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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aquele segundo fatal





No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@­gmail.com
por Lo-Chi




Aquele segundo fatal



Quem nunca teve aquele segundo fatal, no qual por qualquer hesitação pessoal ou por interposta pessoa, o que estava para ser um jackpot altamente acumulado, não aconteceu e a premiação foi para o ralo.

Já me aconteceu, ver uma imagem belíssima de uma criança, cuidando de outra criança com uma grande ternura e um afago expressivo e eu, no momento exacto, por qualquer motivo, não sei se mesmerizado, hesitei em tirar uma fotografia. Quando me decidi, o momento mágico e irreversível havia acontecido. Tenho a certeza que seria uma fotografia, se posta num concurso, premiada. Esse hesitar, deu-me uma sensação de perda indescritível.

Um dos grandes sonhos da minha vida foi, depois de, pela albufeira de Cahora Bassa, ter navegado, bem como ter estado no nosso encantador lago Niassa, em Metangula, aqui em duas consecutivas noites de luar, haver ficado com uma inebriante sensação de um banho diferente ter tomado, com tal intensidade, que jurei fazer umas férias com os meus filhos, nesses lugares paradsíacos, para deles poder sentir o retorno dessa maravilha que é este país. Porém, hesitei em decidir num ano crucial, e jamais se proporcionou a oportunidade por desencontros programáticos e outros factores que escaparam ao controlo.

Nos meus tempos áureos de meninice, na loucura gulosa de expressar, decorrente de momentos de fértil imaginação, tive um momento ímpar, em que uma excepcional imagem me ocorreu, e eu, não sei porque carga de burrice, deixei que o tempo escoasse, para depois sentar-me a secretária e tentar perpetuar a idéia. Debalde. Perdi, ou a emoção, ou a capacidade descritiva, ou decerto entrei num epipasmo, e lá sei foi a obra.

Eu que sempre procurei conhecer todos os cantos deste país e sendo um grande apreciador de rios e quedas de águas, sempre que não se proporcionou, inventei formas de chegar e conhecer os mesmos. De repente, tenho a raríssima  oportunidade de conhecer as quedas do Lúrio, e por uma razão de suposta prioridade e na hipótese de outra surgir, acabei não conhecendo, ficando com esse engulho, atravessado na garganta.

Descrevendo os meus momentos fatais, alicerçado nos tempos de hesitação, um amigo meu descreveu-me o seu segundo fatal, e sai-me com esta: nada disso é tão dramático, quanto a minha desdita. Andei eu, um rol de tempo, atrás de uma beldade, não me dá bola, vou persistindo, e de repente, num golpe de mágica inexplicável, estou a frente dela a quatros centímetros e vamo-nos aproximando lentamente, na eminência de nossos lábios se atracarem, zás, aparece um zanaga, de um canto imprevísvel, para perguntar por uma banalidade qualquer. Tão simples quanto isso, com um efeito tão arrasador, que pôs de lado definitivamente a minha máxima esperança de felicidade, posto que ensaiei, uma segunda oportunidade e nem pensar, perdi; o meu óscular de sonhos; a minha futura esposa. E ele perguntava-me, se eu conhecia esse segundo. Se conheço? Como conheço! O encontro eminente que vira desencontro definitivo. Que tétrico! Que dor! Por isso, hoje, prefiro errar por precipitação, na vez de hesitação.

sábado, 25 de agosto de 2012

Os vários conceitos de uma mesma coisa diferenciada



Pessoa, um animal racional ou ser que respira, pensa e comunica; individualidade. Igualmente com outros animais, segundo Hegel, este também tem necessidades naturais e desejos de objectos que lhe são exterior, como por exemplo, alimentos, abrigo e preservação do seu físico. Mas diferentemente daqueles, ele quer ser reconhecido como um ser humano, um ser humano com um certo valor. Anteriormente ao Hegel, já o Platão, falando da alma humana, compunha-a em três partes: a do desejo, a racional, e a do amor próprio. E é no amor próprio, que tem muito que se lhe diga. Enquanto o desejo move as pessoas a procurarem as coisas das quais tem atração, a razão dá-lhes a fórmula de as conseguir, diz o Platão. Todavia, para além de tudo, o ser humano procura o reconhecimento do seu valor, ou das pessoas e das coisas ou princípios a que atribui valor. O Platão, designou a esta parte da alma, de thymos.

População, um conjunto de pessoas de um país ou de um local específico, bem demarcado, indicador estatístico da geografia demográfica. É um elemento de mutação constante; o seu dado nunca é actual, e nunca ninguém saberá exactamente o número desta categoria geográfica, à exemplo de um relógio que cronometra os minutos precisos de um determinado fenómeno acontecendo. Mas contraditoriamente, população só é população, quantificada.

Povo  é um conceito abstrato, o mais abstracto dos abstratos, só existente no dicionário da geografia política, algumas vezes sofrendo algumas mutações, como por exemplo a designação de massas, outras de mão externa e não poucas vezes de reacionários, outras de vândalos e ou marginais.  Tem uma relação de ódio e amor, com o sujeito que o inventou e o tem no seu dicionário. O povo é soberano, é tapete, é instrumento, conforme ocasiões, gosto e circunstância. O povo nunca é sujeito, é objecto. Como elemento abstracto, não se compadece com números, porque povo pode ser um milhão, tanto quanto cem, até, ser eu próprio. A grande mentira informativa da actualidade é a suposta categoria, povo moçambicano, paquitanês, português e/ou argentino. O povo é um conceito exclusivo, e não inclusivo.E o povo gosta de ser povo, porque nem sequer sabe que é povo!

Público. É um sub-conjunto, não se sabe exactamente de quê. Se de povo, é promíscuo, porém, menos prostituido, talvez por isso, pouco ou quase ausente do dicionário político. Se de população, vira otário, enrolam-no para lhe tirarem o pouco do seu bolso, ou maltratarem-no. Neste parámetro, vira a categoria comercial. Assim, o mercado ou melhor o capital, um pouco a exemplo do político, vai-lhe estratificando em: infantil, umas vezes; informado, outras; alvo, quando para lhe atingirem, quer seja o atirador, cientista, artista, chapeiro ou banqueiro.

Cidadão! Este é o mais complicado, do qual, na verdade, o político que se preza, não gosta. Porque cidadão é um ser pensante, com convicções, conhece os seus direitos e luta por eles. Faz valer o conceito de pessoa, onde sabendo que tem desejos, e tem a razão, sabe utilizá-la, faz valer o seu amor próprio, que vezes muitas, choca com a tentativa de instrumentalização do político, por isso, não faz parte do povo. Sendo, nas alturas das eleições, onde as há, os políticos gostam do povo e não do cidadão. Cidadão tem memória, tem opinião formada, muitas vezes dispensa os comícios, onde se vendem inverdades. Cidadão sabe, quando, onde e como, e se deve ou não ir votar, porque tem opinião formada sobre os processos, e não lhe dão a volta ao texto, num mês de campanha. Ser cidadão é nada cómodo! Porém, quem vezes muitas leva o cidadão na sua música, é o capital, com as suas artes e artimanhas, usando e abusando dos seus desejos, manipulando o seu amor-próprio, o seu ego. A campanha que o subjuga é a publicitária. E com ela, acontece a alquimia; de cidadão transmuta cliente, que tem sempre razão!

Chegado a este ponto da razão, apetece-me mudar o título para: a arma de defesa que virou a bala de agressão! E hesito em: a arma do ataque substanciada bala da submissão!