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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Carnaval de Quelimane; seu processo evolutivo*

Por Lo-Chi


O carnaval de Quelimane, do meu ponto de vista, teve três fases distintas; duas do tempo colonial que se arrastou aos dois primeiros anos da independência, e a terceira do momento actual.

Tempo colonial

1-      Os carnavais de bairro eram caracterizados; para além daquilo que falei na minha crónica inserida neste blogue; essencialmnte pela malta mascarada, que em grupo, ia evoluindo em diversos bairros da cidade com algumas incursões na cidade de cimento, onde para além da música executada por eles próprios, em violas de lata e palmas de acompanhamento e quando possível um pequeno batuque improvisado, dançavam. Mas era bem no fundo um movimento pantomímico, tragicómimo, como que uma representação teatral em movimento, ou ambulante se quiseres, que na inocência ia retratando ou caricaturando a realidade da vida. Pena não ter nenhuma fotografia desse tempo e movimento.


2-      Carnavais de salão promovidos pelos clubes, concomitante aos dos bairros, como se pode ver pelas fotos abaixo, era uma espécie de baile, em que se misturavam diversos rítimos porém sendo predominantes as marchinhas, onde uma camada da sociedade, normalmente a colonial e/ou assimilada participava. As máscaras não eram a tónica, porém vestes mais ou menos garridas.


Vê se consegue ver a diferença com a foto a seguir




Aqui a mescigenação acontecendo, mas timida a participação da camada considerada marginal



1-      O verdadeiro carnaval aconteceu, depois de um processo evolutivo de trasformação, ja nos últimos decénios da era; misceginou-se quase por completo. Acontecia no pavilhao do Benfica, onde o samba e a marcha, música predominantemente de compositores brasileiros, eram a exclusividade e os participantes essenciais eram os chamados grupos foliões. Veja fotografias abaixo. Esses grupos eram formados por alunos das escolas secundárias ( Técnica e Liceu) e alguns bairros limítrofes da cidade de cimento, patrocinados por empresas que custeavam as entradas , alimentação e o traje, onde publicitavam-se.



Grupo Pintex – uma empresa que representava uma marca de tintas do mesmo nome




                                                                   Grupo 2M- uma marca de cerveja moçambicana



Pós Independência

Dois anos seguidos a independência, os carnavais seguiram comemorados a maneira antiga. Depois impôs-se uma paralização por opção política. Recuperou-se mais tarde, passada a ressaca emocional, própria do período, quando o município estava sob a batuta do Pio Matos; e o actual edil, Manuel de Araujo, deu continuidade. É um carnaval com participação popular, fundamentalmente com a juventude dos diversos bairros da cidade de Quelimane. Manteve-se o desfile de rua, no primeiro e último dias; sendo a verdadeira festa feita ao ar livre, numa avenida ou numa praça da cidade. Apesar de que o traço fundamental é a dança, mas há uma característica antiga que teima em resistir, ainda que timidamente: a pantomímia, que surge com um ou outro elemento dentro dos grupos, ou elemento isolado, motivo de gáudio da assistência. Em termos musicais, vai sofrendo uma evolução no que concerne ao reportório, posto que a música moçambicana se vai introduzindo, prevalecendo contudo com alguma evidência os compositores brasileiros.


Foto de Lo-Chi

Foto de Lo-Chi


Foto de Lo-Chi

Por quê Quelimane? Pergunta deveras difícil de responder. Tanto quanto sei, as outras cidades de Moçambique sempre fizeram carnavais, inclusive, numa das cidadess onde vivi muito tempo, o Carlos Beirão, do qual fiz referência numa crónica aqui publicada; o tal que provocou o movimento de uniformização de comemoração carnavalesca no Benfica; também foi um dos grandes impulsionadores do fenómeno na cidade da Beira. Há uma empresa que tem vindo a tentar fazer do carnaval de Maputo, uma coisa de fama internacional, movimentando empresas e capitais. A verdade porém, é que nenhuma delas consegue ter a dimensão como fenómeno, do carnaval de Quelimane.

Foto de Lo-Chi


Convém recordar, que para além do carnaval, há um outro evento anual, acontecendo em “Quelimane”, de uns tempos a esta parte, que já tem repercussão internacional; o festival do Zalala. Sem grandes promoções, ele vai acontecendo, movimentando mole humana impressionante, durante os três dias e noites que dura, com uma dinamica e animação sem rival. Mais impressionante fica, se contrapormos a essa realidade o facto de a Zambézia e consequentemente a sua cidade capital, estar entre os locais de maior incidência da pobreza, em Moçambique. A única resposta que encontro é que; faz parte do ADN deste povo.

                                                                              Festival de Zalala
Foto de Lo-Chi



Foto de Lo-Chi

*Texto feito a pedido, para substanciar um trabalho de final de curso

  





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