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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Purismo da linguagem


Por: Lo-Chi


Vem a propósito de um email que aparece pela quarta vez no meu endereço, cujo título neste momento ostenta a seguinte designação: “saudosa escola primária”. Isso muito a propósito da celeuma levantada, desde que a Dilma passou a presidente do Brasil, em que ela achou por bem, que se lhe deveria chamar presidenta e não presidente. E pelos vistos, a questão acabou tendo eco de aceitação na área feminina, no berço de Camões, com reacções dos defensores da imutabilidade, impossível, diga-se em abono da verdade, do português. Inspirado nesse email, que levanta a questão da regra, que orienta a formação das palavras da mesma estirpe, fiz o seguinte mapa:


Verbo Participio activo pela regra resultando utiliza-se em Portugal conferencia situação

atacar
ataca®nte atacante atacante sim regra
pedir pedi®nte pedinte pedinte sim regra
cantar canta®nte cantante cantante sim regra
existir existi®nte existente existente sim regra
mendicar mendiga®nte mendigante mendigante sim regra
ser se®nte sente ente não excepção
presidir presidi®nte presidinte presidente não excepção
arder arde®nte ardente ardente sim regra
estudar estuda®nte estudante estudante sim regra
adolescer adolesce®nte adolescente adolescente sim regra
? pacie(r)nte paciente paciente não regra

Denota-se afinal que os argumentos da lógica, acaba perdendo-se na própria ilógica.  As perguntas advindas do mapa ilustrante são as seguintes: Porquê que é ente e não sente? Porque presidente e não presidinte? Haverá, e porque não o verbo pacier? E essa ilógica no caso, chamam-lhe excepção. Se a língua é de todos, quem determina a excepção? Quem lhe conferiu esse poder? Porque que eu, não digo como pessoa, mas como país, neste contexto dos países lusófonos, não posso estabelecer outras que melhor me sirvam em função de vários outros factores e realidades determinantes, que são diferentes de país para país?

Vamos ver a capacidade de Portugal efectivamente influenciar as regras do português na globalidade dos países falantes do português. Do meu ponto de vista é mínima, determinada pelos seguintes factores:

1-     Poderio económico. Segundo o filósofo economista Karl Marx, que disse com toda propriedade comprovada, o económico é determinante. E neste momento quem está em condições de falar alto é o Brasil, de tal modo que, já reflecte-se incluso, na presente celeuma.
2-    População. Nesta sociedade global, altamente digitalizada, a Microsoft, por exemplo, dará uma resposta muito mais rápida e efectiva ao Brasil, nos seus programas, que qualquer um outro da lusofonia. Primeiro pelo seu crescimento económico e capacidade negocial e segundo, pela representação do potencial mercado: 250 milhões de potenciais clientes.
3-    Capacidade de influenciar- O Brasil, só com as novelas, factor de uma grande capacidade de influenciar, vai impondo o seu linguajar e não apenas; mesmo sem coação, a todos sem excepção, no perímetro da lusofonia e não só. Realidade actual.

Afora esses pontos, nesta vã e inglória batalha, dos que a vestiram, esqueceram-se da motivação dessa tomada de posição: a emancipação da mulher. A luta esta renhida. E as mulheres com todos instrumentos disponíveis, estão-se a  impor, incluindo nos signos da linguagem. Essa é uma vontade férrea de se demarcarem da subordinação aos homens e é nesse ângulo que tem que ser apreendido esse fenómeno. Porventura se os homens se sentirem com força suficiente, que digam, sendo a profissão de motorista suficientemente de macho, que a partir de hoje não se chama motorista, mas sim motoristo. Porque garanto;  as árbitros amanhã vão reclamar o termo árbitra, não tenho dúvidas, e vão-se impor, ainda que vos soe mal.  

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Aqui entre nós, as regras são feitas pelos homens, e como tal em função das mudanças de circunstâncias são passíveis de se alterar. Sei, que se vai dizer que as instituições devidas, no caso academias apropriadas é que devem fazer. Mas notem dois aspectos que não devem ser descurados. Um, a Dilma só fez, quando ela própria passou a ser (representar) uma instituição. Dois, nesta fase de maior democratização dos actos sociais e a sociedade respeitante, acabou-se a chamada exclusividade de tais instituições especializadas, de serem elas a determinar. E notem que os jovens já estão a revolucionar a linguagem escrita a margem de todos os especialistas e academias. Vejam as redes sociais.