Por: Lo-Chi
Vem a propósito de um email que aparece pela quarta vez no meu endereço, cujo título neste momento ostenta a seguinte designação: “saudosa escola primária”. Isso muito a propósito da celeuma levantada, desde que a Dilma passou a presidente do Brasil, em que ela achou por bem, que se lhe deveria chamar presidenta e não presidente. E pelos vistos, a questão acabou tendo eco de aceitação na área feminina, no berço de Camões, com reacções dos defensores da imutabilidade, impossível, diga-se em abono da verdade, do português. Inspirado nesse email, que levanta a questão da regra, que orienta a formação das palavras da mesma estirpe, fiz o seguinte mapa:
Verbo | Participio activo pela regra | resultando | utiliza-se em Portugal | conferencia | situação |
atacar |
ataca®nte | atacante | atacante | sim | regra |
pedir | pedi®nte | pedinte | pedinte | sim | regra |
cantar | canta®nte | cantante | cantante | sim | regra |
existir | existi®nte | existente | existente | sim | regra |
mendicar | mendiga®nte | mendigante | mendigante | sim | regra |
ser | se®nte | sente | ente | não | excepção |
presidir | presidi®nte | presidinte | presidente | não | excepção |
arder | arde®nte | ardente | ardente | sim | regra |
estudar | estuda®nte | estudante | estudante | sim | regra |
adolescer | adolesce®nte | adolescente | adolescente | sim | regra |
? | pacie(r)nte | paciente | paciente | não | regra |
Denota-se
afinal que os argumentos da lógica, acaba perdendo-se na própria ilógica. As perguntas advindas do mapa ilustrante são
as seguintes: Porquê que é ente e não sente? Porque presidente e não presidinte?
Haverá, e porque não o verbo pacier? E essa ilógica no caso, chamam-lhe excepção.
Se a língua é de todos, quem determina a excepção? Quem lhe conferiu esse
poder? Porque que eu, não digo como pessoa, mas como país, neste contexto dos
países lusófonos, não posso estabelecer outras que melhor me sirvam em função
de vários outros factores e realidades determinantes, que são diferentes de país
para país?
Vamos
ver a capacidade de Portugal efectivamente influenciar as regras do português
na globalidade dos países falantes do português. Do meu ponto de vista é mínima,
determinada pelos seguintes factores:
1-
Poderio económico. Segundo o filósofo
economista Karl Marx, que disse com toda propriedade comprovada, o económico é
determinante. E neste momento quem está em condições de falar alto é o Brasil,
de tal modo que, já reflecte-se incluso, na presente celeuma.
2-
População. Nesta sociedade global,
altamente digitalizada, a Microsoft, por exemplo, dará uma resposta muito mais
rápida e efectiva ao Brasil, nos seus programas, que qualquer um outro da
lusofonia. Primeiro pelo seu crescimento económico e capacidade negocial e segundo,
pela representação do potencial mercado: 250 milhões de potenciais clientes.
3-
Capacidade de influenciar- O Brasil, só com
as novelas, factor de uma grande capacidade de influenciar, vai impondo o seu
linguajar e não apenas; mesmo sem coação, a todos sem excepção, no perímetro da
lusofonia e não só. Realidade actual.
Afora esses pontos, nesta vã e inglória batalha, dos que a vestiram,
esqueceram-se da motivação dessa tomada de posição: a emancipação da mulher. A
luta esta renhida. E as mulheres com todos instrumentos disponíveis, estão-se
a impor, incluindo nos signos da
linguagem. Essa é uma vontade férrea de se demarcarem da subordinação aos
homens e é nesse ângulo que tem que ser apreendido esse fenómeno. Porventura se
os homens se sentirem com força suficiente, que digam, sendo a profissão de
motorista suficientemente de macho, que a partir de hoje não se chama
motorista, mas sim motoristo. Porque garanto;
as árbitros amanhã vão reclamar o termo árbitra, não tenho dúvidas, e vão-se
impor, ainda que vos soe mal.
____
Aqui entre nós, as regras são feitas pelos homens, e como tal em função
das mudanças de circunstâncias são passíveis de se alterar. Sei, que se vai
dizer que as instituições devidas, no caso academias apropriadas é que devem
fazer. Mas notem dois aspectos que não devem ser descurados. Um, a Dilma só fez, quando ela própria passou a ser (representar) uma instituição. Dois, nesta
fase de maior democratização dos actos sociais e a sociedade respeitante, acabou-se
a chamada exclusividade de tais instituições especializadas, de serem elas a
determinar. E notem que os jovens já estão a revolucionar a linguagem escrita a
margem de todos os especialistas e academias. Vejam as redes sociais.