entre os locais de maior incidência da pobreza, em
Moçambique. A única resposta que encontro é que; faz parte do ADN deste povo.
Festival de Zalala
Foto
de Lo-Chi
Foto
de Lo-Chi
*Texto feito a pedido, para substanciar um trabalho de final de curso
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