Por: Lo-Chi
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Se procurarmos o conceito de ditadura, no que diz respeito aos
sistemas governativos, para daí inferirmos no tema em questão, encontraremos
esta definição sintética tirada do dicionário que diz; é um governo que o poder
executivo absorve o poder legislativo ou o dispensa. Deste conceito,
não obstante outras matérias consideradas na definição mais completa, pode
depreender-se que aparentemente, fica o judicial fora da alçada. Outrossim,
tirado da lógica filosófica do sistema, o governado em momento nenhum é
consultado, nem directa nem indirectamente. Em consequência, este é impelido a
executar o que se determinou, muitas vezes sem entender causas, motivos e
afins.
O nascimento é uma ditadura, fruto de duas vontades democráticas. E
todo o resto se desenvolve na imposição de vontades, num único sujeito. Se nos
iludirmos, parece que os espermatezóides movimentam-se por livre e espontânea vontade, de tão céleres que saem. Pura falsidade, ou crasso erro. A pergunta
que se põe e com clara razoabilidade, é: alguém sai onde se sente bem? E pior
ainda, se tivermos em linha de conta, aquilo que é hoje a vida terrena. Para
tão pacatos cidadãos da colhoenêzia ou testicolândia, deiam o nome que vos
aprover, só pode ser fruto de algum fenómeno que os impulsiona. Quanto à mim,
saem fugidos de um uma tempestade de calor, aliado a um tremor dos testículos,
daí o nome do micro-planeta, determinando aquele corre corre de salve-se quem
poder, acelerados desalmadamente, sendo a competição tão acérrima, que algumas
vezes, dois ou três aportam em simultâneo a mesma e única ilha disponível, o
óvulo; e aí formam-se os gêmeos. Outras vezes, não sendo o mais rápido, porém
apanhado na crista da onda do esperma, qual um tsunami invadindo praias, impele
o cidadão espermatezóide para o óvulo, no qual cai desmaiado. Só isto explica,
a chegada primeira ao óvulo de deficientes congénitos. Registe-se que todo este
cataclismo acontece fruto de “duas vontades”, que não consultaram esses habitantes, em momento nenhum, expulsando-os das suas habitações,
um dos quais aporta a suposta Ítaca da Odisséia de Homero, feito um Ulisses
desventurado sem noção.
Chegado, convencido que em porto seguro, e de tão ofegante da
correria, à princípio, não nota o quão quente é o local, o que com o andar dos
tempos é-lhe imposto, para além de uma adaptação, as alterações pertinentes. Metamorfoseia-se
feto. Aí recebe uma nova moradia temporária, o útero, onde na impossibilidade
de o fazer, é-se alimentado por um pipeline chamado cordão umbilical, no qual nem
sequer tem direito ao cardápio, vai comendo ao belo prazer de um ser
desconhecido, feito prisioneiro em cela disciplinar. E de quando em vez, vai
recebendo umas visitas nocturnas, supõe, que lhe acena, numa hesitação
caracterizada, num vai e vem típico de indecisão. E para além de indeciso é mal
educado, e decerto sabem porquê, não me ponham aqui a especificar razões e
motivos. Exponencialmente agigantado, o feto já não cabe no cubículo, pelo que sujeita-se a uma nova expulsão,
desta feita, para além de não democrática, oprimente. Vê-se obrigado a pirar
por uma saida estreita, depois de muito sofrimento, e como se não bastasse é
recebido aos tabefes. Destino maldito, pior sorte não lhe poderia caber.
Recebido e festejado, sem que o sujeito tenha participação ou vontade,
vai sendo no transcurso do tempo, amestrado, de modo a que, se adeque
comportamentalmente aos preceitos da dita sociedade, e com efeito, algumas
coisas vai sabendo, e já na idade juvenil, quando vai acelerado e convencido
que é dono do seu nariz, vem o paizinho que lhe prega esta, situando-lhe no
sistema claramente: ”Querido filho,
enquanto viver nesta casa você vai ter que obedecer as regras.”
pressupõe-se menor de idade: etária, económica e financeira, “Aqui não governa a democracia”, do ponto
de vista do oprimido, desnecessária essa advertência, já que conviveu
permanentemente com a ditadura, e sabe disso, “ não fiz campanha eleitoral para ser seu pai”, tenho quase a certeza
que o puto fica com a mesma vontade de perguntar, e eu para ser seu filho?, “ nesta casa, fará o que eu digo e não deve me
questionar, porque tudo o que eu fizer, está motivado por amor”*. Mal sabe o pai que tudo que o filho
quer, nesse instante, é ser pai, ou melhor livrar-se da ditadura, ou melhor
ainda, ser democrático ditador.
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P.S.: Qualquer semelhança com a nossa cena politica é mera coincidência.
* texto tirado numa das redes sociais e que é atribuido não sei à quem, mas que me pareceu
uma quase fotocópia ao que eu ouvi do meu pai, e que repeti exactamente ao meu
filho. Ditaduras da educação, que estão provando ser mais eficientes e eficazes
que alguns modelos actualmente propalados —na visão de pai e não do narrador.