No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
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por Lo-Chi
Aquele segundo fatal
Quem nunca teve aquele segundo fatal, no qual por qualquer hesitação pessoal ou por interposta pessoa, o que estava para ser um jackpot altamente acumulado, não aconteceu e a premiação foi para o ralo.
Já me aconteceu, ver uma imagem belíssima de uma criança, cuidando de outra criança com uma grande ternura e um afago expressivo e eu, no momento exacto, por qualquer motivo, não sei se mesmerizado, hesitei em tirar uma fotografia. Quando me decidi, o momento mágico e irreversível havia acontecido. Tenho a certeza que seria uma fotografia, se posta num concurso, premiada. Esse hesitar, deu-me uma sensação de perda indescritível.
Um dos grandes sonhos da minha vida foi, depois de, pela albufeira de Cahora Bassa, ter navegado, bem como ter estado no nosso encantador lago Niassa, em Metangula, aqui em duas consecutivas noites de luar, haver ficado com uma inebriante sensação de um banho diferente ter tomado, com tal intensidade, que jurei fazer umas férias com os meus filhos, nesses lugares paradsíacos, para deles poder sentir o retorno dessa maravilha que é este país. Porém, hesitei em decidir num ano crucial, e jamais se proporcionou a oportunidade por desencontros programáticos e outros factores que escaparam ao controlo.
Nos meus tempos áureos de meninice, na loucura gulosa de expressar, decorrente de momentos de fértil imaginação, tive um momento ímpar, em que uma excepcional imagem me ocorreu, e eu, não sei porque carga de burrice, deixei que o tempo escoasse, para depois sentar-me a secretária e tentar perpetuar a idéia. Debalde. Perdi, ou a emoção, ou a capacidade descritiva, ou decerto entrei num epipasmo, e lá sei foi a obra.
Eu que sempre procurei conhecer todos os cantos deste país e sendo um grande apreciador de rios e quedas de águas, sempre que não se proporcionou, inventei formas de chegar e conhecer os mesmos. De repente, tenho a raríssima oportunidade de conhecer as quedas do Lúrio, e por uma razão de suposta prioridade e na hipótese de outra surgir, acabei não conhecendo, ficando com esse engulho, atravessado na garganta.
Descrevendo os meus momentos fatais, alicerçado nos tempos de hesitação, um amigo meu descreveu-me o seu segundo fatal, e sai-me com esta: nada disso é tão dramático, quanto a minha desdita. Andei eu, um rol de tempo, atrás de uma beldade, não me dá bola, vou persistindo, e de repente, num golpe de mágica inexplicável, estou a frente dela a quatros centímetros e vamo-nos aproximando lentamente, na eminência de nossos lábios se atracarem, zás, aparece um zanaga, de um canto imprevísvel, para perguntar por uma banalidade qualquer. Tão simples quanto isso, com um efeito tão arrasador, que pôs de lado definitivamente a minha máxima esperança de felicidade, posto que ensaiei, uma segunda oportunidade e nem pensar, perdi; o meu óscular de sonhos; a minha futura esposa. E ele perguntava-me, se eu conhecia esse segundo. Se conheço? Como conheço! O encontro eminente que vira desencontro definitivo. Que tétrico! Que dor! Por isso, hoje, prefiro errar por precipitação, na vez de hesitação.