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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O poder de Estado



Sem entrar em detalhes da função do Estado, já diversas vezes explanado pelos competentes tratadistas, mas a minha percepção e desejo, é que o Estado deveria ter mais acções e principalmente as que não necessitam de grandes dispêndios orçamentais, porém acções que tenham efeitos a partir do empenho dos seus agentes. Focando fundamentalmente o aspecto de controlo e repressão como aspectos a centrar-me, sem contudo querer significar que o papel do Estado se resuma a esses elementos.

Deixem-me contar-vos um facto que presenciei, num pais que não vou dizer o nome para evitar sugestões. Estava eu procurando por um determinado endereço, com o qual não atinava e alguém me diz, para me dirigir a um polícia que decerto me iria indicar. Lá vou eu meio a medo e de coragem, em direcção a um polícia de compleição física que seguramente se pode classificar de taludo, na verdadeira acepção da palavra, e pergunto-o, ao que curiosamente, bem solicito com uma manifesta simpatia, me indica e sugere a possibilidade de me levar ate ao local, ao que eu prontamente rejeitei em virtude de já ter entendido. E comento com o meu companheiro de altura, a solicitude e a simpatia, que no meu entender, mais parecia de uma assistente de bordo ou de uma enfermeira que se preze, que de um policia. Localizado o endereço, resolvida a questão, lá nos fizemos a rua, no sentido inverso. Qual é o nosso espanto, o mesmo policia que irradiou simpatia quanto bastasse, estava com os dentes arreganhados e cassetete em punho, pondo nos eixos um cidadão que se confundiu e pôs em causa a sua autoridade; ou melhor a autoridade do Estado de quem ele era o seu agente.

Essa história leva-me a uma conversa tida naquelas tardes amenas, de lazer, em que se discutia, no caso, se aos pais se devia respeito ou, se o medo é quem imperava no processo de educação dos filhos. Depois de muita opinião baseada em factos ou suposições, alguém disse e com razão que nos deixássemos de veleidades, que no processo de educação o medo impera em primeiro lugar, e no progenitor que o sabe dosear e aplicar em momentos oportunos, consegue trazer o equilíbrio do respeito, cuja origem é o medo sem dúvida nenhuma. Reflecti e recordei-me que aquela aversão primeira, ao sacrifício de ir a escola e fazer deveres, enquanto outros no meu bairro, despendiam os seus tempos em brincadeiras e malandragens a tempo inteiro, só foi possível desfazer ou anular, graças a ditadura do meu pai, que não dava margens para discussão em algumas matérias, e se porventura ensaiasse desobediência, uma sova era correctivo quanto bastasse; e se ontem via como inflexibilidade, hoje só tenho a agradecer a agradável e útil ditadura. E perguntem-me, se a tareia era o critério de educação do meu pai, e eu dir-vos-ei que não, posto que meus irmãos nunca apanharam, já porque a prontidão de resposta nas ordens por ele emanadas, eram imediatas por parte dos meus irmãos. E só entrei na linha, com o correctivo adequado ao meu comportamento.
                                                                              Foto retirada do Google

Hoje faz-me espécie, ver os cabos de energia a serem roubados por moçambicanos, sem que medidas suficientemente enérgicas e na proporção do prejuízo sejam tomadas de maneira efectiva e eficaz. Preferimos ver milhões de moçambicanos – no caso dos roubos de cabo acontecido agora quando das cheias da Zambézia – os quais ficaram privados de alimentos e provavelmente de assistência adequada de saúde, por defender os direitos humanos de meia dúzia de ladrões. E os direitos da população não apenas de Nampula e Cabo Delegado bem como de parte da população da Zambézia ficam aonde? Hoje vejo, nas nossas cidades contra todas as regras e princípios de saneamento, lixo a ser deixado a qualquer hora e a ser recolhido pelo Conselho Municipal a qualquer hora também, e com surtos de cólera que nos custam milhões em nome de uma demo-anarquia. Hoje vejo, os motoristas com a maior das veleidades fazerem regra a violação das normas de condução. Hoje por hoje, vejo estrangeiros com facilidades, tirar o Bilhete de Identidade – pondo em causa a soberania - e os moçambicanos com imensas dificuldades de possuí-lo e aqueles tirarem o sarro com estes. Esses mesmos estrangeiros chegarem e usurparem o poder de Estado – pondo em causa a soberania - matando animais protegidos, retirando recursos naturais ilegalmente e com a maior das naturalidades e nós completamente atados, porque o poder de Estado confunde direito humanos com permissividade anárquica e perigosa, que põe em causa toda uma nação sustentável.

Se me perguntarem o que prefiro como sistema politico, direi, que prefiro a democracia, mas uma democracia robusta e equilibrada que a par da legalidade e simpatia e o bem servir dos seus agentes, esteja lado a lado com a intransigência ante ao fazer cumprir o que constitui norma, nem que para isso tenha que reprimir e por em causa o direito humano individual na salvaguarda do colectivo, do que a permissividade que permite a ditadura dos ladrões, sequestradores e afins, conferindo-lhes maior direitos humanos que a dos honestos e trabalhadores.
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PS. Aliás, não é novidade ver-se estrangeiros bem articulados com algumas franjas do poder, ou com algumas notinhas no bolso, humilharem moçambicanos, quantas vezes gratuitamente. Sou contra a xenofobia, bem como super contra estrangeiros humilharem moçambicanos em Moçambique; sugere-me sempre uma outra luta de libertação nacional.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Chitima: o que queremos afinal?!



