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quarta-feira, 25 de março de 2015

A reforma que urge



Dando o mote ao desafio que o ministro da educação motivou, de repensar a educação, aqui estou eu como cidadão. E a educação precisa de ser repensada. E no repensar a educação, feita pelos antigos ministros do pelouro, simpatizei-me, muito especialmente, com dois excertos que tive oportunidade de ter acesso. Primeiro do ex-ministro Augusto Jone, que pôs a questão na quantidade de disciplinas da pequenada, da primeira a quarta classe, propondo que apenas se centrasse no português e na aritmética. Se os nossos alunos da primeira fase de escolaridade soubessem ao menos falar, ler, escrever bem e fazer as operações aritméticas mais basilares da vida; somar subtrair multiplicar e dividir, seria um estrondoso sucesso. Na vez de querermos que saibam tanta coisa e no fundo, saindo sem saber coisa nenhuma. Por outro lado, vi com bons olhos a chamada de atenção da outra antiga ministra de educação, Graça, que se centrou no nível dos nossos professores em termos de domínio da língua, que quer queiramos quer não, temos que a utilizar para a nossa desdita ou não, que é o português. E para quem tem ouvido reportagens com intervenção de professores até os de nível universitário, nota um tremendo deficit de capacidade de expressar ideias, e pior ainda, com um português que seja falado escorreitamente. Não faz uma semana, estive numa festa de graduação, onde solicitaram a um professor universitário que tivesse uma intervenção: uma pobreza de bradar aos céus; meu Deus! Mas entretanto, não se coibia de ser chamado doutor. Doutor de quê? E mais escandalizado fiquei eu, quando soube que havia sido designado tutor da defesa do graduado em questão, num curso de Direito, para desgraça da justiça, que já anda nas ruas de amargura. Tutor??!! As nossas universidades precisam de levar muito a sério a questão de formação dos supostos. Foi aí que compreendi a razão de, num dos recentes imbróglios de alunos e polícias, em plena televisão, ver um aluno universitário presentear-nos com a seguinte expressão: “ Nós estomos” não foi uma falha porque ele fez questão de repetir. Quanto a mim outro aspecto a tomar-se em consideração rápida e seriamente é o número de alunos que cada sala de aula deve comportar.

A educação precisa urgentemente de reformas ousadas, que em última estância vão prejudicar algumas pessoas: alunos e professores. Nestes processos é inevitável que haja prejudicados. Porém, se nos mantivermos neste diapasão, acabaremos numa autêntica babilónia, com custos altíssimos que provavelmente porão em causa a nossa existência como nação. Neste andar, teremos médicos a matar, polícias a roubar, juízes condenados, advogados defendidos, padres no feitiço, agricultores com fome, engenheiros civis sem tecto, técnicos sem técnica, etc., etc..

No capítulo da educação, quanto à mim, as facilidades são mais perniciosas que as dificuldades, e em última estância sei, que a exigência faz excelência. As universidades mais famosas a nível mundial não são as que facilitam, são as que exigem. Vi um documentário sobre o sucesso da Índia como resultado de um posicionamento estratégico corajoso, onde o Estado chamou a si a responsabilidade de aceitar a realidade de que nem todos temos o mesmo QI, e determinou que aqueles com o QI acima da média, frequentassem escolas especiais, com alto grau de exigência e dificuldade e os que se mantinham, até um determinado nível, eram seleccionados para cursos no exterior, em universidades altamente reconhecidas e exigentes. E hoje, o Estado que aceitou custos e perdas, começa a recolher os benefícios dessa corajosa medida. Quem não ouviu falar dos milagres a acontecer nas clínicas na Índia (provocando grande fluxo de turismo de saúde) a preços relativamente baixos, quando comparados com a Europa e América do Norte? O contrário também é valido. Nem todos nós fomos talhados para a academia, mas nem por isso deixamos de poder contribuir de diversas maneiras para o crescimento do país. Falo com conhecimento de causa. Somos três irmãos e houve um, nem com a lei do chicote as matérias escolares entravam. Fez a terceira classe a trancos e barrancos, mas hoje é, o que o Hélder Muteia chamou, na sua crónica, “técnico wamabassa”. É um homem de vários ofícios; carpinteiro, pedreiro, pintor, canalizador e nem por isso, deixou de ser uma pessoa a viver condignamente, e de uma utilidade indispensável.


