por Lo-Chi
Não faça antecipadamente juízos de valor. Leia, e tire
a sua conclusão, diferente ou igual, por sua conta, gosto e risco. Há pouco
tempo, li um artigo, que recebi na minha
caixa de email, onde um articulista angolano, Isomar Pedro Gomes, motivado por
uma frase estampada no vidro para-brisa, a exemplo dos nossos chapas cem, cuja
frase dizia taxativamente: “Deus é branco, anjo é mulato e demónio é preto”. E
ele, secundando com os seus argumentos e na perspectiva, dizia que poderia
aceitar Deus ser branco, abstinha-se de falar do mulato e decididamente
afirmava, depois de diversas demonstrações feitas, na base dos nossos
dirigentes a nível da política do continente, que Deus, preto não era com toda a certeza. A forma como
sustentou a sua tese, dá-lhe toda autoridade para conclusão tão nos
desfavorável.
Quando olho para a África, continente negro, terra de
origem de nós pretos, e noto que no contexto mundial, tem como característica
ser um local onde todas as religiões confluíram e confluem: budista, muçulmana, hindu, cristã, animista, sem falar das meras oportunistas comerciais, etc. etc.,
e convivem numa harmonia pouco comum, obriga-me a reconhecer o espírito de
tolerância e de harmonia própria deste povo. E mais, a presença de muito Deus,
ou melhor de muitas manifestações divinas em nós; só podemos ser filhos Seu.
A África, expressão de vários conflitos, motivo de
várias cobiças, berço de várias lutas muitas com proporções des-humanas, nesse ângulo
a presença inequívoca do diabo, tentando é evidente. E costuma-se dizer onde
Deus está, o diabo idem, para poder frustrar as intenções de salvar a vida
humana, para além do carnal ou material, como se quiser designar. Mas o preto
vai sobrevivendo, as investidas do diabo, mas como mártir. Um mártir sem
rancor. Que se expressa em diversas formas, uma das quais, a forma como se
relaciona com o seu antigo colonizador, que antes o torturou, vilipendiou, quis
reduzi-lo a quinhentas, mas ultrapassou, e recebe-o hoje bastas vezes, na aflição
em que a Europa está fustigada, com os braços abertos, num amplexo de irmão. E
mártir assim, só pode ser filho de Deus.
Na África, todos os dias se dão milhares de milagres,
famílias enormes com salários de miséria, condições de sanidade; ambiental,
humana, mental indescritíveis; vivendo. As unidades sanitárias que deveriam ser
o centro de mitigação e ou solução dessas carências, encontram-se muitas vezes
sem o básico de medicamentos. Acresce-se as humilhações de toda espécie e
feitio, que a população tem de passar. E o negro vai sobrevivendo. Vai sobrevivendo
com um sorriso nos lábios, sempre cantando; na dor ou na desgraça. E esse
sobreviver, onde vai inventar forças para o efeito é algumas vezes
assustadoramente surpreendente. Só pode
ser por milagre de Deus. Quando olho para as contrariedades que a vida desse povo
traz as teorias científicas e técnicas, como carros podres viajando com montes
de pessoas, sem acidentes e sem avarias, por aí além, aviões em condições
precárias, no estilo de chapa cem, voando sem quedas de monta, pontes e prédios
tecnicamente falidas, porém sobrevivendo a previsível queda, de tão carcomidas as
estruturas, contudo sólidas como as de manutenção regular, autênticos milagres
de sobrevivência, só pode ser obra de Deus. Deus está na África, Deus é africano.
Estava eu, certo dia, aflito e fui ter com um médico
amigo, estrangeiro, que atendendo ao meu grito de aflição, sai do seu gabinete
para me receber e no entretanto, estava saindo o seu doente acabado de ser
atendido. E ele disse-me: estás a ver aquele senhor, que vai ali. Tecnicamente
está quase morto. Mas vê, ele vai andando normalmente com os seus próprios pés,
sem tonturas, sem nada. E eu espantado perguntei, Porquê?, e ele, Num outro
sítio do mundo, ninguém acreditaria. Ele tem dois de hemoglobina. Isso só pode
ser milagre. Não sei se referiu-se ao milagre com intenção ou não, porém estava
tentando retratar a enormidade do facto.
Senhores tanta protecção; ao que sofre, mas canta;
debilitado, mas vive normalmente; vilipendiado tão recentemente, mas perdoa,
quase de imediato; meus senhores, Deus benevolente, só pode ser preto. O articulista
do texto que me referi no primeiro parágrafo, decerto confundiu políticos com
população. Agora, quem quiser adjectivar o termo político que o faça. Eu não;
que o diabo anda aí, à solta.
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