Tem piada que quando fui a Chitima, pela primeiríssima vez, vi a sinalética, dizia Estima, mas parece que a recuperação do nome autêntico, fez com que alguns perdessem a autenticidade. A propósito de quê, esta diarreia verbal, podem perguntar os caros leitores.
Nunca me simpatizei com o termo auto-estima. Não me perguntem porquê, porque não sei. Porém, sei que, talvez o equivalente, tem a ver com o orgulho, orgulho que tens que ter de ti próprio. Provavelmente aqui se encontre a explicação da minha aversão; na formação ou formatação religiosa que tive,  que condenava o orgulho. Mas religiões a parte. Tanto quanto pude perceber, a auto-estima tinha como objectivo, que o moçambicano se valorizasse, posto que todo o processo de colonização teve como fito, desvalorizar, ou melhor espezinhar todos os valores moçambicanos. E o conceito de auto-estima apareceu, como forma de dizer que nós tínhamos que nos resgatar em termos de valores. E politicamente falando, estamos saindo da ressaca da auto-estima como slogan. Porém, olhando para a catástrofe de Chitima dá-me a sensação de, qualquer coisa que não surtiu efeito.
Imagino-me numa festa ou tertúlia de amigos, onde exclusivamente fomos chamados para beber whisky, composto por cinco garrafas ou garrafões de cinco litros, como as que aparecem algumas vezes por aí. Não sei porque malfadada sorte, aparece alguém que não gosta de nós ou do nosso convívio e sorrateiro coloca um veneno, numas estraquinina, noutras cianeto, dentro do john walker. Em consequência, começamos com aqueles desarranjos intestinais, que vira para uns intoxicação e para outros envenenamento; e uns rapidamente vão ao hospital, outros não; por motivos que só, cada um pode saber ( e eu posso tentar adivinhar, desde o receio de ser mal atendido, bem como porque com conhecimento de causa, não quero que o meu mal, que eu acho menor, vire num óbito certo, porque os nossos hospitais viraram morgue, por razões como incompetência, desleixo, incúria, etc. etc.). Porém, o sucedido pela amplitude, levanta um aracéu de todo o tamanho, movimentando o país inteiro, como é comum em casos que tais, posto que para uns, políticos, é altura de aparecer para mostrar identidade, para outros, comerciantes, é altura de fingir solidariedade para mostrar responsabilidade social, fingidos em atonia de estarmos todos consternados, mas logo em seguida, vamos para a boate mais próxima, esquecidos do próximo que nos é deveras distante. Repórteres são mobilizados; e decerto que nas reportagens, aparecerá, e com razão, que o whisky foi envenenado e vitimou tantas pessoas, das quais x morreram e outras tantas internadas, mas com alta. Ninguém dirá que o pombhe, alias, whisky matou, mas sim que foi contaminado com um veneno que matou uns e a outros provocou sérios distúrbios.
Porquê que o envenenamento do pombhe, vai pôr em causa o pombhe?! O whisky é uma bebida tradicional escocesa que se industrializou, bem como o gin é uma bebida tradicional inglesa que se industrializou, assim como a amarula é uma bebida tradicional - canhu se quiserem - que os sul-africanos industrializaram.
Foi com tamanha consternação que vi, do acidente fatídico, o objecto de acusação na vez de ser o veneno, envenenarem midiaticamente a nossa bebida tradicional, com argumentos da forma e meios de a confeccionarem como se de repente todas as culpas do nível alcoólico do país recaísse sobre a secular bebida, como se seculares resistidas de todas as perseguições coloniais, voltassem num pesadelo. De tal modo que, vi e tive a sensação de estar, um jornalista, num embaraço imprevisto, quando numa pergunta canhestra, o que estava a beber, esperando que ele dissesse pombhe, a um consumidor azougue, e ele responde astutamente, uma bebida alcoólica, e o repórter se perde lancinante, sem saber o que perguntar em seguida, de tão formatado que ia. Mas todo esse inesperado ataque ao pombhe, deu-me a sensação que em Estima, ou melhor, Chitima se perdeu a auto-estima, desbaratando o que é nosso, imputando toda culpa do nível alcoólico nela, esquecendo-nos de outras mais incentivadoras e mais perniciosas como, os travel, os paradise, e etc., etc..  

Em Portugal, para exemplo, nos lagares como é que se esmaga a uva, produzindo o mosto do vinho?

Imagine, caro compatriota, se é capaz, produzirmos uma bebida de exportação, com o mosto feito de canhu, jambalão ou caju, em que meia dúzia de pretinhos, se pusessem a esmagar com os pés, o que não viria nos midias, um autêntico opróbrio, falando das exalações mefíticas do chulé, suor e catinga, a mistura com aspectos de sanidade, de modos que seriamos liminarmente banidos de exportar a dita cuja. Mas o vinho como é produzido por quem produz, até pagamos a preço de ouro, e bebemo-lo chamando o néctar dos deuses.
Se há algum mal na forma de confeccionar pombhe, o caju, o canhu, na vez de o combatermos, devemos é arranjar meios de potenciar os produtores, de modo a produzi-la comme il faut; posto que esse vão combate, me leva aos tempos desagradáveis.