O nosso descalabro do ensino primário, e por efeito dominó à outros domínios, começa precisamente nos centros de formação dos professores, onde as famosas metas complicam, iludem a realidade; quando a quantidade se confunde com qualidade. E a venalidade confere a academia os tons dedáleos do mercado do peixe. Nesta realidade, estes futuros professores só podem multiplicar a ignorância e a trafulhice, sem desprimor dos que se aplicam e levam a sério esta profissão nobre, que devia estar prestigiada.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Labour ominia vincit improbus




Caros amigos e colegas do graduado Fijamo
Labour ominia vincit improbus, é o que leio na gravata do meu amigo Ismael Fijamo, recém graduado no curso de Ciências Jurídicas, pela A Politécnica, frase essa que me parece constituir o axioma adoptado por esta instituição universitária. Curioso; uma vez perguntei o que significava a um estudante da mesma, e não vou dizer de que curso, para não escandalizar, e ele deixou-me com a sensação de surpresa.

Esse facto intrigou-me e pus-me a questionar, se a culpa era do estudante ou da instituição. Isso, porque sei que normalmente as grandes instituições, para qualquer um, que entre no seu seio, tem por obrigação integra-lo ou ambienta-lo. Dar a conhecer aquilo que hoje designam na linguagem empresarial de visão, estratégia, e valores da corporação. Apesar de que, os valores, raros são os organismos que os respeitam integralmente, sendo algumas vezes uma utopia, quando na realidade deveria constituir instrumentos para que a visão se transformasse em realidade. Aqui puxo a memória, a minha fácil compreensão, quando uma instituição multinacional que se preza, naquilo que eles chamam de “induction”, puseram-me a falar e a interagir com o administrador, o que era normal para a minha cultura, tendo em consideração o meu posto designado, passando por toda cadeia intermediária, até ao motorista e servente, o que me pôs aparvalhado, porque não entendia o porquê, na altura, mas depois, valorizei e percebi as razões e motivos, aliás a prática viva do que havia aprendido teoricamente no ISDE(Instituto Superior de Direcção da Economia), mas não havia percebido a dimensão: importância de uma integração integral, perdoem-me o pleonasmo. Se vocês estão atentos e como inteligentes que são, sabem que despendi esse tempo, dando o mote ao desafio que o ministro da educação motivou, de repensar a educação. E a educação precisa de ser repensada. Continuando; como todos nós sabemos, tenho a certeza, mas os que excepcionalmente não sabem, labour omnia vincit improbus, significa em português, trabalho persistente vence tudo, frase de um pensador romano, “Públio Virgílio Marão, nascido na cidade de Andes (actual Pietole), 70 a.C. e morreu em Brindsi, 19 a.C.; poeta, fortemente influenciado por outro bardo, porém este helénico, de nome Teócrito”*.

Pois bem, a veracidade dessa frase personificou-se neste homem, Ismael Fijamo Sadea, lincenciado, como mandam os cânones, cujo tem a honra de ser meu amigo, e eu amigo dele, constituindo a sua graduação o leitmotiv deste convívio, que se pretende lá mais para frente, leve e festivo. Mas antes da parte festiva do convívio permitam-me, ele e excelências, que eu vos apresente o anfitrião, sub Júdice. A sua graça já foi referida, dispenso e retenho-me no retrato. Este homem foi marcadamente influenciado por cinco pessoas:
-a sua mãe, Madalena Salima, de quem ele retém os ensinamentos básicos, porém estruturantes e visionários. Não a conheci, mas quando ele a descreve, fá-lo com tanta paixão e mestria, que quase acredito que a conheci.
-o seu irmão Oliveira, que não conheço, de quem ele fala amiúde, todavia nos momentos cruciais, ou quando pretende buscar um exemplo que vale por mil palavras, e ipso facto, servem de concreto, no sentido de engenharia civil, daquilo que acredita como valor.
-David Alone seu dirigente profissional, que nutria por ele e vice-versa uma estima especial. Dessa estima, estabeleceu-se uma espécie de compromisso intelectual, em que ele, o Fijamo, foi buscar as coordenadas e o gosto pelo saber. Eles divergiam, num aspecto essencial; Alone, simples e modesto, o meu amigo complicado e temperamental, mas depois compensa(va) com a racionalidade.
-**
E esse gosto pelo saber, levou-o a história, e foi aí que ele a revisitou, desde a Pré, a Idade Antiga, a Média, a Moderna e a Contemporânea. Nesse percurso, conviveu com matemáticos, filósofos, escritores, cientistas; e quis ele, que a marca fosse indelével, de tal modo que foi emprestar-lha a nomenclatura da sua prole masculina; ora então vejamos para aferir:
-ao mais velho Heitor, foi buscar a mitologia grega, onde este um príncipe de Tróia, foi um dos maiores guerreiros, cantado pelo Homero, que quando a ele se referia no seu poema épico, Ilíada, o designava ora de “domador de cavalos” ora de “espada flamejante”.
-ao segundo deu-lhe o nome de Eureka, Heureca, uma interjeição grega, usada, quando alguém encontra ou descobre algo. Expressão que se atribui ao Arquimedes (matemático grego), quando descobriu, no banho, a lei do peso específico do corpo.

