por Lo-Chi
Primeiro comecei com apenas o meu nome artístico,
estampado numa coluna, cujo nome também estaria na gaveta do pouco comum, e
havia razão mais que suficiente da pergunta. Em face disso, entendi para não
ser um anónimo, no sentido de sem face, plasmei a minha fotografia, mesmo assim
subsiste a pergunta. Quem sou eu? Não poucas vezes me perguntaram, e eu sempre
me escusando. Porém, hoje, quiçá vendo a pergunta numa outra perspectiva,
propus-me uma resposta. E aí está.
Não me conheço ainda e penso que morrerei sem me
conhecer. As vezes, julgo que sou uma coisa, para logo a seguir compreender que
nada disso sou e que faço parte de qualquer coisa bem diferente. Umas vezes,
aceito-me tal e qual e...outras; não! Revolto-me, quero-me outro. E se olho
para atrás, não sei de facto o que fui. Como posso saber, se me vario tão
frequentemente e tão diferentemente.
Sei que fui de tudo: ladrão (e nunca roubei nada do
alheio, senão de mim próprio), vagabundo (nunca passeei pelas ruas, nem estive
andando, andando, sem destino...mas imaginei-me), poeta (nunca fiz poemas,
senão que escrevi versos que se pretendiam), libertador (de país nenhum, mas de
coisas múltiplas), construtor (e não peguei tijolo nenhum que fizesse parede),
preguiçoso (ah...isso fui de facto, bastas vezes), ignorante...sei lá, quantas
coisa mais?! Acima de tudo nada. Debaixo de tudo, alguém que se procura e acha
justo encontrar-se perdido, nesse eu deslimitado. Esse eu que faz a pessoa.
O que é uma pessoa? Se não; as acções no sentido de
satisfazer os seus gostos; a reacção perante os condicionalismos impostos; a
insurgência ante os ditados; o movimento com tendência a contornar os óbices da
vida; a maneira de reagir perante os factos do dia a dia, que nos vão fazendo o
que somos e o que temos vindo a ser. Eu talvez seja um surpreendido! Um surpreendido
perante esta vida enorme com toda sua enormidade. De vez em quando um
disfarçado, face a estes factos surpreendentes. Sempre quem sabe(?), um
des-integrado de toda esta complexidade atónita dela mesma.
Constitui sempre, um conjunto de emoções circunstanciais.
Sou uma espécie de progressão (aritmética ou geométrica pouco importa)
emocional, sem constante. Quando me sinto função, prefiro estar em função de
mim mesmo.
No fundo, bem no fundo, sou o princípio e o fim, o meio e
o objectivo. Sou o vento, sou a brisa, conforme as conveniências, minhas e
alheias. Muitas vezes até, a pedra da calçada, a alma inanimada; sou a razão e
a lógica, sou o nada fundido em desejo. Outras a sombra de um homem que não
existe. Sou enfim, a intrépida convulsão da minha mente.