Abro aqui um parêntese para especificar, que para as meninas, ele preferiu ir para os aspectos sentimentais e puramente culturais ( Loveness e Tchanaze), aliás, mostrando aqui a sua multi-discipline, ou quiçá realçando a sua faceta poliglota.

Isso para dizer, quase concluindo, que o meu amigo, Ismael Fijamo, antes de entrar para a academia, era um académico informal, e que apesar da idade madura, metendo-se numa aventura não muito vulgar, e não obstante tudo a desfavor, por causa da antecâmara da senilidade, não me admirei, quando informalmente, vários alunos, colegas seus, o consideraram melhor aluno do curso, -“labour ominia vincit improbus”. Antes de terminar, e parafraseando os ensinamentos do nosso grande criminalista, António Frangulus, dizer que o que acabou de ser dito, não é um juízo de suspeita, nem sequer de probabilidade, mas sim um julgamento, com a sentença transitada em julgado. E agora, nos finalmentes, dizer que, tenho a certeza, conhecendo a sua perspicácia e argúcia, munido do manancial de conhecimentos jurídicos legais recém adquiridos, que o meu amigo fará muito, do pouco tempo que lhe sobra, isso se atentarmos as estatísticas de esperança de vida, para se destacar com zelo, competência e brio, como profissional da sua área. Bem haja, o licenciado Ismael Fijamo Sadea.
Amilcar Gil de Melo

PS. Perdoem-me os viciados do termo doutor, repararam que em momento nenhum utilizei essa designação. Isso porque, tendo muito respeito pelo esforço do meu amigo, e sabendo ele, que muitas vezes utilizo esse termo no sentido irónico, as vezes até pejorativo; sem desprimor dos que realmente são, posto que em cada pedra que se chuta hoje encontramos os que eu designo de doutores micro-ondas ou doutores sem ciência, e que de doutos nada tem; não quis que, por equívoco ou analogia, melindrasse o meu amigo, pensando que o incluía nesse lote de embalagens vazias e nada atractivas.                              
*Wickpedia

**faltam aqui os outros dois, só que, são contas do outros rosários e em consequência não são para aqui desfiados.

sábado, 7 de março de 2015

Muvure, a árvore chuveiro




Na localidade ou povoado de Chimucono, localizado a mais ou menos vinte quilómetros de Dombe, na província de Manica, vi esta árvore que me cativou pela exuberância da sua copa, bem frondosa. Mal parei fui tirar umas fotografias. Um senhor, lá residente, comerciante e agricultor, conhecido nos meandros do amigos por “bóer”, mas cuja graça Vilaça, ficou intrigado pelo meu fascínio pela árvore, e em consequência prontificou-se de imediato em dar-me detalhes da mesma: nome local, Muvure, que significa sombra, cujas folhas dificilmente caem, porém quando acontece, numa altura própria, e começam a  folhear de novo, toda a copa se transforma num chuveiro natural, em que permanentemente pingos de agua vão caindo, e deixam o local debaixo da copa, húmido, e segundo o mesmo senhor, acontece no verão. Por outro lado, informou-me que há menos de um mês esteve uma equipe de biólogos estrangeiros no local estudando a árvore. Outro pormenor interessante, é que normalmente estas árvores nascem aos pares, um macho e uma fêmea, num intervalo entre elas não mais de 600 metros. E o fenómeno atrás referido apenas acontece com a fêmea.